- O E-Investidor conversou com sete especialistas para detalhar dicas para quem deseja organizar os gastos, traçar metas, economizar e começar a investir com qualidade e diversificação
- Antes de começar a tomar decisões mais arriscadas, é necessário adquirir conhecimento com profissionais e empresas qualificadas. Dessa forma, a educação financeira é sempre o passo inicial, de acordo com todos os especialistas consultados
Nesta terça-feira, 7 de setembro, é celebrado os 199 anos da proclamação da independência do Brasil. Enquanto muitos brasileiros aproveitam o feriado em atividades de lazer ou com afazeres, a oportunidade pode ser a chance de organizar alguns objetivos e as finanças pessoais.
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Com o intuito de direcionar o planejamento financeiro para chegar à independência financeira, o E-Investidor conversou com especialistas para detalhar sete dicas direcionadas para quem deseja organizar os gastos, traçar metas, economizar e começar a investir com qualidade e diversificação.
Vale ressaltar que antes de começar a tomar decisões mais arriscadas, é necessário adquirir conhecimento com profissionais e empresas qualificadas. Dessa forma, a educação financeira é sempre o passo inicial dessa trajetória.
1. Organização do planejamento financeiro
O pontapé inicial começa com o planejamento. Seja com um caderninho de anotações das transações, uma tabela no excel ou em um aplicativo, a organização é fundamental para visualizar os ganhos, os gastos e o saldo.
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Segundo Fernanda De Rousset, sócia da B.Side Investimentos, escritório atrelado ao BTG Pactual, o fundamento do planejamento financeiro é que o resultado do total dos gastos, somado às economias para alcançar os objetivos, seja menor do que a renda mensal.
“Não é necessário ter um super aplicativo, mas é de suma importância que todos os gastos sejam mapeados. É comum ver pessoas que não sabem o total da renda mensal. Quando esse valor é desconhecido, automaticamente não há limite para os gastos”, afirma.
De acordo com a representante da B.Side, um dos maiores empecilhos é justamente a pouca educação financeira do brasileiro. “O uso do dinheiro, o funcionamento do sistema financeiro deveria ser apresentado desde a infância nas escolas. A escassez desse conteúdo faz com que a questão cultural influencie a imaturidade do planejamento financeiro dos brasileiros”, diz.
A falta de conhecimento e a tendência de ter resultados com pressa faz com que a impaciência seja outra dificuldade para ter as finanças pessoais organizadas. De Rousset também aponta um dos maiores vilões quando o assunto é falta de planejamento: o cartão de crédito.
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“As pessoas vivem no padrão de vida acima do que realmente têm por conta do cartão de crédito. Ele pode ser um bom aliado, se bem usado, mas definitivamente, ele não é a multiplicação do seu salário”, alerta.
2. Orçamento sob controle
Depois de organizar, é importante controlar os gastos para que o orçamento não saia do controle. Para isso, Rogério Nakata, planejador financeiro CFP pela Planejar, sugere que cada um conheça o seu orçamento visualmente e não apenas a “contabilidade mental”.
Segundo o planejador, é comum que as pessoas façam suposições dos gastos e receitas sem concretizar em uma ferramenta, entretanto, esse método é falho. “Para que seja efetivo, a pessoa precisa fazer um orçamento estimado, sem se ater muito a detalhes. Depois, com os gastos e receitas efetuados, ela deve anotar e fazer a comparação”, explica.
Para Nakata, esse primeiro exercício de comparação serve para dar um ponto de referência importante. Observando a estimativa e o orçamento real, o indivíduo consegue concretizar cortes para economizar ou direcionar melhor a renda.
“Caso a pessoa tenha mais dificuldade em fazer o orçamento, pode contar com ajuda de algum profissional certificado e de confiança, mas já existem diversos aplicativos de smartphones como Guia Bolso, Mobills, Vista, Meu Dinheiro e tantos outros que oferecem esses serviços de forma fácil”, afirma.
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Com os números na mão, é possível reavaliar os gastos e mudar escolhas. “No orçamento, é preciso avaliar uma série de fatores. Não é deixar de fazer algo, mas é diminuir a frequência de atividades que possam pesar no orçamento”, destaca Nakata.
Algumas estratégias para fazer cortes é tentar negociar planos de assinatura de TV e planos de celular, além de ter atenção com tarifas de manutenção de contas bancárias, por exemplo. “Além disso, com o aumento dos preços, é preciso ter cuidado para a economia na rotina da casa, principalmente com energia elétrica”, explica.
Ele sugere que outro ponto para ter atenção no orçamento é o valor do aluguel, que está crescendo por conta do IGP-M. “Se você for um bom inquilino, pode tentar negociar a mensalidade, o que pode fazer total diferença no final do mês. Além disso, com o planejamento anual, é possível economizar também no pagamento da escola dos filhos”, sugere.
Com o intuito de efetivar a independência financeira, desde que o orçamento esteja ajustado e com um mínimo de economia no final do mês, o passo do investimentos deve ser como uma “conta para pagar todos os meses”, é o que o planejador aconselha. Segundo ele, a partir de R$ 40, já é possível fazer investimentos seguros com a sobra da renda.
