Como controlar as emoções ao investir

Marcelo Biasoli é executivo do mercado financeiro com experiência em liderar áreas de Inovação, Estratégia, Desenvolvimento de Negócios e Marketing. Também é coach com conhecimento e paixão pelo desenvolvimento humano e neurociência aplicada aos negócios, combinando as competências de future thinking, criatividade e intraempreendedorismo para impulsionar investimentos e acelerar negócios.

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Marcelo Biasoli

Os desafios de investir em um mercado que vale US$ 3 trilhões

Para o investidor, a rentabilidade é maior e o risco é proporcional. Vai encarar?

Foto: Paulo Whitaker/Reuters
  • As startups mostram ao mercado a capacidade de resiliência, navegar em períodos turbulentos, atrair talentos e movimentar empresas de diversos tamanhos e segmentos para repensarem seus modelos de negócio
  • Um dado interessante é que em 2013 apenas 4 ecossistemas de startups no mundo produziram unicórnios ou saídas de bilhões de dólares. Atualmente mais de 80 ecossistemas cumulativos, o fizeram de forma surpreendente

Você deve estar pensando que mercado é esse que vale mais que o PIB da França, do Reino Unido ou do Canadá e que teve cerca de US$ 300 bilhões em investimentos de venture capital em 2019.

Esses números são parte de um estudo da empresa Startup Genome sobre o mercado mundial de startups. Os números são impressionantes e ano após ano mostram avanços significativos nesse ecossistema que cresce mundialmente. Um dado interessante é que em 2013 apenas 4 ecossistemas de startups no mundo produziram unicórnios ou saídas de bilhões de dólares. Atualmente mais de 80 ecossistemas cumulativos, o fizeram de forma surpreendente.

Steve Blank, empreendedor serial do Vale do Silício, define uma startup como uma “organização temporária em busca de um modelo de negócio possível de repetir e escalável”. Essas empresas desempenham um papel significativo na economia, pois criam mais empregos, potencializam a inovação, criam mercados, estimulam a concorrência, são engajadas em temas sociais importantes como: sustentabilidade, saúde, educação, e com tudo isso, promovem o crescimento econômico.

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Leia também: Como investir em startups e lucrar no longo prazo

No Brasil, esse ecossistema vem proporcionando mudanças significativas no ambiente de negócios. As startups mostram ao mercado a capacidade de resiliência, navegar em períodos turbulentos, atrair talentos e movimentar empresas de diversos tamanhos e segmentos para repensarem seus modelos de negócio. Elas acabam sendo molas propulsoras no processo de transformação digital e usam a tecnologia a seu favor para mudar os aspectos da vida humana e construir o futuro de produtos e mercados.

A quantidade e o volume de investimentos mostram isso. De acordo com o Estadão e a empresa Distrito, no mercado Brasileiro em 2020 aconteceram 100 aquisições de startups entre janeiro e setembro, superando os anos de 2018 e 2019. O número de aportes realizados em novatas também já tem recorde histórico de 322 transações, superando o melhor ano do setor – em 2017, foram 263 investimentos. E o volume total de aportes já está em US$ 2,2 bilhões, completando 82% do que foi injetado no mercado em todo o ano de 2019.

Em função da queda na taxa de juros e a tendência de retornos menores em aplicações de baixo risco, mais investidores estão adicionando ativos alternativos em seus portfólios de investimento. E existem razões convincentes para considerar esse tipo de investimento.

Por que investir em startups

As startups na maioria das vezes promovem a disrupção no ciclo de inovação, onde erros devem ser cometidos e avanços devem ser descobertos para que os negócios perpetuem. Com isso, é fato que esse investimento acaba sendo de alto risco.

Um indicador que chama a atenção e que os investidores devem estar atentos é o alto índice de mortalidade das startups. De acordo com a Fundação Dom Cabral, 25% das startups deixam de existir em até 1 ano de vida, e 50% delas em até 4 anos.

Em função deste alto risco, o conselho é ser prudente e alocar uma pequena parte (de 5% a 10% do seu portfólio) dos ativos em empresas de estágio inicial. A alocação desses percentuais pode aumentar o retorno enquanto reduz a volatilidade. Isso ocorre porque o investimento em startups geralmente tem uma correlação baixa com ativos tradicionais como ações, fundos e títulos.

Apesar de tudo isso, se bem gerenciadas pelos empreendedores e orientadas por conselheiros experientes, incubadoras ou aceleradoras, elas podem gerar retornos financeiros exponenciais em comparação com outros tipos de investimento mais tradicionais.

