Na quarta-feira, a moeda norte-americana fechou em alta de 1,06%, alcançando o valor de R$ 5,2084 – a maior cotação desde 18 de abril, quando atingiu R$ 5,2502. Com os ganhos observados hoje, ao longo do mês acumula-se uma ligeira alta de 0,31%.
Segundo Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos, o título do Tesouro do governo dos EUA é considerada a renda fixa mais segura do mundo e está pagando taxas bastante atrativas atualmente, em torno de 4,5% para um período de quatro anos. “Isso significa uma rentabilidade sólida em dólar. Enquanto não houver incentivos para um retorno significativo, não vale a pena se arriscar em mercados emergentes”, diz
De acordo com Vitor Miziara, analista CNPI e sócio da Performa Ideias, a rolagem de dívida de títulos anunciada pelo governo americano, em que títulos antigos são recomprados e novos são emitidos com prazos mais longos, totalizou US$ 140 bilhões, retirando dinheiro dos mercados financeiros do mundo todo. “Apesar de ser um número elevado, esse valor é relativamente pequeno diante da dívida total dos EUA, que é de 34 trilhões de dólares. Então, essas rolagens se tornarão mais comuns no futuro”, diz.
Segundo Marcos Weigt, responsável pela tesouraria do Travelex Bank, a perspectiva para o dólar no curto prazo foi ajustada para um piso de R$ 5,07, em contraste com a projeção inicial de R$ 4,90 feita no início do ano.
De acordo com Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, há uma combinação de fatores que impactam o dólar, especialmente a indefinição sobre quando os EUA começarão a cortar os juros.
Essa incerteza tem exercido pressão sobre as taxas de juros, refletindo-se, por sua vez, na taxa nacional, o que tem causado tensão nas curvas e impactado tanto a B3 (a Bolsa de valores brasileira) quanto o câmbio.
No Brasil, os dados recentes têm mostrado mercados de trabalho mais robustos do que o previsto, sugerindo uma resiliência na economia nacional, juntamente com um desempenho fiscal superior às expectativas. Nesta quarta, o desemprego retornou ao patamar de 7,5%.
O Banco Central (BC) está avaliando esses indicadores, além do panorama internacional, devido ao seu impacto na desaceleração da inflação e nos riscos fiscais. “Esses elementos apontam para uma postura mais cautelosa e menos flexível por parte do Banco Central em relação à nossa taxa de juros, o que também tem influenciado o mercado cambial”, diz Sung.
3 indicativos sobre a tendência do dólar nas próximas semanas
Postura dos diretores do Federal Reserve
Além dos discursos dos membros do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) e da comunicação oficial, a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto (FOMC) tem contribuído para essa tendência, dada a postura conservadora expressa.
A menção à possibilidade de aumento das taxas na ata, apesar de não ser o cenário principal, exerce pressão sobre a curva de juros, especialmente frente a indicadores econômicos robustos, como os números preliminares do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) para maio.
Nos próximos dias, os dados finais do IPC, juntamente com o Índice de Preços ao Produtor (IPP) e a decisão de política monetária do Fed serão importantes fornecer um direcionamento. A incerteza sobre o momento do início da redução das taxas de juros nos EUA pode fortalecer o dólar ainda mais, especialmente se interpretada como sinal de instabilidade econômica.
Comentários mais rígidos de membros do FED em relação à economia e à inflação podem sugerir uma política monetária mais agressiva, o que tende a valorizar o dólar. A pressão nas taxas de juros e na curva de juros nos EUA reflete preocupações com a inflação e a estabilidade econômica, levando os investidores a buscar refúgio no dólar e impulsionando sua demanda e valorização.
Indicadores financeiros dos EUA
Preocupação maior com o risco fiscal do Brasil
No contexto interno, vários fatores têm impactado o mercado brasileiro nos últimos meses, incluindo indicadores econômicos desfavoráveis, mudanças nas regras fiscais e desafios fiscais enfrentados por estados como o Rio Grande do Sul. Esses elementos têm aumentado a percepção de risco, exercendo pressão sobre o dólar.
Miziara destaca um aumento inesperado do Índice Geral de Preços -Mercado (IGP-M) em maio, medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o que pode ter efeitos negativos no mercado nacional. Além disso, menciona-se a possibilidade de mudanças na diretoria da Petrobras (PETR3; PETR4), o que poderia influenciar o cenário econômico.
Uma pesquisa da XP Investimentos revela uma diminuição do otimismo entre investidores institucionais em relação à Bolsa brasileira. Para melhorar o cenário, seria necessário observar a qualidade dos resultados fiscais e uma agenda econômica mais clara por parte do governo, especialmente no que diz respeito à gestão do gasto público.