O que este conteúdo fez por você?
- Em 2010, Liliane Varanda havia iniciado sua carreira como servidora pública. Especificamente, na área de políticas públicas do governo. Contudo, sentia falta de ver mais de perto o impacto do trabalho
- Foi nesse momento, de questionamentos, em que ela conheceu o pole dance - modalidade complexa, que mescla movimentos ginásticos e de dança
- A primeira aula foi “confusa”, já que o estúdio era pequeno e só tinha uma barra. Mesmo assim, foi amor -- e oportunidade de negócio -- à primeira vista
Liliane Varanda havia iniciado sua vida profissional como servidora na área de políticas públicas do governo em 2010. Ela cumpria horário das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira, mas sentia falta de ver um impacto maior do seu trabalho na vida das pessoas. Nesse momento, ela conheceu o pole dance – modalidade complexa, que mescla movimentos ginásticos e de dança em uma barra vertical fixa – e iniciou a sua transição de carreira.
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“Eu tinha uma melhor amiga que se casou e resolveu fazer uma aula de pole de dance para surpreender o marido e eu fui junto”, diz Varanda. Foi amor – e oportunidade de negócio – à primeira vista. “Fui aluna de pole por quatro anos, mas sempre observava alguns fatores, como a distância, a estrutura e a lotação. Mesmo com pouca estrutura, os estúdios estavam sempre cheios de alunos”, diz Varanda. “Eu pensei: isso aqui deve ser um negócio muito bom.”
Em 2014, ela se uniu a sua melhor amiga e outras duas professoras do estúdio para se lançarem no mercado de pole dance. A ideia das quatro sócias sempre foi abrir um espaço nos arredores da movimentada Avenida Paulista, em São Paulo. Com um investimento inicial de R$ 80 mil (R$ 20 mil de cada uma), alugaram um imóvel de 100 metros quadrados na Consolação com 10 barras disponíveis. Era o começo do “Studio Metrópole”, hoje o maior de São Paulo, com 600 alunos ativos, uma grade de 100 aulas semanais e um faturamento anual de R$ 1,7 milhão.
Depois do investimento inicial para o imóvel, a empreendedora conta que não tirou mais dinheiro do bolso para fazer a empresa rodar até meados de 2020. Contudo, foi necessário vencer alguns medos e preconceitos. Ela, que ainda atuava como servidora pública, tinha receio do estigma associado à modalidade de pole dance. Inicialmente, pretendia ficar nos bastidores, cuidando da administração, sem dar aulas.
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“Não deu certo. No primeiro momento, as donas davam aulas, faziam a recepção e cada uma ficava em um turno, portanto, a gente rodava praticamente sem custos”, diz Varanda. “Quando começou a entrar dinheiro, contratamos uma faxineira. Foi nossa primeira contratação. Depois, contratamos recepcionista, a primeira funcionária CLT”, afirma. O jeito foi conciliar as rotinas: das 8h às 17h trabalhava no cargo público e no contraturno, das 18h às 22h, cuidava do estúdio de pole dance.
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O esforço deu frutos. Rapidamente, já havia várias alunas matriculadas no Metrópole. Foi aí que começaram a buscar diferenciação: contrataram um coaching norte-americano para ensinar novas metodologias de aprendizado. Inauguraram aulas temáticas, como “pole de salto” e “pole sensual”, que fizeram sucesso. Também fizeram consultoria no Sebrae, para entender sobre como equilibrar os preços das aulas. Na época, a orientação do consultor foi “otimizar” o trabalho em vez de cobrar mais pelos serviços.
“Sempre fomos muito conservadores em relação ao preço e rapidamente a viramos líder de mercado, mas batia aquela insegurança de subir os valores das aulas”, afirma Varanda. “Tivemos muito cuidado com os professores, de ir aumentando os salários deles conforme o fluxo de alunas aumentava. Eles ganham um valor fixo e um variável, pela quantidade de alunos.”
Varanda tem razão de ter cuidado com os preços. Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em finanças, explica que é preciso ter atenção para não cobrar pouco demais, e ter prejuízos, ou extrapolar os valores para cima e afastar a demanda. “Para calcular quanto cobrar, faça a soma de todos os custos envolvidos, defina a margem de lucro desejada e pesquise os preços do mercado. O preço final deve cobrir seus custos, garantir lucro e estar alinhado ao valor percebido pelos clientes”, diz Glaciano. “Você pode usar a fórmula: preço = custos + lucro.”
