Descomplicando os investimentos

Luis Cláudio é Diretor Geral da Ágora Investimentos. Pós-graduado em mercado de capitais, ele soma mais de 35 anos de experiência no mercado financeiro. O seu objetivo é ajudar as pessoas que querem investir para concretizarem seus objetivos financeiros por meio da educação, análise e acesso à produtos de maneira acessível e descomplicada.

Escreve na primeira quarta-feira de todo mês.

Luis Cláudio Freitas

Tudo o que você precisa saber sobre renda fixa

Entenda tudo sobre uma das principais formas de investimento de maneira simples e prática

Fonte: Andrey Popov/Shutterstock
  • Independentemente do patamar da taxa de juros, ativos pós, prefixados e atrelados à inflação devem compor o portfólio do investidor
  • Quando se realiza um investimento em renda fixa, o investidor vai se deparar com 3 fatores principais: montante a ser investido, prazo do investimento e a taxa do título
  • De maneira geral, a Renda Fixa está sujeita tributação da tabela regressiva de Imposto de Renda, onde sobre o lucro incide uma determinada alíquota de acordo com o tempo que o recurso ficou investido

Não é segredo que a renda fixa é parte integrante de uma carteira de investimentos saudável e diversificada. Independentemente do patamar da taxa de juros, ativos pós, prefixados e atrelados à inflação devem compor o portfólio do investidor para fornecer a segurança e liquidez necessárias, no caso do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

Além disso, é importante trazer previsibilidade no retorno, considerando a parcela prefixada que deverá ser mantida até o vencimento e, por último, garantir proteção do poder de compra para a parcela atrelada à inflação.

A renda fixa é fixa mesmo?

A resposta para essa pergunta vai ficar muito mais a cargo do investidor do que do mercado em si. Se apareceu uma interrogação na sua cabeça, não se assuste. Nas próximas linhas tudo vai ficar mais claro.

Quando se realiza um investimento em renda fixa, o investidor vai se deparar com três fatores principais: montante a ser investido, prazo do investimento e a taxa do título.

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É preciso ter em mente que todos os ativos estão sujeitos à marcação a mercado, que nada mais é do que o processo de precificação daquele ativo ao longo do tempo ou, em outras palavras, quanto vale aquele ativo a cada novo dia, considerando especialmente a expectativa futura do patamar de juros da economia. Dessa forma, caso o investidor acompanhe diariamente a performance da sua parcela de renda fixa, especialmente a prefixada e a de inflação, vai reparar que a renda fixa oscila, e pode oscilar bastante. Essa é a marcação a mercado.

Na prática, ao observar o gráfico de um ativo prefixado, por exemplo – sugiro o site do Tesouro Nacional , você perceberá que a curva de performance do ativo não é linear. Ela tem altos e baixos a cada dia que se passa, efeito da marcação a mercado.

Sendo pragmático e respondendo na lata: a renda fixa é fixa mesmo? Caso realize o investimento e mantenha o título até a data de vencimento, a renda fixa é fixa sim. O investidor receberá a remuneração negociada durante todo o prazo do investimento, independentemente dos altos e baixos ocorridos no período.

Caso opte por resgatar antecipadamente, estará sujeito ao preço daquele dia (que pode ser melhor ou pior). Neste segundo cenário, é possível sim ganhar mais dinheiro, porém o investidor precisa estar ciente dos riscos envolvidos, especialmente o de mercado e o de liquidez.

Tributação

De maneira geral, a renda fixa está sujeita tributação da tabela regressiva de Imposto de Renda, onde sobre o lucro incide uma determinada alíquota de acordo com o tempo que o recurso ficou investido:

– até 180 dias – 22,5%
– de 181 dias até 360 dias – 20%
– de 361 dias até 720 dias – 17,5%
– a partir de 721 dias – 15%

Essa tributação é aplicável a todos os títulos, com exceção das LCIs (Letra de Crédito Imobiliário), LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio), CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio)
e Debêntures Incentivadas, que são isentos. Nesse sentido, é sempre recomendável fazer os cálculos para verificar qual título é mais vantajoso, analisando especificamente o prazo, a taxa e a respectiva tributação. Para facilitar, vamos comparemos dois títulos:

Um CDB-DI do banco A

  • Taxa de 115% CDI
  • Vencimento: 721 dias
  • Alíquota IR: 15%

Uma LCI-DI do mesmo banco A

  • Taxa de 100% CDI
  • Vencimento: 721 dias
  • Alíquota IR: ISENTO

Para comparar a rentabilidade de cada um, basta aplicar a alíquota da tributação que é aplicável em cada caso, de acordo com o prazo.

