Comportamento

Investidora busca dar autonomia a mulheres pela educação financeira

Projeto foi criado por Júlia Abi-Sâmara após uma situação de machismo e hoje já reuniu 2,7 mil alunas

Investidora busca dar autonomia a mulheres pela educação financeira
Júlia Abi-Sâmara criou os As Investidoras para ajudar mulheres a conquistar a independência. (Foto: Arquivo Pessoal)
  • Tudo isso começou em 2019, depois que Júlia Abi-Sâmara foi colocada de frente a um pensamento ainda muito comum no mercado financeiro: investimento não é coisa de mulher
  • Abi-Sâmara resolveu encarar o machismo de frente, foi atrás de informações e entrou de vez para o mundo dos investimentos, ensinando também as amigas. Resultado disso surgiu o As Investidoras, uma empresa de educação financeira para mulheres
  • Na quarta-feira (29), Abi-Sâmara fará parte do painel “Dinheiro é Independência” no Young Women Summit, evento gratuito promovido pela Fin4She, com o apoio editorial do E-Investidor

Quem entra no site oficial do As Investidoras encontra alguns depoimentos que saltam aos olhos:

“Sempre tentei entender qual seria a melhor forma de poupar e investir, mas em todos os lugares que eu procurava só achava termos complicados e parecia alguma coisa longe demais da minha realidade.”

“Quando segui esse perfil, me senti acolhida pela forma com que você explica, não me senti ‘burra’ em nenhum momento.”

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“Eu sempre quis investir e sempre tive muito medo por não entender nada sobre.”

“Sabe quando a gente entende algo, vira uma chavinha e tudo faz sentido?”

O projeto As Investidoras, uma empresa de educação financeira para mulheres criado pela investidora Júlia Abi-Sâmara, ajuda o público feminino a dar os primeiros passos no mundo dos investimentos em busca da autonomia financeira.

Tudo isso começou em 2019, depois que Abi-Sâmara, à época na faculdade, foi colocada de frente a um pensamento ainda muito comum no mercado financeiro: investimento não é coisa de mulher. A jovem, que ainda não investia nem sabia nada sobre o assunto, tentou participar de uma conversa em que um grupo de colegas homens falava sobre investimentos, mas não foi bem recebida.

“Desde criança eu sempre soube da importância de cuidar das finanças, mas investir parecia uma coisa muito distante, coisa de gente que já tinha muito dinheiro ou homens. Quando eles caçoaram de mim, dando a entender que eu nunca seria capaz de investir, foi uma situação muito desconfortável, mas um gatilho para que eu decidisse aprender sobre o assunto”, conta.

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Júlia Abi-Sâmara resolveu encarar o machismo dos colegas de faculdade de frente. Foi atrás de informações, cursos e até integrou uma turma de capacitação promovida em conjunto pelos bancos de investimentos Goldman Sachs, BNP Paribas, UBS e Deutsche Bank.

Depois de colocar a teoria em prática e entrar de vez para o mundo dos investimentos, a jovem percebeu que aquele sentimento de autonomia financeira que havia conquistado estava lhe ajudando em outras áreas da vida. Mais independente e com auto estima alta, Abi-Sâmara logo começou a repassar o que sabia para as amigas mais próximas. Se reuniam na sua própria casa, faziam um “aulão” com o básico e iam aprendendo juntas o caminho para os investimentos. Ali surgia o As Investidoras.

Não demorou muito para que, de boca em boca, uma amiga fosse chamando outra e o projeto fosse se expandindo – até que os encontros presenciais foram interrompidos com a chegada da pandemia da Covid-19 em 2020. O isolamento obrigou Abi-Sâmara a migrar a ideia para o digital.

Com o perfil do Instagram crescendo e, com isso, a demanda por um curso remoto, aquelas aulas de cerca de três horas apenas para as amigas se transformaram em um curso online de introdução aos investimentos de cerca de 30 horas. E que já atraiu três turmas, com mais de 2,7 mil alunas no total.

A missão do projeto é incentivar e ajudar mulheres a buscarem a sua independência financeira. Para além daqueles objetivos comuns de serem encontrados em páginas de investimento sem essa preocupação de gênero – o primeiro milhão antes de X idade, uma quantia Y em dividendos, poder ser o seu próprio chefe –, o As Investidoras quer utilizar as ferramentas do mercado financeiro com um objetivo maior, a liberdade.

