

Na tarde desta segunda-feira (10), a deputada Gleisi Hoffmann (PT/PR) toma posse como nova ministra de Relações Institucionais. Ela assume o lugar do petista Alexandre Padilha (PT/SP) que irá para o ministério de Saúde, ocupado, até então, pela socióloga Nisia Trindade, ligada ao partido. Investidores devem colocar no radar o encastelamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além dessas três mudanças, o nome do deputado Guilherme Boulos (Psol) passou a ser ventilado para ocupar a Secretaria Geral da Presidência, no lugar de Márcio Macedo (PT).
Não podemos esquecer a chegada ao centro do poder do pragmático marqueteiro baiano Sidônio Palmeira. Ele assumiu em janeiro a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que era comandada desde janeiro de 2023 por Paulo Pimenta (PT-RS). Palmeira vem com a dura missão de dar um norte na comunicação do governo.
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É válido destacar que não é a primeira vez que um publicitário assume a posição de “guru presidencial”. Essa mesma estratégia ocorreu no governo Dilma, que em meio à crise política de 2013, teve como principal auxiliar o polêmico marqueteiro João Santana. Para quem se interessar pelo tema vale ler o livro: João Santana um marqueteiro no poder, de Luiz Maklouf Carvalho.
“Atacar sempre foi uma atitude do PT, quando acuado”
Se juntarmos as peças deste quebra-cabeça podemos observar que a dança das cadeiras na Esplanada dos Ministérios se restringe, até o momento, ao PT, representantes da esquerda e ao novo marqueteiro.
A decisão de Lula de concentrar as mudanças apenas dentro do campo ideológico ocorrem em um contexto em que o presidente se depara com uma forte queda de popularidade.
Pressionado pelas últimas pesquisas, o presidente afirmou no último dia 27 que é preciso de “agressividade na política”. As declarações foram realizadas no bojo da mudança de Nísia por Padilha. Como bem destaca o cientista político, Sérgio Abranches, no livro Presidencialismo de Coalizão, “atacar sempre foi uma atitude do PT, quando acuado”.
Desconfianças e possíveis debandadas
Somado a esse DNA partidário, Lula também vive com o dilema de ter que realizar uma reforma no “condomínio político”, ocupado por representantes do Centrão que não querem assumir nenhum compromisso em relação à eleição presidencial de 2026 e que, inclusive, sinalizam pular do barco no médio prazo.
Sobre essa possibilidade de debandada é válido pegarmos algumas declarações recentes dos presidentes dos principais partidos do Centrão (União Brasil, PP, PSD e Republicanos).
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Presidente do União Brasil, Antônio Rueda, em entrevista à Folha de S.Paulo, no dia 7 de março: “Queremos que o governo dê certo. Mas, se o governo não melhorar, ninguém vai querer ficar”.
Presidente do PP, Ciro Nogueira, em entrevista à GloboNews, no dia 6 de março: “Eu acho muito difícil, impossível, que estes quatro partidos estejam com Lula na eleição de 2026. O meu, com certeza não estará”.
Presidente do PSD, Gilberto Kassab, em painel da Latin America Investment Conference, evento realizado pelo UBS, no dia 29 de janeiro: “Se fosse hoje, o PT não estaria na condição de favorito. Eles perderiam a eleição […] os partidos de centro estão criando uma alternativa para 2026.”
Presidente do Republicanos, Marcos Pereira, em entrevista ao Metrópolis, no dia 30 de janeiro: “Eu acho que esse campo (conservador) está aberto. Só espero, e seria muito bom, que todo ele estivesse unido em torno de um só nome. Se houver divisão, acho que fica mais difícil uma eleição neste campo contra uma reeleição de Lula”.
Incertezas e oportunidades
É dentro desse ambiente de incertezas políticas, de encastelamento do atual presidente, que o investidor vai navegar nos próximos meses.
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Somada às dúvidas e possíveis estranhamento ideológicos entre PT e seus aliados, sob a ótica do mercado financeiro ainda pairam uma apreensão a respeito da possibilidade de o presidente Lula apertar o botão de gastar mais, nesta segunda metade do mandato. (Confira em Resposta populista de Lula à baixa popularidade preocupa mercado).
Destaco ainda que para o investidor (institucional ou pessoa física) compreender minimamente o grau de governabilidade de um presidente pode ser a peça-chave para antecipar possíveis guinadas em Brasília, que vão impactar de forma negativa ou positiva a sua estratégia e planejamento patrimonial.
Sobre o timing de um possível desembarque do Centrão, você pode conferir no artigo em Mercado antecipa clima eleitoral e se movimenta a cada sinal de fraqueza de Lula. Vamos acompanhando.