- Só neste ano, já calcula-se movimentação de R$ 258 bilhões entre as operações anunciadas e concluídas de janeiro a junho, um crescimento de 48% em relação ao primeiro semestre do ano passado
- “Empresas mais robustas acabam sendo consolidadoras das menores que não conseguem superar as dificuldades da realidade econômica”, avalia especialista
- O Banco BTG Pactual é o campeão de aquisições entre instituições financeiras. Foram 25, calculadas em R$ 90,4 milhões. Em segundo lugar vem o Itaú BBA, com 15 operações com valor de R$ 61, 9 milhões
O mercado de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês) nas empresas brasileiras está aquecido. Em 2020, foram movimentados R$ 229 bilhões. Só neste ano, já calcula-se movimentação de R$ 258 bilhões entre as operações anunciadas e concluídas de janeiro a junho, um crescimento de 48% em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Leia também
Segundo a plataforma Transactional Track Record (TTRecord), que divulgou os números, o setor mais ativo é o de tecnologia, com crescimento de 98% em relação aos seis primeiros meses de 2020, totalizando 363 transações. Finanças e seguros ocupam o segundo lugar, com 170.
No segundo trimestre, os maiores valores de M&A ficaram com as concessões de blocos da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) para diferentes empresas, entre elas, Itaúsa (ITSA4), Aegea (AEGP23), Gic Brazil e Grupo Equipav. Em seguida, aparece a aquisição da Cia Hering pelo Grupo Soma, anunciada em abril.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
O Banco BTG Pactual é o campeão de aquisições entre instituições financeiras. Foram 25, calculadas em R$ 90,4 milhões. Em segundo lugar vem o Itaú BBA, com 15 operações com valor de R$ 61, 9 milhões.
Em relação aos fundos estrangeiros de Private Equity e Venture Capital que investem em empresas brasileiras, houve um aumento de 41% no primeiro semestre de 2021, segundo o relatório.
A intensa movimentação no semestre pode ser justificada pelo aumento de liquidez das empresas durante a pandemia, resultado da queda de juros e maior capitalização. Além disso, a onda de fusões e aquisições é “natural” em momentos de crise, como afirma o head de research da Ágora Investimentos, José Cataldo. “Empresas mais robustas acabam sendo consolidadoras das menores que não conseguem superar as dificuldades da realidade econômica”, avalia.
A própria Bolsa brasileira, a B3, coloca a facilitação de M&A como um dos principais benefícios da abertura de capital. “Após a abertura de capital, a empresa passa a ter um referencial de avaliação do negócio, sendo uma indicação do seu valor, o que facilita processos de fusões e aquisições”, diz o documento institucional Guia de IPO.
Publicidade
Cataldo reforça que a capitalização impulsiona uma “ida às compras” das empresas. Entretanto, para a autorização acontecer, é necessário que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprecie e confirme. Segundo o Conselho, 2020 foi ano de recorde, com 454 solicitações. Do total, 95% foram aprovadas sem restrição e 1,5% foi aprovada com acordos. O restante foi barrado pelo órgão.
Motivações de M&A
Absorver novas habilidades, diversificar geograficamente e ganhar capital são as principais razões para as compras segundo Renato Stuart, sócio-fundador da RGS Partners. Os três fatores fazem parte de estratégias para ampliação da exposição. “Quando acontece uma compra na área de tecnologia, certamente o que a compradora pensa é que a nova aquisição possui ferramentas mais eficientes para trabalhar dados e refletir do desempenho”, explica.
Stuart destaca que isso ocorre especialmente entre players de e-commerce e educação.Um exemplo recente é a compra da plataforma de varejo digital voltada a games KaBuM!, adquirida pelo Magazine Luiza (MGLU3) no valor de R$ 3,8 bilhões em dinheiro e ações.
Como exemplo de M&A com o objetivo de abranger o alcance geográfico, o sócio da RGS destaca os negócios do setor de saúde. “ A fusão entre NotreDame (GNDI3) e Hapvida (HAPV3) é um exemplo. Enquanto a primeira atua mais no Sul e Sudeste, a segunda ocupa maior espaço no mercado do Norte e Nordeste”, aponta.
Expectativas
“Marketplaces, desenvolvedores de software e empresas de logística serão setores chave que permanecerão atraindo a atenção de investidores estrangeiros”, afirma Sergio Bronstein, sócio-fundador da Bronstein Zilberberg Advogados.
Para os especialistas, as operações devem continuar até o meio de 2022. Porém, com a aproximação das eleições presidenciais, o movimento pode diminuir. “O que as empresas devem fazer é trabalhar com cenários. Não importa se o partido A ou B ganhe a eleição, é preciso ter um plano para cada uma das situações”, avalia Stuart. Ele complementa que é possível que algumas empresas aguardem a maior estabilidade política no País para fazer novas compras.
Publicidade
Para o head de research da Ágora, o cenário de eleição só deve ter peso a partir do terceiro trimestre de 2021. “Estratégia de cada empresa e disponibilidade de caixa são os fatores de maior impacto”, explica Cataldo.