Kinea analisa a nova fase da corrida da IA, o risco de bolha, a pressão por retorno e a disputa entre grandes empresas. Foto: Adobe Stock
As cartas e relatórios da Kinea Investimentos, gestora com cerca de R$ 135 bilhões sob gestão, costumam trazer referências a grandes clássicos culturais para explicar a visão de cenário da casa. Desta vez, o material Kinea Insights relaciona um álbum da banda Pink Floyd com um tema quente: as empresas ligadas à inteligência artificial (IA).
“Assim como The Dark Side of the Moon convida o ouvinte a explorar o lado obscuro e muitas vezes negligenciado da experiência humana, hoje precisamos encarar o ‘lado oculto’ da revolução da inteligência artificial”, afirma.
A gestora observa que, após o encantamento inicial com grandes modelos de linguagem, a corrida atual e o volume de investimentos começam a levantar questionamentos sobre o retorno efetivo de todo esse capital e sobre o risco de uma possível bolha de IA.
Segundo a Kinea, o mercado está em uma nova fase em que promessas genéricas já não bastam: investidores e empresas exigem resultados tangíveis.
A casa nota que companhias de tecnologia têm escolhido tratar a IA como território a conquistar, aceitando retornos mais baixos no curto prazo para garantir presença em um mercado de crescimento secular.
Em outras palavras, o dinheiro investido representa uma aposta de que o futuro trará mais usos de inteligência artificial do que se imagina hoje e quem plantar essa infraestrutura poderá colher mais do que aparenta à primeira vista.
Dois grupos de empresas
De um lado, a Kinea vê companhias que recorrem a dívidas para não ficarem para trás na corrida da IA. Do outro lado, há empresas que investem de forma mais comedida, utilizando caixa próprio.
No primeiro caso, um dos exemplos é a Oracle (ORLC), que anunciou na última semana um aumento de US$ 15 bilhões nas projeções de gastos com data centers para atender grupos de inteligência artificial no ano fiscal de 2026. A reação foi negativa no mercado, com as ações da empresa chegando a cair mais de 10%.
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Investidores também não receberam bem os planos de investimento da Meta (META). No final de novembro, os papéis da big tech despencaram 11% após a indicação de gastos “notavelmente maiores” no próximo ano devido ao foco em IA.
Do ponto de vista de investimento, a Kinea considera mais sólida a abordagem da Microsoft (MSFT) e do Google (GOOGL), que usam caixa próprio para os seus projetos. A estratégia, segundo a gestora, minimiza riscos financeiros e traz mais confiança na perspectiva de retorno do investimento.
A casa pondera, no entanto, que as empresas que recorrem a dívidas não estão “condenadas”. “Caso suas visões se concretizem, poderão recuperar a confiança dos investidores entregando boa rentabilidade sobre o capital investido, mas a pressão atual é elevada e com pouca margem para erros no processo”, diz.
Há um vencedor da corrida da IA?
Segundo a Kinea, muitos analistas apontam o Google como um “possível vencedor silencioso” que, nos bastidores, teria acumulado vantagens estruturais para liderar a era da IA, ainda que até pouco tempo fosse tido como um “perdedor”.
Além dos balanços fortes entregues, a gestora relembra que a empresa foi pioneira em diversas técnicas utilizadas atualmente e possui um grande acervo de dados pela abrangência de suas plataformas, como o buscador, YouTube, Gmail, Android, Google Maps e Google Drive.
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Além disso, a empresa desenvolve desde 2015 os Tensor Processing Units (TPUs), chips customizados para inteligência artificial que já rivalizam com as Graphics Processing Units (GPUs) da Nvidia (NVDA).
Embora reconheça que o Google seja um forte candidato a vencedor dessa corrida, a Kinea acredita que o cenário está longe de definido. “Estamos falando de um mercado em explosão, com desenvolvimentos extremamente fluidos”, destaca.
Na visão da gestora, nada está totalmente entregue nas mãos de um só player e há espaço para mais empresas se destacarem no segmento da IA. “O Google pode muito bem ser a mais brilhante delas dado seu poder de fogo, mas não será a única”, conclui a Kinea.