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Comportamento

Vale a pena investir nos vinhos de Bordeaux?

Os interessados pagam 50% do valor ao reservar as garrafas, e o restante ao recebê-las, 2 anos depois. Entenda

Vale a pena investir nos vinhos de Bordeaux?
Vinícola Château Lafite Rothschild (Foto: Fancois Poincet)
  • O “en primeur” nasceu em Bordeaux, como uma forma de comercializar os vinhos locais
  • Na primavera seguinte à cada safra, os vinhos são colocados a venda pelos négociants, como são chamados os comerciantes que têm contrato com os châteaux. Com um detalhe: neste momento de venda, estes vinhos ainda não estão prontos
  • É preciso esperar mais dois anos, para que termine o seu amadurecimento. Os interessados pagam 50% do valor neste “en primeur”, quando reservam suas garrafas

(Suzana Barelli, especiali para o E-Investidor) – A importadora World Wine lança em agosto a sua lista de vinhos “en primeur”, com 108 mil garrafas de Bordeaux da safra de 2020. Depois de sete anos sem comercializar vinhos por este sistema peculiar de venda, a importadora voltou ao “en primeur” em 2020, quando trouxe 50 mil garrafas bordalesas da safra de 2019 para o Brasil, e não tem dúvidas de que se trata de um bom investimento para os clientes e também para a própria importadora.

“Os rótulos de Bordeaux, assim como os demais grandes vinhos, estão se tornando um negócio importante pelo interesse dos nossos clientes”, afirma Juliana La Pastina, presidente do grupo La Pastina, que inclui a importadora World Wine.

O “en primeur” nasceu em Bordeaux, como uma forma de comercializar os vinhos locais. Na primavera seguinte à cada safra, os vinhos são colocados a venda pelos négociants, como são chamados os comerciantes que têm contrato com os châteaux. Com um detalhe: neste momento de venda, estes vinhos ainda não estão prontos.

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É preciso esperar mais dois anos, para que termine o seu amadurecimento em barricas de carvalho e depois o seu estágio em garrafas, quando então o vinho está pronto para sair do château. Mesmo assim, os interessados pagam 50% do valor neste “en primeur”, quando reservam suas garrafas, e o restante ao recebê-las, cerca de dois anos depois.

Foi o atípico ano de 2020 que trouxe a World Wine de volta ao “en primeur”. Com a pandemia, os críticos internacionais não puderam ir à Bordeaux no ano passado provar os vinhos que estavam em barricas, como acontece no início de toda primavera no Hemisfério Norte.

Nas últimas décadas, as altas pontuações dos críticos vêm impulsionando esses preços. Resultado, sem as notas dos especialistas, em 2020, os vinhos foram precificados 21% abaixo do ano anterior, segundo relatório da inglesa Liv-ex, um grande marketplace do mercado de vinho. “Os valores caíram também por um temor de que, com a pandemia, não haveria demanda para estes vinhos”, lembra Juliana La Pastina.

Nesta safra, a apresentação dos vinhos “en primeur” ainda não voltou ao normal. Poucos críticos conseguiram provar os vinhos e, para sorte dos produtores, gostaram do que beberam.

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O resultado é que os preços foram subindo semana a semana da campanha de “en primeur”. Os primeiros châteaux, que divulgaram os seus preços no início de junho, quase não reajustaram a tabela em relação aos vinhos de 2019. Mas aqueles que lançaram seus vinhos na penúltima semana de junho aumentaram os preços em 16%, em média, segundo a Liv-ex. E os vinhos apresentados na última semana do mês passado trouxeram uma alta de 29,5% em relação ao ano anterior.

O “en primeur” é sempre um bom investimento, diz o português Claudio Martins

Outra característica deste “en primeur” é que três dos premier grand cru classé, a classificação máxima dos vinhos de Bordeaux, os châteaux Haut-Brion, Margaux e Mouton Rothschild, lançaram seus vinhos pelo mesmo preço: 432 euros a garrafa “en primeur”.

No caso do Haut-Brion e do Mouton Rothschild, isso representou uma alta de 53,2%; no Margaux, que estava com um preço mais alto em 2019, de 30,9%, segundo a Liv-ex. O Château Lafite Rothshild, outro premier grand cru, reajustou seu vinho em 19,9% nesta safra, e o lançou por 475 euros a garrafa.

Os chamados super segundos, que são vinhos de muita qualidade, mas que são classificados de deuxième (segundo) também tiveram aumentos significativos. O Léoville Las Cases, por exemplo, teve um reajuste de 43,5%, chegando a 198 euros a garrafa; enquanto o Ducru Beaucaillou subiu 40,4%, com o valor de 160 euros a garrafa.

“Os preços surpreenderam no final da campanha do “en primeur”, principalmente os de alguns super segundos”, afirma Aarash Ghatineh, diretor-executivo da inglesa Cult Wines, especializada em investimento em vinhos e que tem brasileiros como clientes. A empresa avalia que os vinhos de 2020 tem muito boa qualidade e a compara com as safras de 2015, 2016 e 2018.

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Mas Ghatineh conta que, mesmo com estas altas inesperadas, há vários vinhos com preços “en primeur” abaixo dos 50 euros a garrafa, que oferecem boa relação entre preço e qualidade. Como exemplos, ele cita châteaux como Laroque; La Gaffeliere e Berliquet.

“O “en primeur” é sempre um bom investimento”, afirma o português Claudio Martins, que representa a empresa Oeno de investimento em vinhos em Portugal e também o ícone bordalês Liber Patter. Primeiro porque muitos dos vinhos que os châteaux lançam “en primeur” podem não estar disponíveis quando chegam ao mercado dois anos depois – aqui vale lembrar que 2020 foi uma das três menores safras desta década, junto como 2013 e 2017 – ou podem estar com preços muito caros.

A aposta de Martins é que os preços da safra de 2020 vão disparar quando estes vinhos chegarem ao mercado. “Não me surpreenderei com uma alta de 20 a 25%”, diz ele. Sua análise é que a pandemia está ensinando os consumidores a provarem estas garrafas em casa, e não nos restaurantes, como faziam antigamente, e quando pagavam mais caros por estes vinhos.

Aqui no Brasil, Juliana La Pastina pretende deixar a campanha “en primeur” aberta de agosto até novembro (em 2020, a oferta valeu entre agosto a setembro). Neste ano, a importadora priorizou os vinhos de denominação de Saint-Émilion, com 23 mil garrafas; comprou todos os grand vins de margem direita de Bordeaux, inclusive Petrus, Le Pin e o Château Ausone. Da margem esquerda, vieram os châteaux Lafite Rothschild, Haut-Brion, La Misson Haut-Brion, Margaux e Mouton Rothschild.

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Os preços ainda não estão definidos, mas Juliana não teme uma eventual baixa procura pelos vinhos, pela desvalorização do real frente ao dólar. Neste caso, as garrafas serão mantidas nos estoques climatizados da empresa. Como são vinhos que se valorizam com os anos de guarda, tradicionalmente, a World Wine tem um estoque de Bordeaux equivalente a oito a dez anos de suas vendas. No entanto, a demanda crescente pelos vinhos mais caros com a pandemia fez este estoque cair para um ano de venda. “O que pode impactar é os nossos clientes voltarem a viajar, com o fim da pandemia, e passarem a comprar estes vinhos no exterior”, diz Juliana.

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