- A escolha dos ativos que farão parte de uma carteira de investimentos já é suficientemente complexa se considerarmos somente as opções domésticas
- O melhor guia para investimentos é o princípio KISS – Keep it Simple, Stupid!
A escolha dos ativos que farão parte de uma carteira de investimentos já é suficientemente complexa se considerarmos somente as opções domésticas. O investimento no exterior, no entanto, adiciona um nível de dificuldade ainda maior. Estamos falando de mercados profundos e diversificados, que contam com uma miríade de ativos para todos os gostos e necessidades.
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Quer investir em Inteligência Artificial? Tem. Cannabis? Também tem. Carros elétricos, games, viagens espaciais, tudo isso tem. E muito mais.
O filme “A Grande Aposta”, de 2015, mostra o investidor Michael Burry fazendo uma romaria nos grandes bancos de Wall Street, propondo um contrato de default (CDS – Credit Default Swap) de hipotecas específicas, para que ele pudesse ficar short (vendido) nessas hipotecas.
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Ele conseguiu, mostrando que é possível apostar em absolutamente tudo o que se quiser no mercado financeiro norte-americano. Basta ter um palpite (no mercado, chamamos de call) sobre o comportamento dos ativos. E é aí que mora o problema.
Se já é difícil e trabalhoso para o investidor profissional escolher entre as várias alternativas que o mercado oferece, imagine para o investidor leigo, que não tem tempo nem expertise para analisar profundamente todas essas opções.
A saída, muitas vezes, é encontrada ao basear as decisões em dicas de parentes e amigos e nos conselhos de assessores de investimentos. Ou, ainda, confiar em um palpite do próprio investidor, fundamentado em uma tendência amplamente divulgada na mídia, como ocorre atualmente, por exemplo, com a inteligência artificial (IA).
Então, o critério usado, frequentemente, acaba consistindo em complexidade do produto, para dar um ar de sofisticação à carteira de investimentos.
Receita para perder
Warren Buffett já afirmou que ele não investe em nada que não entende como funciona. Se pensarmos bem, trata-se de algo óbvio: colocar o dinheiro em algo que não entendemos é a receita para perder dinheiro, e sem nem ao menos sabermos como aconteceu.
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O melhor guia para investimentos está representado pelo princípio KISS – Keep it Simple, Stupid! (“Mantenha simples, estúpido!”, em tradução livre). E isso vale também (ou sobretudo) para investimentos no exterior, pois ir para fora proporciona uma experiência substancialmente diferente para o investidor leigo.
Nesse sentido, ater-se à boa e velha renda fixa e à boa e velha renda variável parece ser a melhor estratégia. São classes de ativos clássicas, com longo histórico amplamente conhecido. No exterior, a renda fixa é formada basicamente pelos títulos do governo (Treasuries) e por títulos emitidos por empresas (bonds). A renda variável, como sabemos, é formada simplesmente pelas ações das empresas.
Investimentos em renda fixa no exterior
Comecemos pela renda fixa. Hoje, as Treasuries nos Estados Unidos estão pagando cerca de 5% ao ano, sendo que a mediana dos últimos dez anos foi de 1,5%. Certo, os últimos dez anos foram caracterizados por taxas muito baixas e, talvez, essa comparação não seja completamente justa.
Mas, se considerarmos uma inflação de longo prazo de 2% e uma taxa de juros real estrutural de 1% – os diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) consideram 0,5% –, teríamos uma taxa nominal de longo prazo na faixa de 3%, portanto, bem abaixo do nível atual.
Para títulos privados nos EUA, essa distância, obviamente, é ainda maior: os corporate bonds investment grade estão pagando 6% ao ano (mediana dos últimos 10 anos em 3,2% ao ano), enquanto os corporate bonds high yield estão pagando 8,5% ao ano (mediana dos últimos 10 anos em 6% ao ano).
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Portanto, fica claro que, nos atuais níveis de taxas de juros, não são necessários grandes malabarismos para obter rentabilidades bastante atraentes.
Renda variável no exterior
O mesmo ocorre na renda variável. Tivemos um 2022 muito ruim para a bolsa americana, com uma recuperação expressiva neste ano. Ou seja, voltamos ao mesmo nível do final de 2021, quase dois anos depois.
Segundo o consenso da Bloomberg, o índice preço/lucro do S&P500 estava, no final de setembro, em 18 vezes contra uma média dos últimos 5 anos de 19 vezes. Considerando um crescimento de lucros de 12% ao ano nos próximos dois anos (consenso Bloomberg) e um índice preço/lucro de 18,5 vezes para daqui a 12 meses, temos um potencial de alta para o S&P500 de 17% para os próximos 12 meses.
Claro, essas premissas estão sujeitas ao ritmo de crescimento econômico dos EUA, que pode ser melhor ou pior do que o consenso atual.
Misturando tudo
Diante das incertezas que rondam as premissas das projeções acima é que entra o mais conhecido e bem documentado efeito diversificação do mercado financeiro: a composição entre renda fixa e renda variável.
Se a economia americana não performar bem, a bolsa pode não alcançar o seu potencial de alta, mas então os bonds terão performance melhor, pois as taxas tendem a cair mais, valorizando os títulos de renda fixa pelo efeito da marcação a mercado.
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Por outro lado, se a economia performar melhor que o consenso, a bolsa vai bem, enquanto os bonds continuarão a render bem em função do seu yield (rendimento) muito alto, ainda que haja alguma perda pelo efeito da marcação a mercado.
Em resumo, não é preciso inventar muita coisa para montar uma carteira robusta no exterior. Gestores com larga experiência na boa e velha renda fixa e na velha e boa renda variável certamente oferecerão produtos “feijão com arroz” que cumprirão o seu papel de proporcionar uma diversificação simples e segura no exterior.