O que este conteúdo fez por você?
- As primeiras três horas do depoimento na sexta-feira (27) abrangeram temas familiares
- Bankman-Fried é a única testemunha convocada pela defesa e o seu depoimento está previsto para durar até o meio-dia desta segunda-feira (30)
- O júri está ouvindo há semanas o depoimento dos principais parceiros do outrora rei das criptomoedas
O primeiro dia oficial do depoimento do cofundador da FTX, Sam Bankman-Fried, teve o ex-magnata das criptomoedas irritando o juiz, justificando gastos com campanhas políticas e anúncios no Super Bowl, e culpando outros pela perda de bilhões de dólares da Alameda Research.
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As primeiras três horas do depoimento na sexta-feira (27) abrangeram temas familiares – a criação, a época da faculdade e o sucesso inicial – enquanto seus advogados trabalhavam para corroborar uma narrativa que Bankman-Fried defende desde a falência exchange de criptomoedas FTX e da Alameda em novembro do ano passado: erros foram cometidos, mas ele sempre agiu de boa fé.
No período da manhã, ele deu respostas longas e desconexas às perguntas feitas pelo advogado de defesa Mark Cohen. Em várias ocasiões, o juiz Lewis A. Kaplan pediu para Bankman-Fried que ele parasse de falar. Em outros momentos, Kaplan reformulou as perguntas de Cohen para conseguir respostas mais diretas dele.
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A certa altura, Kaplan repreendeu Bankman-Fried por tentar dar sua própria definição de manipulação de mercado. “Vocês vão levar em consideração a minha definição de manipulação”, disse o juiz dirigindo-se a ele e ao júri.
Bankman-Fried é a única testemunha convocada pela defesa. Se tudo correr como planejado, os jurados iniciarão suas deliberações antes do fim da semana.
O réu se declarou inocente de sete acusações criminais, entre elas fraude e lavagem de dinheiro, relacionadas ao uso dos fundos dos clientes da FTX. Bankman-Fried, 31 anos, pode passar décadas na prisão se for condenado.
Depois de uma pausa para o almoço, a defesa de Bankman-Fried focou em perguntas sobre os gastos com marketing da FTX, incluindo direitos para usar o nome da empresa na arena do Miami Heat e endossos de celebridades como os atletas Tom Brady e Stephen Curry.
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Bankman-Fried disse que o peso do nome daqueles nessas parcerias justificava os gastos, principalmente no caso de estádios em cidades com um certo nível de prestígio, como Miami.
“Não queria ser conhecido como o Kansas City Royals das exchanges de criptomoedas”, disse ele.
Ele também classificou as doações políticas como uma despesa justificável. O principal objetivo, disse Bankman-Fried na sexta-feira, era ajudar a definir uma estrutura regulatória para a negociação das criptomoedas que permitiria à FTX U.S., o braço americano da exchange, posteriormente oferecer contratos futuros.
O júri está ouvindo há semanas o depoimento dos principais parceiros do outrora rei das criptomoedas. Com frequência, eles descreveram o ex-chefe e amigo como o arquiteto do esquema para desviar bilhões de dólares dos fundos dos clientes da FTX e gastá-los com investimentos arriscados, despesas pessoais extravagantes e contribuições políticas.
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Os promotores apoiaram essa alegação com inúmeras provas documentais. Os próprios advogados do réu parecem ter dificuldade em provocar dúvidas relevantes a respeito da credibilidade das testemunhas do governo ou da versão delas dos acontecimentos.
Entretanto, Bankman-Fried disse na sexta-feira que ninguém tinha lhe falado da conta que a Alameda usava para gastar os fundos da FTX antes de descobrir as menções a ela em “um banco de dados”. Ele disse que precisou verificar com os desenvolvedores para ter certeza da veracidade dela e que ficou surpreso ao descobrir que o valor patrimonial líquido da Alameda era muito inferior ao que ele supunha.
Bankman-Fried também contou mais uma vez sua lembrança dos acontecimentos em maio de 2022, quando o preço do bitcoin despencou e a Alameda deu uma guinada súbita em direção à falência. Ele disse que culpava pessoas de seu círculo íntimo pela tentativa de amparar a Alameda.