Como lidar com as dívidas do novo negócio
A ampliação do Studio Metropole ocorreu em 2017, para um imóvel de 500 metros quadrados também na Consolação. O espaço era cinco vezes maior do que o primeiro, com três amplas salas para aulas. O aluguel saltou de R$ 4 mil, no antigo espaço, para R$ 25 mil ao mês. O grande passo gerou receio, mas atingir o ponto de equilíbrio não foi difícil. Até porque a decisão de mudar aconteceu em função do excesso de demanda de alunos.
“Chegou uma hora em que não tínhamos como atender todos no antigo imóvel e tínhamos que indicar outro estúdio”, diz a empreendedora. Nessa época, de expansão do negócio, conciliar o serviço público com o Metrópole se tornou impossível. Foi só neste momento em que Varanda decidiu pedir uma licença não-remunerada e se afastar do cargo por um tempo. Hoje, ela voltou a exercer a profissão em paralelo com a empresa de pole dance.
Para Carol Stange, educadora em finanças pessoais, a empreendedora fez o que é indicado para quem pretende fazer uma transição de carreira. Ou seja, construiu uma reserva financeira, validou a ideia e testou o mercado em que pretendia entrar antes de largar o serviço público – uma vez que os estúdios que Varanda frequentava, mesmo pequenos, viviam lotados – e buscou capacitação para a gestão. “Se possível, inicie o negócio em paralelo ao seu atual emprego, para testar o modelo e construir uma base de clientes”, indica Stange, a quem pretende empreender.
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O maior desafio, no entanto, ocorreu em 2020, na pandemia de covid-19. Sem poder abrir o estabelecimento, o Metrópole começou a oferecer aulas online de modalidades variadas. Em meados de 2021, após liberação do governo de São Paulo, os comércios voltaram a abrir, mas com 30% da capacidade. Para Varanda, isso significou atender no máximo três alunas por sala, quando o normal era dez.
As dívidas se acumularam no período e as três sócias acabaram desistindo do negócio. Não venderam as participações, somente doaram as fatias para Varanda, já que as finanças da empresa não iam bem. A especialista em políticas públicas se viu sozinha para administrar um passivo de R$ 200 mil, montante composto principalmente por dívidas referentes ao aluguel do espaço. Mesmo em uma situação complexa, ela não entregou os pontos.
“Eu tinha muita confiança na comunidade do pole dance, que é muito unida. Eu pensei: ‘Gente, eles não vão me deixar falir desse jeito’. Aí comecei a falar com as clientes de forma muito objetiva, e também com os professores, que estavam reticentes em voltar às aulas presenciais”, diz Varanda. Ela conseguiu um desconto de 50% do aluguel com o proprietário do imóvel e precisou subir em 20% o preço das aulas para equilibrar as contas.
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Passado o susto da crise sanitária e pagos os R$ 200 mil de passivo, Varanda se vê feliz hoje e com uma vida financeiramente confortável. “Eu me apaixonei por dar aulas de pole dance. O impacto na vida das pessoas é muito claro”, afirma. “O pole tem uma comunidade mais vulnerável, de mulheres independentes ou que por vezes ainda não encontraram seu lugar na sociedade. Já vi alunas que vieram com os maridos – eles tinham que conhecer o estúdio e ‘autorizar’ as aulas –, temos uma presença forte na comunidade LGBT também. Muitos alunos começam a frequentar as aulas para depois sair do armário.”
A pandemia foi um momento atípico, que afetou vários tipos de comércios. Contudo, ter problemas com dívidas não é incomum na vida de um empreendedor. O importante é não virar as costas para o problema, mas tentar soluções para os valores pendentes, como ocorreu com Varanda na negociação com credores, professores e alunas.
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Glaciano, planejador financeiro, recomenda que nesta situação o empreendedor comece fazendo uma análise detalhada das finanças do negócio para entender qual o valor total das dívidas, as taxas de juros e prazos. Em seguida, dê prioridade a débitos com maior impacto financeiro, como aqueles com juros mais altos.
