(Vitor Azevedo, Especial para o E-Investidor) – O lançamento do PlayStation 5 está programado para o fim de 2020 e as transmissões da Sony com as primeiras informações vêm alimentando as expectativas dos mais aficionados por games. Em 1º de julho, a companhia japonesa divulgou a iniciativa PlayStation Indies, voltada para o lançamento de jogos independentes para a nova plataforma. Além disso, alguns jogos renomados de franquias como LittleBigPlanet, ResidentEvil e Hitman estão confirmados. O que ainda está sob suspense é o preço do console. E o cálculo de quanto o PS5 custará é ainda mais incerto para os gamers brasileiros.
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Décimo terceiro mercado global e o primeiro da América Latina, que movimenta mais de US$ 1,5 bilhão por ano, de acordo com a Newzoo, empresa especializada em análise e pesquisas do mercado de games, a variação do dólar tem um impacto direto no preço dos consoles e dos games que chegam no Brasil. Portais especializados apontam que o PS5 deve ser lançado por um valor entre US$ 450 e US$ 600 (R$ 2.475 a R$ 3.300 com o dólar a R$ 5,50). “Jogos são como investimentos em ação para mim”, diz o engenheiro de produção Diogo Duarte, 28 anos. “Fico de olho até baixar o preço para comprar.”
Mas, além da conversão cambial, há a pesada carga tributária nacional. Quando o PS4 foi lançado, o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) calculava que o tributo total num videogame era de 72%. Só no console o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) era de 50%. Desde o ano passado, o governo federal reduziu esse IPI para 40% – o de acessórios foi de 40% para 32%.
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Wagner Wakka, jornalista especializado em tecnologia, foi um dos que tentaram projetar o preço que o PlayStation 5 terá em seu lançamento no mercado brasileiro. “Levei em conta o valor original do console, a cotação do dólar e a porcentagem de impostos e de margem de lucro para chegar ao preço em reais. Para o PlayStation 4, essa margem foi de 3,35 vezes”, afirma Wakka.
Ao levarmos em conta a cotação do dólar para 2020 esperada pela pesquisa Focus, do Banco Central, e a margem de impostos e lucro do PS4, o PlayStation 5 deve chegar no Brasil custando algo entre R$ 10.276 e R$ 13.702. Mas, mais do que nunca, as variáveis desta equação estão incertas porque ainda não há o valor oficial do console e muito menos a cotação da moeda americana, que tem variado bastante desde o início do ano.
Essa combinação, porém, não é nova: ao voltarmos ao passado, os gráficos do câmbio e do preço dos vários modelos de PlayStation traçam um caminho um tanto quanto parecidos.
O PlayStation 1 e a paridade do real com o dólar
Em fevereiro de 1994, inicia-se o projeto da nova moeda brasileira com o Plano Real. Em dezembro do mesmo ano, a Sony começa a vender o PlayStation 1. Lançado nos Estados Unidos por US$ 299, a fabricante japonesa temia a pirataria no Brasil, além de ter problemas de registro de marca – a Gradiente vendeu para a Sony em 2020. Segundo o Observatório de Games, entretanto, importadoras comercializavam a plataforma por cerca de R$ 360.
“Os juros estavam elevados para frear a inflação e isso atraiu muito capital estrangeiro para cá. Atraiu dólares. O câmbio foi derrubado para R$ 0,84. Tudo ficou muito barato”, diz Leonardo Weller, professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Mesmo não sendo lançado oficialmente no País, o PlayStation 1 teve forte presença no mercado nacional.
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As coisas, porém, começam a mudar pouco depois do lançamento do clássico do PlayStation 1 Final Fantasy VII, em 1997. Com a crise financeira asiática, segundo Weller, o capital começa a sair do Brasil por conta da aversão ao risco. O dólar, então, fica mais escasso e, por isso, mais caro. Para evitar uma valorização abrupta da moeda americana, que poderia gerar uma inflação desenfreada, o Banco Central começa a interferir e passa a vender suas reservas.
Com o default russo, em 1998, mesmo ano de lançamento do primeiro Metal Gear Solid, jogo que alçou o nome de Hideo Kojima ao hall da fama dos gamers, a aversão ao risco no mercado financeiro aumenta ainda mais. O governo brasileiro, para não “soltar” o câmbio, faz um empréstimo no FMI. O fim iminente das reservas de dólar e o aumento da dívida pública para manter o câmbio acabam, por si só, enfraquecendo o real.
O fim do câmbio fixo
Quando o PlayStation 2, console dos clássicos GTA San Andreas e Shadow of Colossus, chega ao Brasil (também por meio, unicamente, de importadoras), no ano 2000, o contexto é totalmente diferente. Lançado no exterior por cerca de US$ 299, o preço no mercado brasileiro ficou próximo de R$ 2.000. O dólar se valorizou sobre o real e o poder de compra de produtos importados dos brasileiros diminuiu. “A classe média, que viajava e que comprava PlayStation, agora tem que apertar o cinto. Os importados ficaram mais caros”, diz Weller.
Caminhando para o lançamento do PlayStation 3, em novembro de 2006, o real tem uma fase de valorização. Ainda de acordo com o professor de história econômica da FGV, o Banco Central adota a medida de política de inflação, aumentando os juros quando necessário, além de ter sido no período uma instituição independente em termos práticos.
A confiança criada pela não-intervenção do governo federal no Banco Central e o aumento da rentabilidade da Renda Fixa atrai capital para o País. Além disso, o boom das commodities, causada pela grande procura da China por esses produtos, gera grandes superávits comerciais ao Brasil.
