- Precisamos sempre investir olhando o cenário base como o mais provável, mas buscar formas de balancear o portfólio visando nos defender
- É importante que nosso capital não esteja todo investido em apenas uma classe de ativo
- É preciso medir a capacidade de investir melhor do que gestores com anos de experiência e equipes robustas e especializadas
No mês passado fiz uma análise prospectiva do que esperar para 2021 no que tange o cenário econômico.
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Este mês, gostaria de falar um pouco sobre o processo de investimentos e, em especial, alguns passos para escolhermos bons fundos e gestores na hora de alocarmos o nosso capital.
O primeiro passo do processo de investimento sempre será o de analisar o cenário econômico, entender qual o “cenário base”, e os “cenários alternativos”, ou os riscos em torno do cenário base.
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Precisamos sempre investir olhando o cenário base como o mais provável, mas buscar formas de balancear o portfólio visando nos defender, ou evitar os riscos que podem ser trazidos dos cenários alternativos. Por isso que é tão importante que nosso capital não esteja todo investido em apenas uma classe de ativo ou apenas em um fundo.
Uma vez desenhado este cenário, precisamos passar à etapa de entender a posição técnica do mercado e como estão os preços e os valuations de cada classe de ativo.
De nada adianta estarmos convictos em nosso cenário base, se todos do mercado já estão alocados na mesma classe de ativo e os preços e valuations estão ajustados para este cenário. Se isso acontecer, qualquer pequeno desvio de cenário pode trazer impactos negativos substanciais em nossas carteiras.
Passadas as etapas de desenharmos os cenários e medirmos a posição técnica e os valuations do mercado, passamos à fase de escolher qual será a divisão entre as classes de ativos que iremos ter em nossos portfólios. É nesta etapa em que precisamos escolher o percentual que cada classe irá ter na composição da carteira. Por exemplo: Qual percentual teremos em ações (renda variável), qual o percentual em crédito, renda fixa, fundos multimercados, fundos imobiliários e ativos ilíquidos (entre outros).
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Alguns desses investimentos podem ser feitos por conta própria. No caso das ações, podemos escolher as ações que teremos em carteira. No caso dos ativos de crédito privado, podemos escolher as emissões que irão fazer parte do portfólio.
Todavia, em muitos casos, precisamos escolher os fundos, que são liderados por gestores e equipes de analistas, que irão fazer esses investimentos para nós. Vale lembrar que mesmo nos casos em que há a possibilidade de alocarmos “por conta própria”, sempre precisamos medir nossa capacidade de investirmos melhor do que gestores com anos de experiência e equipes robustas e especializadas.
Nesta fase do processo de investimentos iniciamos uma diligência, quantitativa e qualitativa, para escolhermos os melhores fundos e os melhores gestores em cada uma das categorias para fazerem parte do nosso portfólio.
Vou passar por alguns dos vetores que costumamos olhar quando analisamos fundos de investimentos.
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Do ponto de vista quantitativo, algumas variáveis são simples, de fácil entendimento e, atualmente, disponíveis a preços baixos ou de graça na internet. Precisamos fazer análises de desempenho, em várias janelas de tempo, fixas e móveis. Fundos com histórico curto, obviamente, limitam essa análise. Quanto maior o histórico, maior nossa capacidade de medir o gestor em diferentes cenários econômicos e de mercado.
Analisar o desempenho do fundo contra o seu benchmark, ou seja, aquele índice em que o gestor se propõe a superar, é muito importante. Contudo, tão importante quanto, é medir o desempenho do gestor contra os seus pares, ou aqueles fundos de sua mesma categoria.
Existem algumas métricas de risco, como volatilidade, “sharpe”, “sortino”, “drawdown”, “beta”, “alpha” entre outras, que medem o desempenho do fundo em relação a sua volatilidade; suas quedas máximas em cenários negativos; seu desempenho relativo em relação ao mercado; e sua correlação com o mercado.
Não podemos deixar de olhar para os custos, diretos e indiretos do fundo, nem para as métricas de liquidez de aplicação e resgate.
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A análise quantitativa traz métricas importantes para analisar um fundo, mas não suficientes para tomarmos uma decisão robusta. A análise quantitativa nos mostra muito do passado, mas pode ser pouco informativa em relação ao presente e ao futuro.
Por exemplo, se o fundo era liderado por um gestor e uma equipe de análise, mas este gestor e essa equipe saíram da gestão deste produto? Será que a nova equipe será capaz de manter o bom desempenho quantitativo do passado? Você, investidor, foi informado da mudança deste time de gestão? Você mudaria sua alocação?
São por esses, e muitos outros motivos, que a análise qualitativa do gestor e do fundo e um monitoramento frequente, que não se encerra após uma análise preliminar, são fundamentais para que nossos portfólios estejam alocados de maneira eficiente.
A análise qualitativa precisa ser feita por pessoas diligentes e de forma consistente. Ela não está disponível de maneira fácil e acessível para todos os investidores e, muitas vezes, existe a intenção de que muitas informações não cheguem ao investidor final.
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É nesta fase em que fazemos uma “investigação” profunda sobre os gestores. Quem são? Onde trabalharam no passado? Há quanto tempo a equipe trabalha junta? Qual é o “turnover” do time (há muitas mudanças e mudanças frequentes de equipe)? Existe alinhamento financeiro entre a equipe e a gestora? Há um processo de “partership” (sociedade)? Existe uma preocupação com a perpetuidade do fundo e da equipe de gestão? Há muita concentração de poder em apenas uma pessoa?
Nesta fase também precisamos entender a estrutura da gestora. Quais os sistemas de risco são utilizados? Qual o tamanho da equipe de apoio e de análise? Há independência entre as áreas? Há um processo de informatização e digitalização dos processos?
Ao longo do tempo, novos vetores de análise vão surgindo e se tornam importantes para este trabalho, como as métricas de ESG. Elas são respeitadas? Os processos para análise destes itens são robustos?
Essas são apenas algumas das dezenas de análises que precisamos fazer, de maneira recorrente, nos gestores e nos fundos que estamos analisando para fazerem parte de nossas carteiras de investimentos.
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Uma análise robusta, profunda e diligente não irá evitar que a gente cometa erros em nossas alocações, mas certamente minimiza, exponencialmente, o espaço para que nossos investimentos acabem dando errado.
Importante ressaltar que esta não pode ser uma análise pontual, feita apenas “na entrada” do investimento. O monitoramento frequente e constante é fundamental para evitarmos de cair em armadilhas.