“Renegocie prazos e condições com os credores, buscando alternativas mais favoráveis, como refinanciamento ou alongamento de dívida. Reduza custos desnecessários, aumente a eficiência operacional e, se possível, crie novas fontes de receita“, diz o planejador. “Mantenha o controle rigoroso do fluxo de caixa (entrada e saída de dinheiro da conta da empresa) e, se necessário, considere ajuda especializada em reestruturação financeira.”
Pioneiros no mercado de pole dance
O Studio Metrópole é o maior de São Paulo, mas está longe de ser o único. Um mercado formado majoritariamente por mulheres empreendedoras cresce em torno da modalidade. Na Vila Clementino, por exemplo, há o “Cia Cadance”, liderado pelas sócias Carla Ramalho e Lu Bartollo. O estúdio tem 150 alunos, 8 professores, e fora o pole dance, oferece circo e pilates.
Formada em educação física, Ramalho já tinha uma academia de dança tradicional em meados de 2008, quando conheceu o “pole dance” em uma balada em que frequentava. “Teve uma apresentação incrível de pole de uma bailarina sensacional chamada Alexandra Valença, que foi professora da atriz Flávia Alessandra da novela Duas Caras. Fiquei encantada com a apresentação dela”, diz.
No final, a empreendedora acabou tendo aulas com Valença, fez workshops fora do País e decidiu trazer a modalidade para o estúdio de dança. Houve muitas dificuldades, já que na época não existiam empresas nacionais que fabricassem a barra de metal. Todos os equipamentos precisavam ser importados. “Nós não tínhamos condições de fazer esse investimento. Então o meu marido começou a fazer nossas barras com corrimãos de escadas. Ele descobriu que era o mesmo material e fez muitos projetos até um dar certo”, diz Ramalho. Em 2014, Ramalho decidiu focar na maior paixão e abriu o “Cia Cadance”, focado no pole dance. O investimento inicial foi de R$ 12 mil, mas as contas não fecharam nos primeiros meses.
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Durante um ano, ela precisou trabalhar em outros dois empregos, como educadora física e professora de dança, até que o negócio se manteve “sozinho”. A pandemia também foi um ponto financeiramente sensível. Sem caixa, Ramalho passou por dificuldades até conseguir uma sócia-investidora em 2021, que reformou o espaço enquanto ela ministrava aulas online e individuais para as alunas.
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“Isso nos ajudou a crescer e sairmos de uma salinha de 50 metros quadrados para um espaço de 200 metros quadrados”, diz Ramalho. “Ainda não recuperamos o investimento, mas o estúdio se paga e já tem um pequeno capital de giro“, afirma. Hoje, o Cia Cadance tem um faturamento líquido de R$ 80 mil por ano. Para 2025, o sonho é abrir uma filial.
Para quem não conhece, caixa e capital de giro são termos-chave para a saúde financeira de um negócio. Segundo Stange, educadora financeira, o caixa consiste no dinheiro disponível na conta da empresa, utilizado para pagar despesas imediatas, como aluguel, salários e fornecedores. Já o capital de giro diz respeito ao recurso necessário para financiar as operações do negócio no curto prazo. “A principal diferença entre eles é que o caixa representa o dinheiro disponível no momento, enquanto o capital de giro engloba também outros recursos que podem ser convertidos em dinheiro rapidamente, como estoques e contas a receber”, diz a especialista.
Os pole dancers autônomos
No mercado de pole dance, fora os fundadores de estúdios, há ainda uma ampla gama de profissionais autônomos, sejam instrutores, performers ou ambos. Geralmente, a remuneração desses atletas e bailarinos é variável – ou seja, depende da quantidade de aulas ministradas na semana ou apresentações feitas.
Maya Vieira, instrutora de pole dance, começou a se dedicar à profissão em tempo integral há dois meses. Contudo, começou a praticar há dez anos, quando estava se recuperando de uma séria lesão muscular por estresse. Com 18 anos, começou a trabalhar na administração de uma academia que oferecia o pole dance entre as modalidades.
O pole se tornou profissão quando a professora responsável pelas aulas engravidou e precisou de uma substituta durante a licença-maternidade. Este foi o impulso que Vieira, aos 25 anos, precisava para entrar no mercado. Ela já havia participado de formações profissionais para instrutores, mas nunca tinha encarado as aulas. “Essa professora foi me treinando, me orientando, até eu me sentir um pouco mais confortável. E aí quando ela saiu de licença eu assumi as aulas e nunca mais parei”, conta.