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A cotação do dólar propriamente dita não sofreu grande mudança. Mas o dólar ajustado pela inflação, que dá uma ideia melhor do poder de compra de produtos importados pelos brasileiros, passou de R$ 3,92, na época do lançamento do segundo PlayStation, para cerca de R$ 3,00 no lançamento do terceiro.
Entretanto, as importações legais se tornaram mais caras por conta da carga tributária, que aumentou no governo Lula, saindo de 32,65%, em 2002, para quase 36% no fim do seu segundo mandato. Em 2004, por exemplo, o governo do ex-presidente institui a cobrança do PIS/Cofins a produtos importados, o que impactou o preço dos games.
Apesar do fortalecimento do poder de compra do real, o PlayStation 3, lançado nos Estados Unidos por um preço de US$ 499 a US$ 599, dependendo da memória interna, chega no Brasil pelas importadoras por preço superior a R$ 6.000. A Sony decide, então, tomar uma atitude para manter sua fatia no mercado brasileiro e atender cerca de 75,7 milhões de jogadores no País.
A fábrica da Sony no Brasil
A partir de 2009, a Sony passa a produzir consoles na Zona Franca de Manaus. Nove anos após o PlayStation 2 ter sido lançado nos Estados Unidos, a multinacional lança oficialmente o modelo fabricado no Brasil. Em 2013, nas vésperas do lançamento do PS4 e do clássico do PlayStation 3, The Last of Us, o console PS3 começa a ser produzido em Manaus. A implementação da fábrica da companhia japonesa em Manaus se dá junto com a mudança da política econômica nacional que buscava, justamente, fortalecer a produção local.
“O governo passa a dar crédito barato para empresas produzirem no país e a subir tarifas de importação, o que não foi suficiente para proteger nossa indústria por conta o real forte”, afirma Leonardo Weller. Além disso, em 2012, o governo Dilma, ainda com a ideia de incentivar a produção local, passa a pressionar o Banco Central a mudar a taxa de juros para enfraquecer a moeda brasileira e para incentivar o consumo local. Com o real mais fraco, porém, a inflação explodiu.
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Segundo Weller, “para segurar a inflação, o governo Dilma obrigou estatais como a Petrobrás e a Eletrobras a não aumentarem preços dos produtos e obrigou também prefeituras a não reajustarem os preços das passagens de ônibus”. Os gastos públicos aumentaram e o Brasil se endividou ainda mais. A moeda americana, agora, não precisava mais de ajuda para subir.
A ponte do contrabando
Ao tentar fugir das dificuldade de importar os videogames para Brasil, a companhia japonesa se depara com outros problemas e o dólar, mesmo com os videogames sendo produzidos em solo nacional, continua interferindo no preço do console por conta do “Mercado Cinza”, ou seja, o contrabando.
“Tudo no Paraguai é comercializado em dólar”, diz Thiago Landim, que trabalhou como vendedor em lojas de videogames por seis anos. “A gente tinha um freteiro que ia até o Paraguai comprar as coisas. Tinha o lucro do Paraguai, o custo do freteiro e a nossa margem de lucro, que era de cerca de 30%. Mesmo com tudo isso, era mais barato trazer do Paraguai do que comprar o nacional”.
Em novembro de 2013, quando PlayStation 4 é lançado, a força do dólar ante a o real estava em ascensão, com o valor do moeda corrigido pela inflação a R$ 2,75, praticamente o maior desde 2009. Lançado nos Estados Unidos por US$ 399,99, no Brasil, o preço inicial do PlayStation 4 foi de R$ 4.000.
Desde então, a força do dólar frente a moeda brasileira praticamente só subiu. Quando o clássico do PS4 Bloodborne foi lançado, em março de 2015, o dólar corrigido já estava em R$ 3,56. No lançamento de Death Stranding, em novembro de 2019, o valor era de R$ 4,20.
O PS5 e a pandemia
Fatores como crise política brasileira e a guerra comercial entre Estados Unidos e China tornaram o cenário incerto. O novo coronavírus chega para abalar ainda mais a situação. “O mundo é endividado em dólares. Com o coronavírus, o crédito global cessou. As companhias passam a comprar dólares para pagarem suas dívidas e mercado da moeda americana secou”, explica Dan Kawa, sócio a TAG Investimentos e colunista do E-Investidor.
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Em dezembro de 2019, antes da crise do coronavírus, o dólar valia R$ 4,03. Em cinco meses, no auge da crise econômica causada pela pandemia até então, passou a custar R$ 5,90. Os Bancos Centrais injetaram quantias enormes da moeda americana para suprir a demanda do mercado, o que arrefeceu o valor. “A pandemia traz muita incerteza, o que traz muita volatilidade, que deve continuar até o fim dela”, afirma Kawa.
Uma nova segunda onda, a aprovação de reformas, mudanças nas taxas de juros, e outras fatores podem acabar impactando o preço do dólar. “Na nossa visão, o câmbio mudou de patamar. É difícil ver no horizonte próximo o dólar a R$ 3, R$ 3,5 ou até mesmo R$ 4, como era cogitado no início desse governo”, diz o sócio da TAG.
Se a Sony produzir os consoles na sua unidade de Manaus, a questão do dólar pode ser minimizada. Mas, desde 2017, a empresa cessou a fabricação de videogames no Brasil. O preço de lançamento do próximo PlayStation 5 por aqui ainda é um incerto. Mas se a volatilidade do câmbio vista no começo de 2020 continuar há, pelo menos, uma certeza: os gamers terão de acompanhar ainda mais as variações do câmbio se quiserem pagar menos pelos jogos ou consoles – ou, como se diz no mercado financeiro, “se quiser comprar na baixa”.