- Para alguns, empreender é a única forma de colocar comida na mesa, tem um caráter de sobrevivência
- Muitos jovens empreendem para ajudar nas despesas da família, mas com o tempo, percebem que essa também é uma porta para realizar sonhos
- Trazer experiências práticas para jovens é uma ótima forma de estimular e colocar luz sobre talentos que às vezes não são revelados
Para algumas pessoas, pensar em empreender é imaginar formas de ficar rico e viver uma vida dos sonhos, com muita autonomia. Já para outros, é a única forma de colocar comida na mesa, portanto, tem um caráter de sobrevivência.
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Nas minhas andanças pelas escolas públicas de São Paulo com a Multiplicando Sonhos, encontrei muitos jovens empreendedores que iniciaram seus negócios por necessidade, para conseguir ajudar nas despesas da família. Mas, com o tempo, alguns percebem que empreender também é uma porta para realizar sonhos.
Na Escola Estadual Professor Apparecido Caran, na Vila das Belezas, zona sul da capital, conheci o aluno Vitor Reis vendendo bolos para colegas. Logo de cara, reconheci seu talento para negociação e vendas – e que bom que ele também reconheceu isso nele mesmo.
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Estávamos na escola ministrando nosso programa de educação financeira quando a fome bateu e decidimos ir à cantina para comprar algo para comer. No meio do caminho, me chamou a atenção um tumulto de alunos em volta de algo. Eu não sabia o que era exatamente, mas via todos saindo com potinhos na mão.
“Compra aí, professor, o bolo do Vitor é o melhor da região”, disparou um aluno. Logo pensei: com essa propaganda e quantidade de pessoas comprando, deve ser muito bom mesmo (depois constatei que, de fato, era ótimo).
Comecei um bate papo rápido com o Vitor ali mesmo para entender os motivos que o levaram à venda de bolos. Perguntei quem cozinhava e ele me disse que era a sua avó, enquanto ele ficava responsável pelas vendas. Uma sociedade e tanto.
Quando perguntei qual era o seu objetivo com as vendas, Vitor respondeu “ter independência financeira para comprar minhas coisas e realizar meus sonhos”. Mas também lembrou que, no início, não foi fácil: não conseguia enxergar nas vendas uma oportunidade, mas sim a necessidade de levantar dinheiro para ajudar nas contas de casa.
Foi com o tempo que Vitor foi desenvolvendo suas habilidades em vendas. Conforme elas iam aumentando, ele percebeu que poderia aprimorar cada vez mais o seu negócio e fazê-lo crescer a ponto de se tornar mais que um mero meio de subsistência familiar.
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Não quero, com isso, romantizar o fato de jovens da periferia terem que começar a empreender tão jovens para contribuir em casa. Isso é resultado de desigualdade social e causa diversos prejuízos a muitas famílias, contribuindo inclusive para a evasão escolar.
No entanto, trazer experiências práticas para jovens, de forma equilibrada, sem prejuízo aos estudos e aos planos de longo prazo, é uma ótima forma de estimular e colocar luz sobre talentos que, às vezes, nas aulas de química, física, português e história, não são revelados.
O empreendedorismo é, mesmo quando a única alternativa de uma pessoa, uma oportunidade de desenvolvimento. Ele faz um convite para a reflexão e o planejamento financeiro, aguçando o sentimento de autonomia e criatividade.
É preciso incentivar os jovens a empreenderem – não só dos centros urbanos, onde as startups e lojas de roupas de adolescentes ricos nascem, como também nas periferias, onde os talentos estão aguardando para serem descobertos.
Lembre-se de sempre valorizar quem acreditou nos seus rascunhos!
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