O que este conteúdo fez por você?
- No início da semana, os investidores de Itaú (ITUB3 e ITUB4) receberam Brazilian Depositary Receipts (BDRs) da XP, em função da cisão de capital do banco na corretora
- De acordo com a B3, a troca de BDRs por ações pode ser feita a qualquer momento, bastando a solicitação dos investidores
- Entretanto, clientes das corretoras Rico e Clear relataram problemas para solicitar os cancelamentos dos BDRs da XP e a troca pelas ações da corretora listadas na Nasdaq
No início da última semana, os investidores de Itaú (ITUB3 e ITUB4) receberam Brazilian Depositary Receipts (BDRs) da XP, em função da cisão de capital do banco na corretora. Os BDRs são certificados que representam papéis de empresas listadas em bolsas estrangeiras e são negociados na B3, mas que não possuem proteção contra a variação cambial.
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Os BDRs também são tributados em 15% sobre ganhos de capital, motivo pelo qual alguns investidores decidem convertê-los nas ações ‘originais’ – já que o investimento em papéis estrangeiros é isento até o montante de R$ 35 mil. No caso dos certificados da XP (XPBR31), essa troca seria pelas ações negociadas na Nasdaq (XP).
De acordo com o documento ‘Como Lançar um Programa de BDRs’, da B3, essa conversão deve ser realizada a ‘qualquer momento’, mediante procedimento de cancelamento dos BDRs. Na prática, o investidor precisaria ter uma conta de investimentos no exterior, onde as ações listadas na bolsa americana serão depositadas, preencher um formulário com alguns dados e entregar o documento à corretora.
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As corretoras, por sua vez, fariam a ‘conversão’ junto ao Itaú Unibanco (depositário dos BDRs da XP) e à instituição financeira americana responsável. A partir do momento que o Itaú recebe os formulários, caso não haja nenhum erro no preenchimento e não seja feriado, as ações americanas são disponibilizadas em D+0, ou seja, no mesmo dia em que a solicitação foi feita.
No entanto, alguns investidores de varejo e institucionais das corretoras Clear e Rico – que optaram por não se identificar – relataram dificuldades para realizar a operação.
As justificativas para o impedimento foram variadas. Ora, por indisponibilidade do formulário de solicitação da conversão ou por suposto pedido da bolsa brasileira por suspender esse tipo de operação.
“Na quarta-feira (6) entrei em contato com o atendimento da Clear para fazer a conversão do BDR para a ação da XP e eles falaram que não conseguiriam fazer essa operação, porque o formulário não estava disponível”, afirmou o investidor.
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“Entrei em contato com a Rico para saber mais sobre a conversão e me informaram que esse processo não estava sendo feito por determinação da B3. Falaram que a B3 tinha emitido um ‘comunicado interno’ suspendendo a operação. Questionei, porque sei que quem cancela os BDRs é o banco custodiante. Fiquei chateado enquanto cliente, tive o sentimento de que mentiram pra mim”, diz o cliente.
“Eu invisto no exterior pela Avenue e invisto no Brasil pela XP e pela Clear, que também é da XP. Tentei entrar em contato com a Clear pelo Instagram (para fazer a conversão) e não obtive resposta. Por e-mail, eu expliquei a situação e me responderam que eu teria que preencher o formulário deles para fazer a troca. Me mandaram o link do formulário, porém não está funcionando. Pelo que eu vi, não está acontecendo só comigo, mas com várias pessoas. Eles mandam um link que não está funcionando para ninguém”, relatou outro investidor.
“Tive esse problema na última sexta-feira (8). Conversei com a corretora Rico e falaram que não estavam mais fazendo a operação, que estava ‘suspenso’. Não deram mais nenhuma justificativa”, afirmou um quarto investidor.
Procurada, a B3 não confirmou nenhum pedido para suspender operações de cancelamento dos recibos e troca por ações. Os relatos recebidos pelo E-Investidor representam apenas uma amostra das operações realizadas. No entanto, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) afirmou que ‘as condições que regulam a relação das depositárias junto aos investidores estão contidas nos descritivos operacionais dos BDRs’.
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Questionadas, as corretoras Clear e Rico afirmaram que as empresas estão à disposição dos clientes, por meio dos seus canais de atendimento, para auxiliá-los em qualquer problema pontual registrado. O Itaú, banco depositário dos recibos da XP, afirmou não ter tido nenhuma instabilidade nos processos de cancelamento de BDRs, nem ter sido comunicado de problemas em outras instâncias envolvidas na conversão.
‘Mercado não está preparado’
Segundo as fontes consultadas pelo E-Investidor, por trás da confusão está a falta de preparo do mercado para lidar com os BDRs. Isto porque, a maior parte desses certificados ainda tem baixíssima liquidez, mesmo com o aumento expressivo de volume desde o fim do ano passado, quando a CVM permitiu que investidores pessoas físicas acessassem esses ativos.
Por isso, quando os cerca de 500 mil investidores do Itaú receberam os BDRs da XP, houve uma injeção de liquidez e demanda, para a qual os agentes não estariam preparados para lidar.
“É um produto que está totalmente incompleto no País. Embora ele tenha uma negociação, por trás a infraestrutura não existe. Suintability, processos internos e até de transferências, ainda não existe”, afirma um dos executivos, que não quis se identificar. “O produto não está pronto, e colocaram 500 mil investidores com isso na carteira. Ninguém tem nem ideia de como fazer isso. E como eles (corretoras) não sabem como fazer, estão instruindo clientes a não fazerem, o que é totalmente irregular.”