Foi mostrado ao júri um memorando enviado por ele aos executivos da Alameda, Nishad Singh e Gary Wang, no qual Bankman-Fried defende o fim da empresa de investimento e diz que sua CEO, e ex-namorada, Caroline Ellison, “não é uma líder natural, e provavelmente nunca será”.
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Segundo Bankman-Fried, Wang e Singh responderam que fechar a Alameda era uma péssima ideia.
A sexta-feira começou com um revés para a defesa, quando o juiz impediu a alegação de que Bankman-Fried havia confiado no aconselhamento de advogados para tomar decisões decisivas de negócios. A decisão de Kaplan veio depois de uma audiência na quinta-feira (26), na qual Bankman-Fried depôs sem a presença do júri para que o juiz pudesse avaliar se o depoimento seria válido.
Os advogados de Bankman-Fried indicaram que tornariam o aconselhamento jurídico uma peça central do caso, retratando Bankman-Fried como um empresário bem-intencionado cujo negócio cresceu mais rápido do que sua capacidade de gerenciá-lo.
Contudo, Kaplan disse na sexta-feira que tal depoimento seria “confuso e prejudicial”.
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Em vez disso, ele limitou a estratégia da defesa de culpar os advogados às decisões tomadas em torno das políticas de retenção de documentos da exchange de criptomoedas falida.
Bankman-Fried passou a primeira hora de seu depoimento na sexta-feira falando de sua formação, que incluiu acampamentos de matemática no verão e viver numa república universitária que era “mista, nerd e desinteressante”. Ele falou da época que trabalhou como trader para a Jane Street e dos primeiros dias de criação do fundo de hedge da Alameda Research em um Airbnb repleto de caixas de papelão.
Em outro momento durante o depoimento, Cohen mostrou aos jurados uma foto de seu cliente trabalhando em frente a seis monitores de computador. Bankman-Fried sorriu ao mencionar quantas tarefas ele fazia de uma só vez, chegando a trabalhar até 22 horas por dia.
Bankman-Fried disse que entregou o controle da Alameda para Caroline e Sam Trabucco no verão de 2021, quando se tornou ocupado demais com a FTX para administrar as operações diárias do fundo de hedge. Ele disse que via Caroline como responsável pela gestão de pessoas e Trabucco como gerente de risco, mas quando Trabucco deixou a empresa pouco depois devido a uma “aposentadoria antecipada”, ela acabou no controle de ambas as áreas.
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Ao relatar mais uma vez a falha técnica na Alameda que levou a empresa a perder milhões de dólares, Bankman-Fried botou a culpa não em seus sócios, mas no poder de processamento dos seus computadores.
“Assim que os humanos perceberam o que estava acontecendo, desligamos eles”, disse Bankman-Fried.
Quando Cohen perguntou se a FTX tinha uma equipe de gerenciamento de risco, Bankman-Fried respondeu: “Sem dúvidas deveríamos, mas, não, não tínhamos”.
Partes do depoimento dele entraram em conflito com os relatos de Caroline. No depoimento dela no início do julgamento, ela disse que Bankman-Fried frequentemente ditava as regras e tomava as decisões importantes para ela, mesmo depois de deixar o cargo de CEO da Alameda.
Bankman-Fried lançou a FTX em 2019, promovendo-a como uma forma acessível dos consumidores investirem em ativos digitais. A plataforma conquistou um apoio robusto de empresas de investimento conhecidas, como Sequoia Capital, SoftBank, entre outras; foi avaliada em US$ 32 bilhões no início de 2022, antes de implodir em novembro de 2022. O patrimônio líquido de Bankman, antes estimado pela Bloomberg em até US$ 26 bilhões, agora está próximo de zero.
Para muitos americanos, a FTX era um rosto conhecido no mundo das criptomoedas: celebridades como o astro da NFL Tom Brady, a supermodelo Gisele Bündchen e o comediante Larry David promoveram a exchange em comerciais no Super Bowl.