- O mês de maio foi muito bom para os ativos brasileiros.
- Em parte, este movimento foi influenciado pela aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados.
- Os fatores externos, combinados com o avanço da reforma tributária no Congresso e continuidade da desaceleração dos indicadores de inflação, poderão dar um novo fôlego para a bolsa ao longo dos próximos meses.
O mês de maio foi muito bom para os ativos brasileiros. A bolsa (Ibovespa) subiu 3,74% e o índice de ações menores (SmallCaps) teve valorização superior a 13% somente no mês passado, conforme alertamos em nossa última carta macroeconômica e outras colunas anteriores por aqui.
Em parte, este movimento foi influenciado pela aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados numa versão melhor em relação àquela enviada pelo governo. Embora o arcabouço ainda precise ser aprovado pelo Senado, não esperamos grandes modificações nesta casa legislativa.
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O avanço do arcabouço ajudou a diminuir as taxas de juros futuras pela redução do prêmio de risco fiscal. Os juros futuros também recuaram em decorrência da expectativa de redução da taxa Selic no segundo semestre de 2023, conforme evidenciado pela curva com vencimento em janeiro de 2026.
A redução dos juros é condicionada à deseceleração da inflação. O IPCA-15 de maio ficou em 0,51%, abaixo do esperado (0,64%) e do resultado de abril (0,57%). Não houve apenas recuo do índice cheio, como também houve desaceleração das principais medidas de núcleos da inflação. A média dos núcleos passou de 0,45% em abril para 0,42% em maio.
Já o IPCA (cheio) de maio ficou em 0,23%, abaixo do esperado e de 3,94% no acumulado de 12 meses até maio, seguindo em queda do ritmo.
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Além da desaceleração da inflação corrente, as projeções inflacionárias recuaram no mês de maio, caminhando para um processo de ancoragem das expectativas de inflação. A projeção do IPCA que até pouco tempo estava ligeiramente acima de 6%, agora se encontra em 5,69%, de acordo com a última divulgação do relatório Focus do Banco Central.
Todos esses fatores contribuíram para a queda dos juros futuros, impulsionando a valorização da bolsa pela redução dos prêmios da renda fixa e pela elevação do valor das empresas (diminuição do custo de capital).
A elevação do Ibovespa não ocorreu apenas pela queda dos juros, mas também pela divulgação de alguns indicadores de atividade econômica acima do esperado. Em maio, foram divulgados os dados de varejo e serviços referentes a março. No mês, o setor de serviços cresceu 0,9% (projeção de 0,5%) e as vendas no varejo aumentaram 0,8% (projeção de queda).
Já no mercado de trabalho, a taxa de desemprego no trimestre móvel em abril ficou em 8,5%, abaixo da projeção de mercado (8,9%) e do resultado do trimestre móvel anterior (8,8%).
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O melhor desempenho desses indicadores pode ser resumido no crescimento do PIB em 1,9% no 1º trimestre de 2023 (projeção do mercado de 1,3%). A elevação do PIB decorreu do avanço de 0,6% em serviços, mas principalmente pelo forte crescimento da agropecuária (21,6%).
Sem dúvida, o PIB acima do esperado é uma excelente notícia. Porém, a queda de 3,4% dos investimentos traz preocupações para uma retomada mais robusta do crescimento da economia brasileira.
Outra fonte de preocupação é o cenário externo. O desaquecimento da economia global (recessão nos EUA e menor crescimento da China) tem derrubado o preço das commodities, o que nos afeta diretamente.
Por outro lado, tudo indica que o aperto monetário dos EUA está chegando ao fim. Com isso, o Fed Fund Rate deverá permanecer por um tempo no intervalo de 5% a.a a 5,25% a.a. A estabilidade da taxa de juros nos EUA tende a valorizar o nosso câmbio, favorecendo os investimentos (importação) e o processo de desinflação de nossos preços.
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Outra boa notícia advém da intensificação da política fiscal expansionista da China, cujo objetivo é elevar o crescimento do PIB do gigante asiático. Um maior crescimento da China eleva o crescimento do Brasil, impulsionado principalmente as ações ligadas às commodities.
Os fatores externos, combinados com o avanço da reforma tributária no Congresso e continuidade da desaceleração dos indicadores de inflação, poderão dar um novo fôlego para a bolsa ao longo dos próximos meses.