- Os bancos destinam 65% dos depósitos da poupança para o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), responsável pela oferta de crédito para financiamento de imóveis
- Com o aumento do volume de resgate da poupança, o mercado imobiliário busca outras fontes de recursos que podem tornar o acesso ao crédito mais caro para a classe média brasileira
Os altos volumes de saques da poupança visto nos últimos meses podem tornar financiamentos de imóveis mais caros para a classe média brasileira. Isso porque a retirada na caderneta impacta diretamente a principal fonte de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que existe para promover o financiamento imobiliário no País. Com menor volume de dinheiro disponível na poupança, a tendência é que os juros das linhas de crédito fiquem mais altos no mercado.
Os saques da poupança vem superando o volume dos depósitos. Desde maio de 2022 a captação líquida da aplicação financeira mais tradicional entre os brasileiros tem tido saldos negativos. Segundo dados Elos Ayta Consultoria, no acumulado dos últimos 12 meses, os brasileiros retiraram R$ 3,958 trilhões da caderneta de poupança. O volume está R$ 67 bilhões acima ao total de depósitos durante o mesmo período. O comportamento reflete a necessidade dos brasileiros em retirar parte dos seus recursos para o pagamento de dívidas – veja os detalhes nesta reportagem.
O problema é que a necessidade de atender os imprevistos financeiro gera uma pressão no mercado imobiliário. Os bancos destinam 65% dos depósitos da poupança para o SBPE, responsável pela maior parte dos recursos utilizados em financiamentos de imóveis do País a taxa de juros limitados em 12% ao ano e prazo de pagamento de até em 35 anos. No entanto, com o fluxo de saída de recursos da poupança, Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) afirma que as instituições financeiras estão utilizando “um pouco acima” do normal para os financiamentos.
A situação obrigou o setor a buscar outras fontes de recursos para compensar os baixos volumes da poupança. A Abecip explica que as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), os Certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e as Letras Imobiliária Garantida (LIG) têm sido as opções complementares. “Esse funding de mercado têm um custo maior, mas vêm sendo utilizados em conjunto com os recursos da poupança, atenuando o custo da operação”, informou a associação, em nota ao E-Investidor.
Porém, o ciclo de queda da Selic, a taxa básica de juros, pode aliviar a pressão dos saques da poupança sobre o mercado imobiliário. A Abecip acredita que, com os recentes cortes da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), as perdas na caderneta devem diminuir. “Os produtos de investimento com rendimentos atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI, taxa de operações entre instituições bancárias, que serve de parâmetro de rendimento de investimentos) mostram ganhos maiores que os da poupança, o que em parte explica as perdas recentes das cadernetas”, destacou a entidade.
Atualmente, a Selic permanece no patamar de 11,25% ao ano. Mas o mercado espera que o BC reduza em 0,50 pontos porcentual a taxa de juros na próxima reunião, que termina nesta quarta-feira (20). Para o final de 2024, a projeção média do mercado para a Selic se mantém em 9% ao ano. Com essa perspectiva de novos patamares de juros, os bancos devem ajustar as taxas das suas operações de crédito. “Se o cliente pega um financiamento hoje e na próxima reunião o Copom reduz os juros, ele não vai se beneficiar da queda porque já contratou o financiamento”, afirma José Miguel de Oliveira, diretor executivo da Associação Associação Nacional de Executivos (Anefac).
Como estão as taxas de juros do financiamento imobiliário hoje?
Os bancos oferecem taxas de juros diferentes para financiamentos voltados para os imóveis. No Banco do Brasil (BBAS3) as taxas partem de 9% ao ano (a.a.) mais Taxa Referencial (TR, referência para os juros vigentes no Brasil) para as operações contratadas com recursos de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Em operações com recursos da poupança, as taxas começam em 9,76% ao ano mais a TR e variam de acordo com o perfil do cliente.
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Já o Itaú (ITUB4) oferece uma taxa de juros a partir de 10,49% ao ano do início até o fim do contrato, com atualização do saldo devedor pela TR. O porcentual de financiamento vai até 90% do valor imóvel, com a possibilidade de uso do FGTS, e o prazo de financiamento pode ser em até 35 anos. Há também a opção do crédito imobiliário com juros da poupança. Nesta modalidade, as taxas partem de 5,72% ano mais o rendimento da poupança e a atualização do saldo devedor pela TR.
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O Bradesco (BBDC3; BBDC4), por sua vez, disponibiliza dois modelos de precificação para imóveis residenciais. O tradicional estipula uma taxa fixa a partir de 10,49% ao ano mais a TR, enquanto a segunda modalidade possui uma taxa fixa ao ano mais a remuneração da poupança. O prazo de pagamento corresponde até 35 anos e permite o financiamento de até 80% do valor do imóvel.
A Caixa Econômica Federal oferece as melhores taxas atualmente e opera no mercado de crédito com a concessão de financiamento com recursos do SBPE e do FGTS. Na modalidade SBPE, o banco oferta taxas de juros, efetivas, a partir de 8,99% a.a. Já no Crédito Habitacional Recursos FGTS, as taxas de juros nominais disponíveis para os financiamentos parte de TR+ 4,00% a.a. de acordo com a renda familiar e a localização do imóvel.
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* A reportagem foi atualizada com uma correção. No segundo parágrafo, os números de captação líquida estavam incorretos. Eles foram, então, corrigidos.