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- O NFT é um certificado digital que autentica um produto virtual, que pode ser uma ilustração, um quadro, um vídeo, uma música, dentre outros. Os usos são os mais diversos possíveis, e a tramitação ocorre por meio de operações de blockchain
- O que torna o blockchain seguro é uma rede numerosa de computadores trabalhando em conjunto, por meio de algoritmos criptografados. Mas isso tem um custo ambiental pesado, sobretudo quando ele é movido a energias mais poluentes
A proposta do token não fungível (NFT) é simples: se tudo funciona via nuvem, por que a arte não pode ser produzida e negociada desse modo? Porém, o impacto ambiental gerado por eles preocupa. Então, como equilibrar prós e contras?
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Entenda mais do assunto e veja como lidar com a tecnologia NFT sem criar problemas concretos para o meio ambiente.
Entenda o que é o NFT e por que seu impacto ambiental preocupa
O NFT é um certificado digital que autentica um produto virtual, que pode ser uma ilustração, um quadro, um vídeo, uma música, dentre outros. Os usos são os mais diversos possíveis, e a tramitação ocorre por meio de operações de blockchain.
A ideia é semelhante ao que ocorre no mundo analógico: Mona Lisa é uma das obras mais reproduzidas do mundo, mas só há uma autêntica. Desse modo, o NFT abre uma série de oportunidades para regular ativos no ambiente digital.
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Para a advogada Elaine Keller, especializada em Direito Digital, o uso dessa tecnologia ainda é incipiente perto do seu potencial no mundo da moda, dos esportes, da música, dos jogos e outros. Ela usa a segurança da tecnologia blockchain, que já funciona em operações financeiras on-line, por exemplo, e é considerada segura.
O problema central não está na confiabilidade, mas no impacto ambiental. Keller explica que o blockchain é baseado em cálculos matemáticos para gerar algoritmos de criptografia, que exigem milhares de computadores de altíssimo desempenho trabalhando em rede simultaneamente.
“Essas fazendas de mineração consomem muita energia. A China é líder nesse mercado, mas se estima que metade desse trabalho é feita com energia oriunda do carvão, a mais nociva para o meio ambiente pela alta emissão de carbono para a atmosfera”, afirma a advogada.
É por isso que, embora o gasto de energia com NFT seja menor quando comparado a outros produtos que usam blockchain, como algumas criptomoedas, deve-se pensar a expansão desse modelo com planejamento e cuidado ambiental.
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Thiago Valadares, sócio-diretor da NFMarket Agency, agência especializada em gestão e desenvolvimento de projetos em NFT, concorda com essa avaliação.
Para ele, todo o impacto gerado pela web3 precisa ser monitorado de perto, uma vez que a cadeia computacional depende de energia para operar nem sempre ela vem de fontes limpas.
“Quando há desequilíbrio ambiental causado por tecnologias digitais, todo o mundo paga a conta”, destaca Valadares.
Veja como reduzir o impacto ambiental do NFT
Valadares comenta que as tecnologias derivadas do blockchain não são isentas de problemas, mas também não são as “vilãs” da história. Para ele, a web3 descentraliza o poder e a informação e, com isso, dá mais autonomia para a comunidade, uma vez que o blockchain é transparente e permite que atores pequenos também se envolvam.
Assim como no mundo analógico, há diversas cadeias produtivas preocupadas com o impacto das suas práticas, isso também ocorre no campo virtual. “As grandes empresas vêm poluindo o mundo há muitos anos sem criar medidas de correção, e o potencial dessa nova fase é a capacidade de se gerar novas soluções“, argumenta Valadares. Mas, em termos práticos, como corrigir o impacto de um NFT?
1. Mudanças na operação da tecnologia
Elaine Keller cita que, entre as maneiras de conciliar o desenvolvimento da tecnologia com a proteção ao meio ambiente, é possível aprimorar o modo de funcionamento do blockchain, melhorando o desempenho energético da NFT e outros projetos.
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“A comunidade vem discutindo protocolos de mineração conhecidos como proof-of-work e proof-of-stake. Este substitui a mineração padrão por uma modalidade de sorteio, o que permite a redução de consumo de energia. A criptomoeda ethereum, bastante utilizada nas operações de NFTs, vem adotando o proof-of-stake”, ela comenta.
2. Governança sobre blockchain
Para a advogada, o NFT ainda tem uma participação muito pequena diante do conjunto total de operações em blockchain. Contudo, algumas medidas do setor já apontam melhorias que devem ser úteis ao conjunto de serviços que usam criptografia.
Ela dá como exemplo iniciativa interessante de 2021: o Crypto Climate Accord. Trata-se de um movimento liderado pelo setor privado com o objetivo de descarbonizar o setor de criptomoedas a partir das diretrizes do Acordo de Paris.
Isso ilustra o uso de estratégias de governança em projetos baseados na tecnologia blockchain. Afinal, se a agenda ESG entra nas empresas analógicas, por que não sensibilizar o setor digital?
3. Aumento no mercado de neutralização de carbono
Valadares opina que o setor da web3 é mais sustentável do que se imagina, porque a comunidade é bastante ligada a valores ambientais. “Pablo Spyer, da XP Investimentos, vai lançar seus NFTs e já contratou a gente para fazer a neutralização de crédito. E a marca Reserva recentemente lançou seus NFTs e também fez a naturalização dessa campanha”, ele comenta.
É por isso que, para o diretor, os NFTs e os demais produtos virtuais baseados em tecnologias de blockchain podem ser mais sustentáveis que setores econômicos comuns, pouco abertos a pensar o impacto das suas atividades.
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Keller lembra que já é possível adquirir com facilidade créditos de carbono de forma segura em plataformas digitais e negociá-las em exchanges como Mercado Bitcoin, Binance e Gemini.
4. Digitalização de processos analógicos
Por fim, a advogada comenta que é preciso pensar nas soluções que o NFT gera em substituição a processos físicos. No caso de uma peça de arte, por exemplo, é possível negociar uma obra em qualquer lugar do mundo sem a necessidade de deslocamento. O único custo é de armazenamento digital, em marketplaces dedicados a isso.
O mesmo vale para demandas cotidianas. Para vender um imóvel “no mundo real”, o proprietário precisa de corretores e autenticação de documentos em um cartório até que a venda se realize. Se o proprietário realiza a venda pela internet garantindo a transferência da propriedade pelo blockchain, ele elimina todo esse processo de intermediação que também é responsável pela emissão de carbono.
“O que será que consome mais carbono? O processo tradicional e burocrático de corretores, cartório e emissão de inúmeros documentos ou o processo direto pela internet? Ainda são necessários estudos que quantifiquem melhor essas questões, mas o NFT e outras tecnologias baseadas em blockchain podem ser uma oportunidade de proteger o meio ambiente“, defende Keller.