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“O dinheiro pode ter significados diferentes para as pessoas e, quando se trata de mulheres, tem alguns pontos a mais que devemos levantar. Existem estudos que mostram que muitas não conseguem sair de relacionamentos abusivos por terem uma dependência financeira do seu companheiro. Quando a gente ensina essas mulheres a cuidar do próprio dinheiro, estamos dando autonomia para elas”, defende a investidora.

E a máxima não vale apenas para relacionamentos. Abi-Sâmara conta a história de uma aluna que vinha sendo assediada no trabalho, mas que não podia se demitir imediatamente apesar de querer, pois não tinha uma reserva financeira que segurasse as contas até que ela conseguisse um novo trabalho.

“A questão financeira pesa muito e faz com que mulheres tenham que ficar em ambientes que não querem estar. Existem diversas situações que a gente passa e que, em geral, os homens não passam; e ter um certo planejamento financeiro ajuda a sair disso. Tem muito a ver com liberdade, autonomia e o poder de fazer as próprias escolhas”, diz.

Na quarta-feira (29), Abi-Sâmara fará parte do painel “Dinheiro é Independência” no Young Women Summit, ao lado de Marília Fontes, da Nord Research, Morena Carvalho, do BTG Pactual e Ellen Steter, da Ágora Investimentos. Na quarta-feira e na quinta-feira (30), o summit gratuito promovido pela Fin4She, com o apoio editorial do E-Investidor, vai reunir grandes nomes do mercado financeiro para discutir carreira e liderança para jovens mulheres no mercado financeiro.

As inscrições podem ser feitas no site: https://www.fin4she.co/yws-2022.

Por onde começar

Quando o assunto é começar a investir, muita gente no mercado já conhece a velha receita: traçar o próprio perfil de risco, começar pela reserva de emergência, depois aplicar em investimentos mais seguros como a renda fixa e só mais tarde partir para a renda variável. Mas para quem nunca teve contato com o assunto, até seguir a receita pode parecer complicado.

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O que é CDI? E liquidez? Como escolher a melhor corretora? Qual a diferença dos títulos pós e prefixados? As perguntas são várias.

O curso do As Investidoras montado por Júlia Abi-Sâmara é voltado para mulheres que, assim como ela há alguns anos, ainda não sabem nada do mundo dos investimentos. Mas não é preciso ter medo: com estudo, tempo e paciência dá para colocar o os primeiros passos em prática para poder ostentar o título de “investidora”.

Abi-Sâmara conta que, quando começou a estudar não conseguia se ver – e menos ainda se sentir acolhida – nos cursos e materiais que encontrava; grande maioria feito por homens, para homens. Por isso, recomenda a mulheres iniciantes no assunto que comecem a estudar o mercado financeiro na companhia de amigas ou familiares.

“Chame amigas ou familiares para aprender junto, encontre uma outra mulher ou alguém com quem você se identifique que esteja ensinando, porque de primeira não é um ambiente muito acolhedor. É super importante criar um espaço seguro para que esse aprendizado seja mais leve, mais gostoso. Não precisa ser uma coisa pesada”, diz.

E deixar a insegurança de lado é um movimento fundamental. Quando o assunto é dinheiro, muitas mulheres costumam deixar a “síndrome de impostora” tomar conta; aquela sensação, por vezes irreal, de que as suas capacidades estão sendo superestimadas e que seus sucessos são resultado da sorte ou acaso ao invés de merecimento e esforço.

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A própria fundadora do As Investidoras passou por isso: “Quando eu estava aprendendo, eu lembro que eu cheguei a um ponto em que já entendia do assunto, se alguém me perguntasse eu sabia explicar,. Porém, eu não colocava em prática porque sempre achava que precisava saber mais alguma coisa”. Agora, Abi-Sâmara quer incentivar as alunas a não deixarem o medo de não serem boas o suficiente as impedir de dar o primeiro passo.

“Não fique questionando tanto a sua capacidade. Eu vejo muitas alunas acharem que precisam entender 100% do assunto antes de colocar em prática. Dê o primeiro passo, mesmo que seja pequenininho, como começar a reserva, abrir a conta na corretora. A gente precisa disso para sair dessa zona de insegurança”, aconselha.

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