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Durante quase três anos, ela se dividiu entre as aulas de pole e o trabalho CLT na academia. Agora, também cursando a faculdade de educação física, decidiu focar no sonho. “Eu não estava feliz fazendo o que eu fazia. Brilhava muito mais nos meus olhos quando eu estava dando aulas de pole dance”, diz Vieira. “Claro que eu tinha medo e insegurança, financeiramente falando, de largar o emprego CLT. Mas hoje eu sei que tem demanda. Antes de eu decidir focar no pole dance, já estava com meus horários disponíveis para aulas zerados, trabalhando em período integral.”
Vieira também fez o que é recomendado em processos de transição de carreira: conciliou até onde pode as duas profissões, antes de largar o emprego fixo. Hoje, ela tem seis alunos particulares e cuida de dez turmas em três estúdios. A remuneração vinda do pole dance já cobre os ganhos como CLT na academia – cerca de dois salários mínimos. E este é só o início. “Como eu acabei de mudar de profissão, ainda tenho horários vagos a serem preenchidos”, diz a instrutora, que se diz mais feliz após a virada para o empreendedorismo. “Me sinto mais inteira, porque antes, quando eu chegava em casa para dar aulas de pole – o que eu mais gosto – já estava exausta”, afirma a pole dancer.
Vieira também integra o projeto “Perifa no Pole”, que busca desde 2022 promover a inclusão de pessoas negras e periféricas na modalidade, por meio de aulas gratuitas. Entre 40 e 50 alunos frequentam os treinamentos e há, ainda, uma lista de espera. Este é um jeito, também, de Vieira “devolver” os benefícios que a modalidade trouxe a ela e que agora se tornou sua fonte de renda principal.
5 dicas para abrir um negócio e manter suas finanças pessoais seguras
Fazer uma mudança de carreira não é uma tarefa fácil, principalmente quando esse recomeço profissional inclui abrir mão de um emprego fixo para empreender. Ou seja, trabalhar em um novo negócio cuja renda é variável. Para não se enrolar, é essencial ter planejamento financeiro.
Simone Carvalho Santos, economista, CFP® e CEO do Grupo NanoCapital, Paulo de Jesus Viana de Sousa, especialista de crédito Ceape, e Rodrigo Cohen, planejador financeiro, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, listam cinco dicas para manter suas finanças pessoais seguras ao abrir uma empresa.
A sua ideia de negócio é viável?
Antes de deixar o emprego fixo ou ainda começar a se preparar financeiramente para abrir um negócio, é preciso entender qual o seu “plano de negócio”. Cohen, que começou a empreender com 15 anos, deixa alguns conselhos.
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“São tantas perguntas que você deve se fazer. Por exemplo: qual o seu nicho? Qual o tamanho do seu público potencial? Como é a concorrência? Você conseguirá empreender em paralelo com o emprego fixo? Consegue começar sozinho ou precisará montar uma equipe? Qual a previsibilidade de receita? Vale a pena mesmo? Se der errado, você tem plano B?”, dispara Cohen. “Antes de qualquer coisa, saber qual será o plano e o nível de risco que está disposto a correr é o mais importante.”
Faça um “raio-x” das suas finanças pessoais
Passada essa fase de questionamentos e montagem do plano de negócios, o primeiro passo consiste em organizar e manter as finanças pessoais em dia. Faça um orçamento detalhado das suas fontes de renda e despesas mensais. Desta forma, terá um “raio-x” da sua situação financeira e os riscos de abrir mão de uma remuneração fixa. “Isso te dará uma visão clara de onde seu dinheiro está indo e onde você pode cortar gastos para economizar mais”, afirma Santos.
Caso você tenha dívidas pessoais, não as ignore. Liste todos os débitos pendentes, as taxas de juros e prazos para pagamento. Dê prioridade a dívidas com juros mais altos, pois isso reduzirá o montante total que você pagará ao longo do tempo. “Analisar as taxas é fundamental. Muitas vezes, sai mais barato consolidar todas as dívidas e realizar um empréstimo com juros mais baixos para quitá-las, o que é muito comum em caso de dívida de cartão de crédito, por exemplo”, diz a economista. Essa também é a visão de Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos. “A primeira atitude é quitar as dívidas mais caras (juros mais altos) e a segunda, quitar dívidas que limitem seu acesso a crédito e produtos.”