3. Objetivos de curto, médio e longo prazos
Antes de fazer qualquer investimento, é necessário traçar objetivos. Juntar dinheiro para quando surgir a necessidade de comprar um eletrodoméstico novo porque o antigo quebrou, por exemplo, é diferente de economizar pensando em comprar um carro, assim como não é o mesmo caso de separar uma verba para a aposentadoria.
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De acordo com Sarai Molina, especialista em educação financeira da Ágora Investimentos, as metas que cada pessoa tomar vão definir os prazos para as alocações de recursos. Além dos objetivos, a avaliação do perfil entre as categorias conservador, moderado e arrojado ou agressivo.
Enquanto os objetivos guiam o tempo de alocação, essa de risco é o que vai nortear as escolhas dos ativos.
Para Molina, o curto prazo pode ser definido em um período de até dois anos, enquanto o médio vai de dois a sete e o longo prazo pode ser até a aposentadoria. Entretanto, ela aponta que a definição dos períodos depende de cada indivíduo. “Educação financeira não é necessariamente matemática, é autoconhecimento”, afirma.
4. Reserva de emergência
“É a tranquilidade de dormir sabendo que se você tiver um imprevisto não precisa ter preocupação”: essa é a definição de Larissa Quaresma, analista Empiricus, sobre a reserva de emergência. Ela ressalta que esse colchão precisa representar a cobertura de todos os gastos de seis meses, ou seja, cada pessoa deve multiplicar seus gastos mensais por seis.
Segundo Quaresma, a reserva deve ser aplicada em ativos com segurança e liquidez diária, de forma que seja possível resgatar as aplicações e transformar em dinheiro no mesmo dia. “A recomendação para a aplicação é no Tesouro Nacional, mais especificamente o Selic, que é o ativo mais seguro atualmente”, aponta.
Com a reserva de emergência em segurança, é possível usar outras economias para abrir mão da liquidez em busca de um pouco mais de rentabilidade.
5. Começando a investir
Luis Politi, diretor responsável pela Consulenza Investimentos, destaca que o início das aplicações acontece, muitas vezes, quando o indivíduo busca sair da poupança. Segundo ele, é essencial que os investidores entendam que todos os produtos possuem riscos. “Mesmo os ativos do governo estão sujeitos à avaliação negativa, o que deve entrar no radar antes de aplicar”, aponta.
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Para Politi, quem está em um ativo “extremamente seguro” pode iniciar a “encher outras caixinhas” porque o risco existe em todas as classes. Ele reforça a relevância em entender as diferentes classes de investimentos e os respectivo risco que você está disposto a tomar.
“Se você está começando a investir agora e vai direto para as ações, imagino que seja uma falta de maturidade financeira. Se você quer ter um fundo mais arrojado, comece a estudar um fundo e entenda como ele está se movimentando para investir efetivamente”, afirma.
Em um fundo de ações, segundo ele, é preciso aguardar no mínimo seis meses para ver resultados e avaliar como cada investidor reage à volatilidade.
6. Diversificação dos ativos na carteira
Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos, explica que a diversificação é a principal ferramenta utilizada nos portfólios a partir do estudo da relação entre retorno, risco e da correlação entre os ativos que compõem a carteira.
“Cada classe de ativo tem um prêmio de risco diferente. Ao montar uma carteira, é preciso avaliar o potencial de retorno de cada tipo”, diz.
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Vale lembrar do ditado que sugere “não colocar todos os ovos na mesma cesta”. Além disso, a diversificação é uma forma de proteção para possíveis erros e para solucionar expectativas errôneas do investidor ou do mercado como um todo.
“Caso algum movimento tenha sido feito por conta de uma previsão errada, esse pilar pode ser uma forma de corrigir o impacto, respeitando o retorno que o investidor precisa atingir lá na frente e a volatilidade que o investidor está disposto a enfrentar”, complementa o porta-voz da Finacap.
7. Investimento no exterior
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, aponta que a dolarização está cada vez mais forte. “A dolarização dos investimentos não é uma proteção apesas pensando no preço de um iPhone, mas do bolinho de fubá até ao valor do litro da gasolina. Está em tudo que recebe o impacto do exterior, da indústria à agricultura”, diz.
Além disso, como o mercado de ações americano é responsável mais da metade de todo o mercado financeiro global, o universo de produtos no exterior é muito mais extenso, já que oferece investimentos em setores que hoje são de pequena escala no Brasil, como cyber security e biotech. A exposição em ativos estrangeiros, portantos, é mais um exemplo de diversificação para a carteira do investidor.
A fragilidade do real frente ao dólar é outro ponto destacado por Alves. Ele recorda de cenários após crises, em que o dólar chegou a crescer quase 50% em poucos meses, como aconteceu de janeiro a maio de 2020, quando a moeda saiu da casa de R$ 4 para quase R$ 6.
“Outro benefício do investimento no exterior é a possibilidade de aplicar em ativos de locais com menor risco. O rating (classificação de risco) do Brasil é comparável com países como Paraguai, Vietnã, Macedônia e outras nações com economias enfraquecidas, o que não é atrativo por conta da instabilidade e atrasos”, diz.