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Selic a 5,25%: Pós-fixado é melhor para o investidor, diz Fabio Gallo

O Copom elevou a taxa Selic de 4,25% para 5,25% nesta quarta-feira (4)

Selic a 5,25%: Pós-fixado é melhor para o investidor, diz Fabio Gallo
O economista Fábio Gallo, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV Eaesp) e colunista do Estadão (Foto: LEONARDO SOARES/AE)
  • O professor e colunista do Estadão, explica que o aumento da taxa funciona como uma estratégia do Banco Central para enfrentar o aumento da inflação, causada por alterações de demanda e oferta
  • Segundo ele, assim como o número de investidores na Bolsa cresceu desde o ano passado, os investidores em renda fixa também aumentaram, o que deve se acentuar com a maior rentabilidade influenciada pela Selic a 5,25
  • 'Vale ressaltar que o número de 7% projetado para o fim do ano ainda é considerado normal para os parâmetros históricos na política monetária no País, que registrou números de dois dígitos por muito tempo', afirma Gallo

Nesta quarta-feira (4), o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou o aumento da taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual. O indicador passa de 4,25% para 5,25%.

A taxa é utilizada como referência para cobrança de crédito e para retorno de investimentos.  O economista Fabio Gallo, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV Eaesp) e colunista do Estadão, reforça que o aumento da taxa funciona como uma estratégia do Banco Central para enfrentar o aumento da inflação, causada por alterações de demanda e oferta.

“Apesar de a inflação ainda estar maior, os juros reais caminham para um retorno positivo”, diz Gallo.

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Segundo ele, assim como o número de CPFs na Bolsa cresceu desde o ano passado, os investidores em renda fixa também cresceram, o que deve acentuar com a maior rentabilidade influenciada pela Selic a 5,25% e, possivelmente, a 7%, como projetado para o final de 2021.

Entretanto, os retornos reais ainda estão negativos por conta da inflação. Segundo o IBGE, o acumulado da inflação nos últimos doze meses é de 8,3%, valor do IPCA. 

Confira os principais trechos da entrevista:

E-Investidor – O que a alta da Selic para 5,25% sinaliza para o mercado?

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Fabio Gallo – O mercado vê com bons olhos porque percebe que o Banco Central está atento à inflação, que funciona como a meta que o BC deve perseguir. Por enquanto, é evidente que a inflação está fugindo do teto. Mas, quanto ao aumento da taxa de juros, o mercado avalia como uma decisão correta.

E-Investidor – Onde estão as melhores oportunidades de investimentos com o atual patamar da Selic?

Gallo – De forma geral, todos os ativos dentro da renda fixa remuneram abaixo da inflação. Quando falamos de taxas reais de juros, ou seja, o ganho líquido, ainda está negativo. Para o investidor ganhar dinheiro, os títulos públicos pós-fixados, como o Tesouro IPCA+, de preferência de longo prazo, podem ser a melhor opção, mesmo que tenham baixa liquidez. Esses ativos estão cobertos pela inflação, resultando em uma taxa de juros real positiva.

E-Investidor – A taxa estacionou a 2% ao ano por cerca de seis meses, até o início deste ano, mas a projeção é fechar o ano a 7%. O que motiva essa movimentação?

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Gallo – A taxa básica de juros de 2% já vinha há algum tempo mais baixa por influência do contexto político nacional. No momento de pandemia e lockdown, esse número foi mantido baixo. Porém, essa situação não se sustentou este ano por conta da inflação, cenário que pode acontecer por demanda ou oferta.

Se tiver muito dinheiro líquido na Economia, por exemplo, as pessoas gastam mais, o que causa possível baixa disponibilidade de algum item, causando o aumento dos preços de produtos. Essa alta também pode acontecer com sazonalidades, por exemplo a estiagem, ou ainda ameaças climáticas afetam a produção de determinados artigos.

E-Investidor – Então com essa escalada dos juros, a renda fixa fica mais atrativa agora?

Gallo – Sim, principalmente se a taxa de juros estiver superior à inflação. Mas isso só deve acontecer efetivamente no ano que vem. Este ano já sabemos que não vamos conseguir. Vale ressaltar que o número de 7%, projetado para o fim deste ano, ainda é considerado normal para os parâmetros históricos na política monetária no País, que registrou números de dois dígitos por muito tempo.

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O movimento de crise econômica elevou o número de pessoas para a Bolsa de Valores, mas fez o número de investidores no Tesouro crescer também. Com o aumento da taxa de juros, é possível que o número continue avançando.

Em junho do ano passado, eram 7,4 milhões de investidores cadastrados no Tesouro Direto. Já em julho deste ano, o número aumentou para 11,4 milhões.

Leia também: Inflação alta faz investidores voltarem ao Tesouro Direto em 2021

E-Investidor – Como montar uma carteira equilibrada no atual cenário?

