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- A crise econômica sem precedentes e o estado de insegurança gerados pela pandemia ocasionaram a drenagem na oferta de crédito e aumento significante das taxas de juros praticadas por seus provedores
- Iniciativas de investimentos em impacto socioambiental em gestação ou em estágios iniciais de desenvolvimento, ou mesmo no caso de empreendedores de impacto mais consolidados e que dependem de capitais para o seu sucesso, necessitam de uma outra abordagem
(Com Alexandre Gottlieb Lindenbojm, co-fundador da Wright Capital Gestão de Patrimônio) – Segundo o estudo publicado esta semana pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) chamado “Investimento de Impacto na América Latina”, o volume de investimentos em Negócios de Impacto Socioambiental no Brasil chegou a US$ 785 milhões em 2019 e a maior parte dos investidores espera taxa de retorno de mercado o que nos mostra a ausência de capital paciente, tão importante para o desenvolvimento deste setor.
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Esta mentalidade de curto prazo é um grande desafio já que, do outro lado, o empreendedor social precisa além de capital, de tempo e assessoria/mentoria no desenvolvimento de seu plano de negócios. Torna-se especialmente oportuno o entendimento das possíveis abordagens alternativas para equacionar estas questões sociais e ambientais onde a atuação governamental e a filantropia tradicional navegam com alguma dificuldade.
A crise econômica sem precedentes e o estado de insegurança gerados pela pandemia ocasionaram a drenagem na oferta de crédito e aumento significante das taxas de juros praticadas por seus provedores, a paralisação ou postergação de investimentos diretos, seja por investidores estratégicos, seja por fundos de venture capital e private equity, e a canalização de recursos filantrópicos para causas sociais mais urgentes.
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Em tais circunstâncias, agentes que fomentam esses ecossistemas(*) tem um papel fundamental para assegurar a sobrevivência e o fortalecimento(**) dos diversos atores do ecossistema de impacto, canalizando capitais catalíticos para empreendedores, iniciativas do terceiro setor economicamente viáveis, aceleradoras, incubadoras, redes de mentoria, hubs, gestores de fundos rotativos, plataformas de crowdequity e crowdfunding e gestores de fundos – de impacto socioambiental, para citar alguns exemplos (“Ecossistema de Impacto”).
Nesse contexto, iniciativas de investimentos em impacto socioambiental em gestação ou em estágios iniciais de desenvolvimento, ou mesmo no caso de empreendedores de impacto mais consolidados e que dependem de capitais para o seu sucesso, necessitam de uma outra abordagem. Mais comumente denominados capitais catalíticos nos Estados Unidos(***) e Venture Philanthropy na Europa, Ásia, África e mais recentemente na América Latina(****), trata-se de uma verdadeira filosofia de investimento resultando em abordagens práticas inovadoras com foco no impacto e no resultado econômico sempre que possível.
Sobre a importância do capital catalítico na criação, expansão e a manutenção do ecossistema de negócios de impacto, a Mac Arthur Foundation assim resumiu o seu papel:
Em poucas palavras, a abordagem de Venture Philanthropy permite a comunhão de esforços entre investidores da iniciativa privada com o setor publico (organismos multilaterais, bancos e agências governamentais) e o terceiro setor, com alinhamento de interesses, mediante a oferta de:
- i) capitais financeiros customizados, podendo ser concedidos a negócios de impacto socioambiental na forma de fundos perdidos (grants), mútuos com taxas de juros diferenciadas e/ou sem a exigência de garantias pessoais (soft loans), garantias para acesso a crédito, seguros, assunção de risco de primeira perda (first loss), dentre outras (“taylored finance”); e
- ii) capitais intelectuais, em especial através de conteúdos organizacionais como aceleração, incubação, mentoria, treinamento, acesso a networking, sistemas e apoio em temas relevantes para iniciativas empreendedoras (“technical assistance/capacity building”).
