A investidora independente

Luciana Seabra é analista e planejadora financeira certificada (CNPI e CFP®), especialista em fundos e previdência. Fundou a Indê Investimentos, que tem como princípio a ausência de vínculo com corretoras, gestoras ou bancos. Foi premiada pela CVM pelo seu trabalho de educação financeira a investidores. Está nas redes sociais como @seabraluciana, no Instagram e no YouTube, e @luciana_seabra, no Twitter

Luciana Seabra

Fundo Tesouro Selic taxa zero versus poupança: quem ganha nessa disputa?

Primeiros fundos taxa zero nasceram em março de 2019. Conheça o produto, ideal para a reserva de emergência

Cofre de poupança. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
  • De 15 de março de 2019 até aqui, o primeiro fundo taxa zero rende 43,21% e a poupança entrega 26,87%, vantagem que não é eliminada pela incidência de impostos
  • A poupança cujo retorno segue a metodologia antiga, alterada em 2012, teve leve vantagem no período sobre o fundo taxa zero, dada o patamar historicamente baixo pelo qual a Selic passou, mas perdeu em 2023, com juros normalizados
  • O desempenho do fundo taxa zero também é uma boa referência para quem prefere o Tesouro Direto, já que esses produtos são uma cesta de títulos Tesouro Selic de diferentes vencimentos

A poupança vem encolhendo ano a ano como opção para reserva dos brasileiros, mas ainda é um mastodonte, com R$ 983 bilhões de patrimônio segundo dados do Banco Central (BC) recém-divulgados.

A saída da caderneta, que superou a entrada em R$ 87,8 bilhões só em 2023, tem sido atribuída ao gasto das famílias, mas também à educação financeira, que tem conduzido o fluxo para outros investimentos. Mas será que de fato tem sido uma boa decisão deixar o conforto da poupança?

O único investimento que vejo como um substituto claro para a poupança, do ponto de vista de risco baixo, liquidez rápida e praticidade, é o título Tesouro Selic. É consenso no mercado que, para o dinheiro de curto prazo, nada mais seguro do que emprestar para o dono da impressora, o governo.

Para o dinheiro da reserva de emergência, que pode ser usado a qualquer momento, minha opção favorita é investir no Tesouro Selic por meio dos fundos taxa zero, que surgiram, desde 2019, em diferentes corretoras. Eles são como o queijinho no palito servido de graça nos mercados para atrair clientes.

Recentemente, alguns infelizmente colocaram teto de R$ 100 mil de aplicações, mas seguem a melhor alternativa para a poupança, na minha opinião, além de muito prática. Você não precisa escolher o vencimento de Tesouro Selic que vai comprar, investe sempre no mesmo produto e, se pede o resgate pela manhã, o dinheiro está no mesmo dia na conta.

Vantagem dos fundos taxa zero

Do ponto de vista de custo, os fundos taxa zero são mais vantajosos do que o Tesouro Direto, que, mesmo em corretoras sem taxa, ainda conta com taxa de custódia da B3, de 0,2% ao ano. O fundo tem a desvantagem da antecipação de imposto feita pelo come-cotas, mas, para prazos curtos, o objetivo da reserva de emergência, ela pesa muito menos do que a taxa.

Pois bem, os primeiros fundos taxa zero, da Órama e do BTG, nasceram em meados de março de 2019. Então já existe um bom histórico disponível para avaliar sua vantagem em relação à poupança. De 15 de março de 2019 até aqui, o primeiro fundo taxa zero rende 43,21%, segundo dados do Quantum Axis. A poupança entrega 26,87%.

Em uma conta de padaria, retirados 15% de imposto incidentes sobre o fundo no período, ainda temos 36,73% de ganho, quase 10 pontos porcentuais de vantagem sobre a poupança. É uma diferença bastante expressiva para ser comida pela incidência de come-cotas, lembrando que ele é uma antecipação e não um imposto novo.

Nessa janela, dado o período em que a Selic ficou em patamares historicamente muito baixos, apenas a poupança antiga, aquela cujo retorno não varia em função da taxa básica de juros, ainda toma a dianteira, com 38,11% de ganho. E, mesmo a poupança antiga, que ganha vantagem contra os oponentes em raros períodos de juro muito baixo, fica prejudicada em janelas de Selic normalizada.

Veja o caso de quem investiu a reserva de emergência no primeiro dia de 2023 e resgatou ao fim dele. No ano, os fundos taxa zero renderam entre 13% e 13,2%. Vamos pegar o menor retorno para a análise. O ganho da poupança, tanto da antiga quanto da nova, foi de 8,04%.

Nesse intervalo, o imposto sobre o fundo é um pouco mais alto, de 22,5%, mas o come-cotas pesa menos, ao incidir só duas vezes. Temos assim o fundo com ganho aproximado de 10,1%. Ou seja, ainda com larga vantagem sobre a poupança, principalmente se considerarmos que não há risco adicional.

Fundos taxa zero versus Tesouro Selic

Para os fãs do Tesouro Selic, que também é uma opção melhor para a reserva do que a poupança (especialmente para até R$ 10 mil, em que não há custódia da B3), o resultado dessa análise é igualmente útil. Isso porque os fundos taxa zero são uma cesta de títulos Tesouro Selic de diferentes vencimentos.

Sendo assim, uma boa forma de começar a colocar em prática as metas financeiras para 2024 é trocar a poupança, especialmente se foi um dinheiro investido depois da mudança de regra de 2012, pelo fundo taxa zero de Tesouro Selic.

Infelizmente nenhum banco fez um produto do tipo ainda, dada a concorrência com seus caros fundos DI, mas você o encontra em algumas corretoras: BTG, Genial, Rico, Toro e XP. Está aí uma mudança fácil, segura e com retorno adicional relevante.