Para o CDB: 115 – 15% (IR para prazo > 2 anos) = 97,95% CDI

Para a LCI: 100 – 0 (isenta de IR) = 100%

Obviamente que você também pode realizar os cálculos utilizando os outros indexadores, mas o CDI é pós fixado logo, não é possível prever com exatidão qual será a taxa futura. O mesmo ocorre com os títulos atrelados à inflação, já que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)  é o componente pós fixado. Para o prefixado, como temos a previsibilidade da taxa durante o prazo de investimento, é possível calcular com exatidão.

Renda Fixa é segura?

Analisando sob a ótica de perder dinheiro, existem basicamente dois cenários:

  • Risco de Mercado onde de forma mais simples, comentei acima: quando o investidor precisa resgatar ou vender um título antes da data de vencimento, e neste momento, estará sujeito às condições de mercado, ao preço do título naquela data.
  • Risco de Crédito que é literalmente, a possibilidade de o emissor do título (seja um banco, uma empresa ou o próprio governo, no caso dos títulos públicos) não ser capaz de honrar o pagamento do mesmo; ou em uma palavra mais simples: calote.

Todos os títulos possuem um rating e crédito que nada mais é do que uma classificação atribuída por uma empresa credenciada para esta atividade sendo as mais conhecidas do público, a Moody’s, a Fitch e a Standard & Poor’s. Dessa forma, a taxa de remuneração de um ativo está relacionada também, ao risco atribuído ao emissor.

Fundo Garantidor de Crédito – FGC

O FGC é uma associação civil sem fins lucrativos que tem por finalidade proteger depositantes e investidores das instituições associadas e contribuir para a manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. Em outras palavras, pode ser considerado como um “seguro” ao investidor em casos de decretação de regime de intervenção ou de regime de liquidação extrajudicial por parte dos bancos e instituições credenciadas.

Na prática, há cobertura de até R$250 mil por CPF por instituição financeira/ conglomerado, e abrange dentre outros, os CDBs, LCIs, LCAs, LHs (Letras Hipotecárias) e LCs (Letras de Câmbio). Note que não há cobertura para ativos como títulos do Tesouro Direto e também para as debêntures. Para mais detalhes, você pode consultar a página do Banco Central do Brasil.

Preciso de muito dinheiro para investir em renda fixa?

A renda fixa também é bastante conhecida como “porta de entrada” para o mundo dos investimentos, especialmente quando falamos de títulos do Tesouro Nacional, onde é possível realizar o investimento a partir de R$ 30,00, aproximadamente; porém existem diversas alternativas, passando por títulos bancários ou de emissão privada, muitos a partir de R$ 100,00. Você tem acesso à alternativas de renda fixa não apenas através do seu banco mas especialmente através das corretoras, com centenas de diferentes opções.

Renda fixa na diversificação, ou diversificação na renda fixa?

A resposta para essa pergunta é simples: ambos!

Uma carteira de investimentos diversificada deve permear diferentes classes de ativos, dentre eles a renda fixa porém; porém dentro da parcela de renda fixa é possível realizar a diversificação: existem ativos atrelados ao CDI, com remuneração prefixada e também atrelada à inflação. É importante que o recurso alocado em renda fixa considere uma exposição a esses indexadores.

Para ilustrar melhor, em meu último texto apresentei uma tabela que ilustra de maneira bem didática os efeitos da diversificação em uma carteira, inclusive tratando do DI, IPCA, IMA-B e IRFM (ainda que o IPCA e IMA-B consideram a inflação, o primeiro é o índice oficial de inflação e o segundo, representa uma carteira teórica de títulos públicos atrelados à inflação).

No cenário econômico atual, a renda fixa tem desempenhado um importante papel na carteira do investidor, garantindo liquidez, previsibilidade da taxa prefixada e proteção do poder de compra contra o poder corrosivo da inflação, e reforço, deve fazer parte da carteira de todos os investidores, sejam eles iniciantes ou mais experientes.