Alguns anos atrás fiz o meu primeiro investimento em startups e segui uma cartilha. O primeiro passo foi fazer o investimento em conjunto com uma empresa que tivesse expertise no segmento e fosse a investidora líder na rodada de captação de investimentos. Além disso, estudei a empresa, o segmento, o perfil do líder e conversei com pessoas que conheciam a empresa.

Quase um ano após a rodada inicial, a empresa deu a opção para realizar a saída do investimento, o que acabou rendendo uma valorização de três vezes o que tinha investido inicialmente. Com o valor em mãos, investi em uma outra startup aplicando a mesma cartilha, e após 2,5 anos a receita mensal recorrente da empresa cresceu vinte vezes. Ainda é cedo para falar o resultado da saída do investimento, mas é gratificante ver esta empresa quebrar paradigmas de mercado e inovar no segmento em que atua.

Ambiente de negócios

Um outro fator importante a ser considerado é o projeto de lei do Marco Legal das Startups e do empreendedorismo inovador, que foi enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional no dia 20 de outubro deste ano. A proposta pretende criar um melhor ambiente de negócios para os ecossistemas de startups, simplificar os processos e diminuir os custos para a criação das empresas de estágio inicial, promovendo assim a participação das startups em licitações públicas, estimulando o investimento em inovação e definindo as diretrizes de atuação dos investidores.

Para incentivar as atividades de inovação e os investimentos, as startups poderão admitir aporte de capital, por pessoa física ou jurídica, que não integrará o capital social da empresa — os chamados “investidores anjos”. Eles não se tornarão sócios da empresa nem possuirão direito à gestão ou a voto na administração da empresa, mas poderão participar nas decisões em caráter consultivo, conforme contrato. O investidor anjo também não responderá por qualquer dívida da empresa, inclusive em recuperação judicial.

Se o projeto caminhar, as startups entrarão no regime especial simplificado denominado Inova Simples, que isenta a cobrança de taxas e demais custos para abertura, inscrição, registro, alvará, licença e cadastro das empresas, entre outras coisas. Além disso, a captação de recursos ficará mais fácil para as startups.

E não dá para esquecer de mencionar aqui os importantes movimentos dos órgãos reguladores no incentivo a inovação. O Banco Central é um exemplo claro nesse movimento, que através do Pix e do Open Finance vai proporcionar uma mudança significativa no mercado, incentivando a inovação e as startups.

O Pix é o novo meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, para pessoas e empresas fazerem transferências de valores, realizarem ou receberem pagamentos de forma muito rápida, utilizando apenas aplicativos de celular.

Já o Open Finance, é um sistema que dará aos clientes de instituições financeiras o poder sobre seus dados cadastrais e de transações, como meio de abrir o acesso a serviços mais baratos e melhores. Essas são apenas algumas das apostas do Banco Central para promover uma maior competição entre os players no sistema financeiro, incluindo as startups.

Leia também: Pix e Open Banking: o combo do Banco Central para revitalizar o sistema bancário

E para incentivar você a investir nesse ecossistema, compartilho aqui algumas dicas valiosas da Smart Money Ventures, uma empresa especializada no investimento em startups:

  • Invista em Capacitação. Conheça os processos, entenda como as startups crescem, como mitigam o risco, os possíveis cenários de saída do investimento, entre outros. Estude, faça cursos, participe de grupos de investidores anjo, conheça as incubadoras, aceleradoras e plataformas de crowdfunding.
  • Aprenda na prática, participando de uma rodada completa de investimentos. Essa experiência permitirá a você vivenciar as técnicas de negociação dos fundadores e fundos, conhecer mais sobre o perfil dos sócios das startups, o plano de negócio, como se faz um assessment de risco, quais as barreiras e como escalar a empresa.
  • Faça o planejamento de realocação do seu portfólio de investimentos, isso é fundamental para definir o percentual de ativos de risco. A dica é investir em torno de 10% em ativos de alto risco. Para minimizar o risco no portfólio deve-se chegar em uma meta de 20 startups no portfólio em 5 anos, ou seja, 4 empresas por ano. A diversificação é importante pois as safras são diferentes e mudam em função da tecnologia, dos modelos de negócio etc.
  • Conheça os fundadores e interaja com eles. Observe se os olhos brilham quando falam do negócio, avalie a credibilidade, as competências técnicas, se eles sabem o que não sabem, se sabem como diferenciar o negócio, se conhecem o mercado, se tem um plano pronto e se entregam resultados.

Na maioria dos mercados e nos diferentes segmentos de negócio, estamos vivenciando uma mudança exponencialmente acelerada e impulsionada pela tecnologia, conectividade e temas ligados a sustentabilidade. Seja a sua motivação para investir em startups direcionada em responder as mudanças na arena competitiva ou em aproveitar novas oportunidades, você terá que apostar no futuro.

E aí, vai encarar?