- Não demore para falar com o banco credor. Peça uma pausa de dois meses nos pagamentos e reorganize suas finanças
- Faça uma sondagem no mercado e verifique outras opções de financiamento. Faça cotações online e procure também as fintechs
- Além de ver se o valor da prestação cabe no bolso, observe também o custo efetivo total do novo financiamento, antes de tomar uma decisão
O setor automotivo é um dos mais impactados pela crise do coronavírus. Com as atuais restrições de deslocamento e as incertezas econômicas para o futuro, o País teve o pior quadrimestre em 14 anos na venda de veículos novos, com queda de 75,9% dos negócios só no mês de abril. Porém, além de não conseguir comprar, muitos brasileiros estão com dificuldades de terminar de quitar o financiamento do carro que já possuem.
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Por isso, o E-Investidor conversou com Carlos Castro, planejador financeiro CFP pela Planejar, e Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, sobre como o consumidor deve proceder para renegociar essa dívida.
O primeiro conselho dos dois especialistas é: não espere o vencimento da próxima parcela para tomar uma providência. O ideal é procurar a instituição financeira assim que perceber que terá dificuldades em honrar os pagamentos.
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“O banco tem um sistema de pontuação para discernir os bons e os maus pagadores. Quando atrasa o pagamento, você vai pontuando negativamente e sua situação fica mais difícil”, explica Simone.
Pior ainda é simplesmente parar de pagar e ficar em silêncio, sem fazer contato algum com o banco. Isso poderá acionar o mecanismo contratual que levará à perda do bem. É preciso encarar o problema de frente.
Peça uma pausa e se reorganize
A primeira providência a ser tomada, no curto prazo, é pedir uma pausa no financiamento. Como as dificuldades trazidas pela crise atingiram um grande número de pessoas, as principais instituições financeiras passaram a oferecer aos clientes a possibilidade de interromper os pagamentos das prestações, sem aplicar multas ou elevar os juros do financiamento.
Esse benefício não é automático: o cliente precisa fazer contato com o banco e deve estar em dia com suas obrigações. Os prazos de carência variam: Itaú, Bradesco e Santander oferecem pausas de 60 dias, enquanto na Caixa é possível pleitear até 90 dias.
“A pausa serve para você se organizar financeiramente. Examine o seu orçamento, seus custos e suas receitas e veja qual é o valor de parcela que você pode efetivamente pagar”, orienta Castro.
Busque outras opções de financiamento
Já sabendo quais são suas reais possibilidades de pagamento, ainda não é hora de rediscutir a dívida com o credor. Antes disso, você deve sondar o mercado em busca de outras opções de financiamento.
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“Se você for negociar sem ter um plano B na manga, será mais difícil obter uma redução nos juros. Mas, se já chegar com outra proposta, o banco irá ouvir e tentar negociar internamente para equiparar as condições”, afirma o planejador financeiro.
Simone diz que a pesquisa do devedor não deve se limitar aos cinco grandes bancos de varejo. Há alternativas, como as fintechs, que também merecem ser consideradas.
“Sonde todo o mercado. Há sistemas online em que você pode simular financiamentos. Faça uma cotação, depois faça contato com a plataforma e confirme se as condições que você viu estão corretas. Vá falar com o seu banco com a lição de casa já feita”, aconselha.
Ao negociar, veja se a dívida não ficou mais cara
Na renegociação de uma dívida, há dois caminhos possíveis. Um deles é a redução da taxa de juros; o outro é o alongamento do prazo do financiamento, para reduzir o valor das prestações.
Se você tomou o crédito alguns anos atrás, provavelmente a taxa de juros do contrato é mais alta que a praticada hoje pela instituição. Afinal, a própria taxa Selic caiu bastante ao longo do período. Isso significa que o banco tem “gordura” para queimar. E, no longo prazo, qualquer redução de meio ponto percentual na taxa de juros fará muita diferença no montante final pago.
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“Por outro lado, ainda que os juros estejam em trajetória de queda, o aumento da inadimplência está cobrando seu preço, com uma tendência de elevação dos juros nos financiamentos”, observa Castro. “Isso pode acabar até anulando a economia que se poderia obter com a queda da taxa Selic.”
A economista-chefe da Reag ressalta que, durante a negociação, o novo valor da parcela tem que caber no bolso do devedor, mas não é a única preocupação. “Preste atenção na taxa efetiva de juros, para o banco não acabar oferecendo um crédito ainda mais caro que o anterior”, alerta.
Portabilidade é último recurso
Se você não conseguiu condições melhores no seu próprio banco, levar a dívida para outra instituição é sempre uma possibilidade. Antes de tomar a decisão, porém, é preciso olhar com atenção o custo efetivo total, e não apenas a taxa de juros.
“Às vezes a taxa de juros é mais baixa, mas no final o custo efetivo total é o mesmo. Como a migração da dívida tem custos (para alterar a documentação do carro), a portabilidade pode acabar não compensando”, explica o planejador financeiro.
Castro pondera ainda que esta mesma crise que está levando os bancos a oferecer carência para o pagamento das dívidas pode dificultar a portabilidade.
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“A pandemia provocou o aumento do desemprego, que traz o crescimento da inadimplência. Como o risco de crédito das pessoas aumentou, fica mais difícil para os bancos aprovarem a portabilidade.”
Contrair um empréstimo para quitar o financiamento do veículo não é uma boa ideia. Por definição, o empréstimo já é uma dívida mais cara que o financiamento, porque não tem garantia real (no financiamento, o próprio carro garante a dívida, reduzindo o risco do credor, o que barateia a operação).
Além disso, ao tomar um empréstimo hoje, você não conseguirá tomar crédito com juros tão baixos como os do contrato de financiamento, que é mais antigo.