Diferentemente dos investimentos de impacto stricto sensu, em que se espera não só o impacto socioambiental positivo e mensurável como também o retorno financeiro dos investimentos, de preferência em patamares semelhantes aos de mercado (investing with impact), a abordagem de venture philanthropy coloca o empreendedor ou negócio de impacto socioambiental no centro, promovendo o investimento com foco principal no impacto (impact first), mediante a oferta de capitais mais pacientes, suportando maiores riscos e retornos possivelmente inferiores aos de mercado em contrapartida ao impacto a ser gerado.
Tal doutrina entende que para solução de problemas críticos, não basta empregarmos apenas práticas e paradigmas do passado, sendo necessário, como acontece nas áreas de saúde, tecnologia e inovação, que alguém possa assumir riscos maiores do que aqueles que seriam tolerados por uma única pessoa ou instituição (de-risking) face ao interesse social.
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Da definição originária até os dias atuais, merece destaque a abordagem criativa do venture philanthropy, que nos permite compreender práticas já experimentadas e aprimorá-las constantemente, em busca de soluções para questões sociais e ambientais e a adoção de estruturas misturando capitais públicos ou filantrópicos com capitais privados em estruturas de investimentos inovadoras e com objetivos complementares, como blended e hybrid financing(*****).
Nesse sentido, a adoção de estruturas híbridas ou mistas de capital público e/ou filantrópico e o capital privado, mediante a adoção de melhores práticas de governança, técnicas mais robustas de investimentos, transparência e visão de negócios, permite acesso a relevantes capitais disponíveis no País e ao redor do mundo, cuja aplicação carece de projetos robustos e elegíveis, razão pela qual a combinação de capitais com objetivos complementares em estruturas mistas ratifica e fortalece a tomada de decisão principalmente dos agentes públicos e filantrópicos, ao passo que viabiliza a entrada do capital privado onde, de outra forma, não seria possível sua participação face aos riscos envolvidos.
A disseminação da abordagem de venture philanthropy viabiliza a construção da ponte entre as atividades governamentais, a filantropia e o universo de investimentos de impacto, tratando-se de prática fundamental para o desenvolvimento do movimento de investimentos de impacto social e ambiental no Brasil e no mundo. É urgente que possamos nos unir para discutir e colocar em prática soluções mais dinâmicas e contemporâneas.
(*) Como é o caso do BID, BNDES e FINEP, dentre outros. No Brasil já desempenham tal papel ICE e a Aliança pelo Impacto, GIFE e seus membros, como exemplo
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(**) A respeito vale a leitura do “Catalytic Capital – Unlocking More Investment and Impact”, publicado pela Mac Arthur Foundation. Disponível aqui.
(***) Vide (*)
(****) O conceito de venture philanthropy é razoavelmente antigo e tem sido empregado em diversas acepções pelo mundo, tendo em sua origem, segundo consta, em John D. Rockefeller III, que em 1969 o teria descrito como uma abordagem criativa e capaz de assumir maiores riscos por entidades filantrópicas. Em 2004 o movimento ganha força com a criação da EVPA –European Venture Philanthropy Association, que na sequência dá origem ao movimento asiático com a AVPN – Asian Venture Philanthropy Network (2011), a African Venture Philanthropy Alliance na África em 2019, e, mais recentemente. com a Latimpact em formação na América Latina, liderado por Doug Miller e a equipe do International Venture Philanthropy Center – IVPC.
(*****) Nesse sentido existem inúmeros estudos importantíssimos de como tais práticas são relevantes para aumentarmos as chances de concepção e desenvolvimento dos negócios de impacto no mundo e, como corolário, em nosso País. Para aqueles que se interessarem em aprofundar o tema, sugerimos os seguintes materiais de referencia iniciais: (1) EVPA – Research and Tools; (2) EVPA – The Key Role of Tailored Financing and Hybrid Finance; (3) Mac Arthur Foundation – Catalytic Capital: Unlocking More Investment and Impact.
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