Desmistificando o mercado financeiro

Leandro Miranda é responsável pela Ágora Investimentos e diretor-executivo e de Relações com Investidores do Bradesco. Liderou a área de Investment Banking quando o BBI foi escolhido por Euromoney, Global Finance e The Banker como o Melhor Banco de Investimento do Brasil e o Banco de Investimento mais Inovador da América Latina por três anos consecutivos (2016, 2017 e 2018).

Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias

Leandro Miranda

Serenidade e responsabilidade

Os preços dos ativos devem refletir a atividade atual, a velocidade de recuperação e os riscos inerentes

Serenidade (Foto: Evanto Elements)

Bolsas norte-americanas recuperando os níveis pré-covid-19, Nasdaq batendo recordes seguidos, algumas das principais ações norte-americanas alcançando seu maior preço histórico, bolsa brasileira subindo fortemente durante 7 pregões consecutivos, petróleo voltando a subir vigorosamente, real se valorizando rapidamente e batendo quase todas as demais moedas mundiais e dólar cada vez mais fraco.

Peraí! Alguém achou que fazia sentido? Com que fundamentos? A economia real fraca e os preços das ações como se estivesse a pleno vapor! É óbvio que tá inflado e que o preço está acima do valor. Estão querendo nos enganar ou somos nós mesmos que não queremos encarar a realidade? Se alguém acha que tudo vai voltar rapidamente a ser como era antes, sem reorganizações, sem darmos o nosso melhor e sem agirmos com máxima intensidade e coesão para mantermos a saúde e recuperarmos a atividade econômica, esqueça. Isso não vai acontecer.

Economias praticamente fechadas ou em processo de reabertura, com atividade ainda bem fraca. Graves desentendimentos sobre os números de infectados e mortos por covid-19 e, principalmente, falta de alinhamento e planejamento governamental sobre como lidar com a quarentena numa economia cada dia mais frágil e com a vida das pessoas em risco seja pela saúde seja pelo desemprego. E, para piorar, uma sociedade que não tem respostas claras e quando as tem, essas são revogadas, como, por exemplo, notícia de extensão de quarentena em dia previsto para reabertura da economia.

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Muita incompetência governamental? Muita desinformação? Muita falta de planejamento e coordenação? Muita ingenuidade dos investidores? Muita saturação da sociedade com essa situação? Muita falta de diálogo e ausência total de responsabilidade com a sociedade pelos governantes e a mídia? Ausência de espírito público e salve-se quem puder? Sem dúvida.

Mas, encaremos os fatos. Preços devem refletir fundamentos econômicos reais e expectativas devem ser racionais. Em épocas de grandes incertezas, há elevada volatilidade de preços, de opiniões e de decisões. Afinal, não sabemos quando haverá uma vacina para covid-19, como se comportarão as curvas de contaminação, se e quando haverá segunda onda e a velocidade de recuperação da economia. Simples assim, não sabemos. Então, os preços devem refletir a atividade atual, a velocidade de recuperação e os riscos inerentes. O resto é wishful thinking, especulação e loteria.

Estamos enfrentado dados incongruentes ou até mesmo ausência deles, oportunistas políticos e parte significativa da mídia que não olham para o bem estar social, não querem mostrar nenhum lado positivo, nem trazer esperança, mas, sim, em como aproveitar esta situação para desestabilizar o status quo e criar pânico não só na nossa sociedade mas no mundo todo, trazendo desalento para a sociedade, afastando investidores e deprimindo o preço dos nossos ativos, deixando nossos governantes com um medo paralisante de cortes, com dificuldade de diálogo e incapacidade de liderança e gestão. Que vergonha. Quanta falta de patriotismo. Quanta falta de seriedade. Quanta incompetência.

E agora? O que devemos fazer? Back to basics. Voltemos aos fundamentos.

Poupança, renda fixa bancária e governamental, ações de baixa volatilidade de empresas e bancos too basic to fail e com baixa interferência governamental são os investimentos da vez. Época de proteção patrimonial e não de brincar no cassino. A falta de consenso e alta incerteza geram volatilidade nos preços. Não queira recuperar tudo o que perdeu. Você não vai e deve perder ainda mais. Não dá pra ficar rico da noite para o dia através de reprecificações em retomada de economia. Você precisa estudar e trabalhar muito e por muito tempo. Não tem moleza, o resto é exceção. Aproveite qualquer tempo livre para estudar, informar-se. Trabalhe de forma séria e dedicada. E, acima de tudo, mantenha a serenidade. Vai acabar tudo bem. A história da humanidade nos mostra isso. É uma fase, mas ela tem que ser levada a sério. Mas, como fazer isso?

Planeje como um oriental, não importa o tempo que leve. Execute como um germânico, com atenção e seriedade em cada detalhe, em cada fase do percurso, levando o tempo necessário para executar o que foi planejado à risca. E, depois, faça marketing dos resultados como um norte-americano. Mas, mantenha serenidade. Tudo tem seu tempo.

As soluções serão coletivas. Então, converse e interaja bastante. Pergunte. Escute. Esclareça. Dialogue. Não custa nada. Não temos todas as respostas individualmente, mas temos mais chance de achá-las coletivamente. Não queira ser super-herói, pois muitos dependem de cada um de nós. Além disso, lembre-se que, na mitologia grega, os heróis sempre morrem. Seja humilde, simples e converse “na horizontal” com seus líderes, liderados, pares, parentes e amigos. Interaja.

Tenha certeza de que você faz a diferença de uma forma descomunal. Todos nós impactamos, influenciamos e agimos sobre todos à nossa volta e isso em um mundo conectado tem um forte impacto que acelera exponencialmente. Você pode com suas opiniões e ações impactar a sociedade, o mundo! Acredite! Você faz a diferença! Não se omita, reflita, opine, aja e arrependa-se se perceber que está equivocado e use a mesma força para informar como desinformou. Tudo bem, faz parte. Seja ativo e não se omita com medo de errar; isso seria ser medíocre e você não é. Precisamos de todos juntos, coesos e alinhados pra sairmos dessa fase mais fortes e o mais rapidamente possível.

A solução não virá de governos incompetentes, da parte da mídia geradora de pânico ou de milagres. Mas, sim, individualmente, compartilhando opiniões e ideias. E, juntos, discutindo e chegando ao consenso de soluções e as implementando, sempre com calma, disciplina e coordenação.

Cada um de nós, com o devido espírito público e dando o seu melhor, ajudará a superar esta adversidade e quantas mais vierem. Até lá, tenhamos cautela nos investimentos, foco no estudo e no trabalho e sigamos em frente, sempre em frente.