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Comportamento

Mercado de ouro físico acaba na Bolsa: como levar uma barra para casa?

Investidores têm até 29 de março para negociar o ouro ativo no mercado financeiro; entenda a situação

Mercado de ouro físico acaba na Bolsa: como levar uma barra para casa?
Descontinuação dos contratos de ouro ativo financeiro foi anunciada pela B3 em 2023. (Imagem: Adobe Stock)

Falta pouco mais de um mês para o mercado de ouro físico deixar de ser negociado na B3, mas o assunto passou ao largo dos investidores, uma vez que não é a maioria que tem uma barra dourada para chamar de sua. Mas além de mostrar um amadurecimento do mercado – em meio à ampliação de produtos ligados ao metal precioso –, a avaliação de especialistas ouvidos pelo Broadcast Investimentos é de que o fim dessa operação pode resultar em algum fluxo para fundos ativos e passivos.

“A BM&F começou como uma bolsa de mercadorias, como ouro, com entrega física. Mas hoje em dia os investidores entram mais para capturar a variação do preço do ouro e menos para ter, de fato, a entrega física ou a custódia das barras. Acho que por isso acabou caindo em desuso”, diz Clayton Rodrigues, responsável pela gestão quantitativa da Bradesco Asset Management. Ele explica que os contratos de barras físicas estão mais ligados a quem faz negócios, como joalherias, ou reserva de valor, como bancos centrais.

Como o interesse na variação do preço do ouro foi o que sobrepôs no mercado, o volume da negociação desses contratos diminuiu em meio à disponibilização de ativos listados nas corretoras, como fundos de gestão ativa, fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês) e BDRs (título emitido no Brasil que representa um ativo negociado no exterior) de ETFs, segundo Danilo Gabriel, gestor do fundo Trend Ouro da XP Asset. “O mercado brasileiro está ficando cada vez mais completo, mais maduro em termos dessas opções”, afirma.

A observação dos especialistas vai em linha com o ofício circular publicado em outubro de 2023, no qual a B3 informou que a descontinuação dos contratos “faz parte da evolução do mercado de capitais, que já conta com outros produtos atrelados ao ouro, como ETF e BDR de ETF, que se mostram mais atrativos aos investidores, com mais liquidez e facilidade operacional”.

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Embora Gabriel, da XP Asset, acredite que o volume desses contratos que deixarão de ser negociados não seja “significativo”, dada a decisão da B3 em encerrar a operação, deve haver algum fluxo para os produtos ligados ao ouro que permanecem no mercado. “É um processo natural, quando um sai os outros acabam ‘acomodando’ pelo menos parte do volume”, afirma.

Rodrigues, da Bradesco Asset, concorda, mas observa que como o perfil dos investidores que buscavam a custódia e a entrega física era diferente, talvez elas tenham a necessidade de procurar outras alternativas.

A captura desse possível fluxo, no entanto, pode ser difícil de ser confirmada, segundo Gabriel, da XP Asset. Isso porque os fundos de ouro são considerados líquidos, com entradas e saídas frequentes. “Então será difícil cravar uma causalidade entre o fim do contrato [de ouro físico] com um maior aporte dentro dos fundos. Mas é uma possibilidade”, diz o gestor.

‘Caminhão de ouro’ na Faria Lima

Os fundos de ouro da Bradesco Asset e da XP Asset não operam no mercado físico de ouro da Bolsa, portanto, não precisarão rearranjar a composição por conta da descontinuação dos contratos. “Imagina se o fundo não consegue fazer a ‘rolagem’ do contrato futuro e recebe as barras de ouro na Faria Lima. O que faz? Fatia e entrega um pouquinho para cada investidor?”, brinca Rodrigues, da Bradesco Asset.

As gestoras informam trabalhar com produtos como derivativos e ETFs daqui e do exterior. No caso da XP Asset, há inclusive exposição ao contrato futuro de ouro negociado na Bolsa de Chicago. “Nosso argumento para fazer lá fora e não localmente é que a bolsa americana tem uma profundidade de liquidez muito maior”, destaca o gestor do fundo Trend Ouro.

E quem possui os contratos de ouro?

A descontinuação dos contratos de ouro ativo financeiro foi anunciada pela B3 no ano passado com três etapas previstas: o cancelamento dos contratos a termo, futuro e opções atrelados ao ouro; o encerramento da negociação do ouro ativo financeiro (à vista) no mercado de bolsa da B3 e exclusão do ouro ativo financeiro do rol de ativos elegíveis para constituição de garantia na Câmara B3; e a exclusão do ouro ativo financeiro do rol de ativos objeto de depósito centralizado.

O último dia de negociação do ouro ativo financeiro no mercado à vista estava previsto para 16 de fevereiro, mas foi prorrogado para 29 de março. “A prorrogação atende pedido dos agentes de custódia para que seus clientes tivessem mais tempo para encerrar suas posições”, informou a B3, em novo ofício circular neste mês.

Até lá, os investidores poderão realizar a negociação das suas posições no mercado secundário ou a transferência de custódia para o Banco do Brasil, com a posterior retirada das barras físicas de ouro.

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