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Gallo – Equilibrar significa diversificar com renda fixa e renda variável. O investidor pode buscar investimentos no longo prazo e títulos indexados à inflação. Na renda variável, buscar títulos que sejam mais protegidos com esse cenário como, os setores bancário e de comércio eletrônico, por exemplo. Uma outra busca comum entre os investidores são as aplicações em ações de empresas que pagam bons dividendos.

De forma geral, não há uma regra ou porcentagem específica para um lado ou para o outro. Depende muito da renda, do volume de valor já investido e das necessidades de cada investidor. Sugiro estipular objetivos de curto, médio e longo prazos para ‘casar’ aplicações para cada uma das situações. No curto prazo, cabe melhor a renda fixa e, no longo prazo, pode tomar um pouco mais de risco.

E-Investidor – Como as empresas na Bolsa ganham com a movimentação da taxa de juros?

O volume acumulado na Bolsa e na renda fixa ficou maior, ou seja, menos capital ficou disponível para transações. Com taxas de juros mais baixas, as empresas poderiam ser favorecidas para solicitar crédito. Porém, como a pandemia ficou mais forte, as companhias foram prejudicadas.

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Com as expectativas de retomada com a imunização, já é possível ver um movimento positivo para diversas empresas. Apesar da renda fixa mais atrativa, ainda existem muitos investidores dispostos a correr os riscos na compra de ações da Bolsa. Como vimos um aumento de investidores nos últimos vezes, o crescimento deve continuar acontecendo.

Empresas ligadas ao setor elétrico e ao mercado agrícola podem ser mais afetadas com a inflação causada por crises ambientais, como o baixo nível de reservatório das hidrelétricas. É preciso ter atenção e acompanhar essas áreas.

E-Investidor – Qual segmento sente mais com a alta da inflação?

Gallo – Todos os setores perdem com inflação no mercado. Você pode citar alguns setores pontuais que não tenham muito impacto, mas a economia perde como um todo. Particularmente, quando vem a inflação e é necessário começar a subir muito os juros, a renda variável sente ainda mais.

E-Investidor – Como as mudanças na Selic afetam os investimentos?

Gallo – Podemos dizer que ela não influencia diretamente o mercado de capitais. Mas, se a taxa básica estiver mais alta que o rendimento das ações, é natural que os investidores olhem mais para títulos públicos, deixando as ações em segundo plano.

Embora ela não aja diretamente, ela é a base para o cálculo de rentabilidade sobre investimentos.

Já com a renda fixa, ela tem relação de forma clara e direta. Os títulos do Tesouro Nacional acompanham a Selic, que funciona como referência para tomada de dinheiro para financiar o governo. A renda fixa é empréstimo. Eu cedo dinheiro e recebo de volta o principal e os juros.

Quando a Selic sobe, esse processo fica mais vantajoso, sobretudo por ter menos risco do que as ações. É dessa forma que os ativos de renda variável podem ser negativamente afetados. Assim como, caso a taxa esteja mais baixa, o investidor pode apostar em ativos com retorno maior nos investimentos de renda variável.

E-Investidor – Desde o ano passado é possível observar um impulso no número de investidores na renda variável. Esse movimento tem relação com a Selic baixa? 

Gallo – Na pandemia, vivemos um processo inflacionário porque alguns produtos, seja por questões sazonais ou porque começaram a ser mais demandados, ficaram mais caros. O que a pandemia também trouxe foi o aumento da poupança. As pessoas mudaram hábitos de consumo, deixando de gastar com facilidade.

O movimento na Bolsa não foi apenas por conta da pandemia, mas pela taxa de juros baixa e uma economia mais desregulada. Com a pandemia do coronavírus, as pessoas, de forma geral, passaram a poupar mais e direcionar essas economias tanto para renda fixa, como para renda variável.

E-Investidor – É possível projetar um cenário para o ano que vem?

Gallo – Para o Banco Central chegar ao número da meta da Selic, é preciso avaliar diversos fatores que giram em torno da economia. Câmbio, consumo, inflação, crescimento, todas essas variáveis são consideradas. O que vem pela frente não é possível dizer com clareza, mas a expectativa é de uma inflação mais controlada, o que quer dizer, o IPCA por volta de 3,81%, diferentes dos atuais 8,3%.

Entretanto, existem ameaças internas e externas que pode mudar as projeções. Além de acompanhar um possível aumento de preço mais expressivo por conta da crise hídrica e outras influências climáticas, a variante Delta do coronavírus também segue no radar de avaliação das políticas monetárias.

Outra ameaça interna é a ausência de reformas administrativas na legislação e a incerteza quanto ao cenário das eleições presidenciais de 2022, o que pode colocar as projeções do Banco Central em risco.

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