- O estudo ouviu 500 internautas brasileiros, entre homens e mulheres das classes A e B, com mais de 18 anos, de todas as regiões do Brasil
- A pesquisa mostra que 96% dos entrevistados já ouviram falar em criptomoedas e que 41% deste grupo já investiu em ativos digitais
(Luiz Felipe Simões e Rebeca Soares) – Uma exposição abrangente é fundamental para um investidor ter um portfólio de sucesso e ir além de ações, fundos e renda fixa. Na composição das carteiras, a participação de criptomoedas mostra uma forte tendência de crescimento.
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Um estudo realizado pela consultoria Grimpa revela que um olhar mais apurado para a carteira de investimentos já está ocorrendo, com muitos investidores incluindo as criptomoedas como forma de diversificar o portfólio e buscar robustez nos retornos. A pesquisa, que ouviu 500 homens e mulheres com mais de 18 anos ao redor do País, mostra que 96% dos entrevistados já ouviram falar em criptomoedas e que 41% deste grupo já investiu em ativos digitais em algum momento.
Para efeito de comparação, cerca de 25% dos norte-americanos investem em criptomoedas, segundo levantamento feito pela Piplsay, plataforma global de pesquisa de consumidores, que ouviu mais de 30 mil pessoas em fevereiro deste ano.
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De acordo com Marisa Camargo, sócia e diretora da Grimpa, a escalada de interesse no mercado cripto é reflexo de diferentes fatores. Além do incremento da digitalização financeira durante a pandemia, o fato de grandes investidores globais como o CEO da Tesla, Elon Musk, e o gestor Ray Dalio alardearem o advento das moedas digitais chamou a atenção de muita gente. A abertura de capital bilionária da corretora especializada em ativos digitais Coinbase na Nasdaq também contribuiu para colocar as criptos nos holofotes.
“Tivemos uma grande surpresa com o percentual de pessoas que efetivamente já haviam investido em criptomoedas. Este comportamento reflete, sem dúvida, o que estamos chamando de grande boom da criptomoeda no país”, diz Camargo. Entretanto, ela destaca que o brasileiro ainda está cauteloso em função da grande volatilidade.
André Franco, analista de criptomoedas da Empiricus Research, tem uma percepção mais pragmática sobre a aproximação dos investidores com os criptoativos. “Toda vez que temos um ciclo de alta há entrada de novos investidores. É óbvio que existe uma parcela dessas pessoas que têm receio e por isso vão querer aportar por meio de fundos”, diz ele, acreditando que se o mercado continuar em alta os investidores serão atraídos de um jeito ou de outro.
O perfil do investidor de cripto
O estudo da Grimpa também mapeou o perfil dos entrevistados. A maior parte tem disposição arrojada para investir, sendo a maioria homens entre 18 a 24 anos da classe A.
As moedas estrangeiras e o ouro são os dois ativos preferidos desses investidores – respectivamente, 70% e 69% deles afirmaram ter aplicações nestas categorias. Já a renda variável, renda fixa e previdência privada estão presentes em 53%, 41% e 49% dos portfólios dos entrevistados, em sequência.
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Entre os criptoativos, algumas moedas chamam mais atenção, seja pela rentabilidade, exposição na mídia ou pela indicação de influenciadores digitais. Sem surpresa, o Bitcoin é a mais famosa, apontada por 96% daqueles que já ouviram falar das criptomoedas. Em seguida, aparecem Litecoin (40%), Ethereum (37%), Dogecoin (31%) e Binance Coin (31%).
A busca de boas oportunidades no segmento pode justificar porque o tema está entre os assuntos mais comentados na internet. A procura mensal sobre criptomoedas na internet saltou de 538 mil para 2,3 milhões de maio do ano passado para maio deste ano a partir de resultados dos cookies de navegação, como apontou o levantamento. A maioria das pesquisas são acompanhadas pelas palavras “notícias”, “corretoras” e “compras”.
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O levantamento ainda apontou o “sentimento” dos usuários nas redes sociais em relação às criptomoedas entre 2020 e 2021. Os comentários considerados neutros cresceram 117% no período, contra 109% dos negativos. Por outro lado, as publicações com citações consideradas positivas aumentaram 211% de um ano para o outro.
Ainda assim, boa parte dos investidores demonstra dificuldade em como fazer aplicações nessa classe de ativos. A pesquisa mostra que 53% dos entrevistados que já ouviram falar em uma moeda digital não sabem por onde começar. Mas o caminho deve ser longo, já que a metade do total de pessoas consultadas acredita que esse será o principal meio de transação financeira em um futuro próximo.
Para Vinicius Chagas, analista educacional da Blockchain Academy, falta conhecimento. “O mercado de investimentos tradicional ganhou muitos entrantes a partir de um positivo e intenso movimento de espalhar educação ao público, o que alterou a estrutura do mercado financeiro como um todo”, diz.
O analista cita o exemplo do novo modelo de corretoras e do estilo dos produtos de investimento, mais amigável ao usuário, com menores taxas e outros benefícios. Na visão de Chagas, isso aconteceu porque as pessoas estão mais críticas e procurando por educação financeira.