Construa uma reserva de emergência “pessoal” e outra para o “negócio”
Uma vez que as finanças estão em ordem e você sabe suas despesas e fontes de renda, chegou o momento de pensar em construir uma reserva de emergência “pessoal”, antes de abrir um negócio. “No cenário ideal, antes de deixar o seu emprego atual o empreendedor deve juntar o suficiente para cobrir pelo menos seis meses do seu custo de vida, permitindo que empreenda com mais tranquilidade”, aponta Santos, da NanoCapital. “Tenha uma reserva financeira que cubra de seis a 12 meses das contas essenciais (moradia, alimentação, entre outras demandas). Isso dá segurança enquanto o negócio ainda não retorna lucro“, reforça Sousa, especialista de crédito Ceape.
Depois do “raio-x” das finanças e da reserva de emergência pessoal, é preciso mapear todas as despesas que a empresa demandará mensalmente. Assim, o empreendedor poderá construir uma reserva de emergência para o negócio, que seja suficiente para cobrir pelo menos seis meses do funcionamento da companhia. A reserva de emergência do negócio é o chamado “caixa”. “Resumindo: junte dinheiro para se sustentar por até 12 meses e para manter o negócio rodando por seis meses. Assim, você começa mais preparado e sem tanto peso financeiro”, diz Sousa.
Defina sua “nova” remuneração, mas sem exageros
Um dos principais fatores para o fracasso no empreendedorismo está em confundir o dinheiro do empreendedor com o dinheiro da empresa. O dono do negócio, então, precisa definir um “pró-labore”, um salário que destinado a ele. Cohen, da Escola de Investimentos, indica que o empresário deve calcular as despesas pessoais fixas para chegar ao valor ideal. “Mas precisa ter um planejamento para ter certeza que esse salário será possível de ser gerado. Não adianta colocar como pró-labore um salário igual ao que ganhava no emprego fixo, sendo que a empresa não vai conseguir gerar isso”, diz Cohen.
Outra dica para uma fase mais avançada do negócio consiste em atrelar a remuneração ao lucro líquido – tudo aquilo que “sobra” para a companhia após as despesas e impostos serem pagos e os custos, descontados. Sousa aponta que, tradicionalmente, os fundadores ganham entre 10 a 30% desse montante. “Isso garante que o dono receba conforme o negócio cresce”, diz o especialista em crédito. “Busque um equilíbrio: se pague, mas deixe dinheiro para o crescimento da empresa”, afirma Sousa.
Busque qualificação para gestão
Ser empreendedor significa também entender sobre a saúde financeira de uma empresa. É imprescindível a busca por qualificação profissional e aperfeiçoamento para gestão. Santos, da Nano Capital, aponta alguns conceitos básicos que todo empresário precisa dominar: fluxo de caixa (entrada e saída de dinheiro), margem de lucro (porcentual do lucro em relação à receita), retorno sobre investimento (o “ROI” determina quanto a empresa ganhou em cada investimento feito) e ponto de equilíbrio (o momento em que as receitas passam a cobrir as despesas).
Sousa, da Ceape, também ressalta alguns outros conceitos importantes, como a diferença entre o lucro bruto (o que sobra da receita depois de pagar os custos diretos de produção) e lucro líquido (o valor final depois de descontar todas as despesas, como aluguel e impostos), além do famoso “capital de giro”, o dinheiro necessário para as despesas diárias.
Por último, Cohen estabelece uma máxima, principalmente para quem pensa em fazer uma transição de carreira abrindo um negócio. “O conceito financeiro mais básico do empresário é que ele não pode gastar mais do que ganha. É a base da pirâmide. Na vida pessoal é assim e na empresarial mais ainda, porque o empreendedor irá contratar pessoas que não esperam ser mandadas embora do nada ou deixar de receber o salário fixo”, diz. “Até porque não é tão fácil contratar e demitir pessoas e terá famílias dependendo de você, é uma responsabilidade muito grande.”