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A primeira corretora brasileira a zerar suas taxas para todos os produtos negociados em bolsa foi a Clear. Em dezembro, a Ágora Investimentos também reduziu os valores cobrados em operações de swing trade e day trade. “Como o mercado está muito competitivo, tentamos manter uma tarifa meno para trazer o pequeno investidor para o mercado de ações. Esse é objetivo, viabilizar a entrada deles no mercado”, diz Luis Claudio Freitas, diretor geral da Ágora.
Mais recentemente, em abril deste ano, a Easynvest entrou nessa corrida e decidiu cortar as tarifas de corretagem para a compra e venda de ações na plataforma.
Como atrair mais investidores
Além do desconhecimento em como investir, os dois principais entraves citados pelos entrevistados são a incompreensão do que de fato é uma criptomoeda e o alto risco inerente ao mercado, mencionados respectivamente por 34% e 30% das pessoas ouvidas pela pesquisa.
A ausência de regulamentação no mercado não é um dos maiores problemas (apenas 12% das pessoas consultadas apontaram a questão). Apesar disso, Marcos Viriato, fundador e CEO da Parfin, plataforma de consolidação de investimentos em criptoativos, acredita que uma regulação deixaria os investidores mais protegidos, evitando esquemas de pirâmide ou promessas de retornos que dificilmente seriam realizados.
Esquemas fraudulentos não são novidade no Brasil, que já conta diversos casos famosos, como TelexFree e Avestruz Master. Ambos os esquemas foram investigados pelas autoridades. No caso da Telex, os donos foram condenados por pirâmide financeira, já os diretores da Avestruz Master foram presos por crimes contra o sistema financeiro nacional.
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Com a popularização das criptomoedas, os golpes ganharam uma nova roupagem, mas as premissas de oferecer grandes retornos continuam as mesmas.
Em julho, a Polícia Federal deflagrou uma operação que prendeu cinco pessoas ligadas ao Grupo Bitcoin Banco, incluindo o dono da companhia, Cláudio Oliveira, autointitulado “Rei do Bitcoin”. O presidente da empresa é acusado de ter operado um esquema de pirâmide financeira que desviou R$ 1,5 bilhão de 7 mil clientes.
“Com uma regulação mais clara, os prestadores de serviços seriam obrigados a ter níveis de controle e segurança maiores, mitigando riscos de roubo das criptomoedas”, diz Viriato.
Produtos tradicionais são uma opção
Diversos produtos de investimentos tradicionais como fundos temáticos e ETFs voltados para as criptomoedas começaram a surgir no Brasil. Atualmente, há três ETFs negociados em Bolsa.
Já no quesito fundos, os brasileiros têm à disposição 24 opções para aplicar em criptoativos, segundo dados do Broadcast. Destes, 8 são voltados para o pequeno investidor e os 16 restantes destinados a investidores qualificados e profissionais, com mais de R$ 1 milhão investidos.
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A grande diferença entre eles é que os voltados para os investidores de varejo possuem exposição máxima de até 20% do patrimônio em ativos digitais, enquanto os qualificados podem ter até 100%.
Para Viriato, da Parfin, os ativos regulados que dão exposição indireta a criptomoedas podem iniciar a adoção de investidores que têm perfil de risco e querem investir, mas não sabem como fazer.
“Os fundos temáticos são até mais interessantes, pois você sai do óbvio e compra teses de investimentos distintas dentro do mercado. Esses produtos são o principal ponto de atração para os investidores que não querem lidar com as complexidades dos ativos digitais”, diz Franco, da Empiricus.
Mas há outro caminho para investir, além dos fundos e ETFs. O Brasil conta com diversas corretoras especializadas em ativos digitais, como Mercado Bitcoin, Nova Dax, Foxbit, Alter e BitBlue, todas credenciadas pela Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto).
Por esse caminho, o investidor pode se expor diretamente aos ativos digitais com mais autonomia e liberdade, mas deve tomar cuidado com as oscilações. ,
Vale ressaltar que, no acumulado de 2021, as criptos têm dado um show de rentabilidade. Veja a cotação dos ativos até o fechamento do mercado na sexta-feira (6), segundo dados da plataforma Coinmarketcap, que rastreia os preços dos criptoativos:
- O Bitcoin iniciou o ano cotado a US$ 28,9 mil e atualmente é cotado a US$ 42,8 mil – uma alta de 47,91% em 2021;
- O Ether começou o ano a US$ 737,71 e atualmente está valendo US$ 2,9 mil – um salto de 296,89% no período;
- A cotação da Dogecoin era mais modesta, de US$ 0,004681 no início do ano. Atualmente, porém, o ativo vale US$ 0,2088, uma valorização de 4.360,58% até o dia 6 de agosto.
Onde procurar conhecimento
Assim como no mercado tradicional, as pessoas que desejam conhecer mais sobre o universo cripto devem procurar por fontes de informações confiáveis. A indicação para os que buscam facilidade e uma curadoria melhor dos conteúdos é procurar informação por casas de análises para complementar os estudos.
“No Brasil, existem algumas empresas que oferecem esses serviços com qualidade, basta pesquisar. A única diferença é que há menos opções disponíveis no mercado cripto em relação ao mercado financeiro tradicional”, diz Chagas.
Na visão de Franco, assinar um relatório ou pagar para alguém fazer os estudos em seu lugar pode ser a melhor estratégia para quem está começando a se aventurar nesse universo. O importante é não limitar a carteira e compor um portfólio robusto e diversificado, independentemente do seu perfil de risco.