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Educação Financeira

Diversificação pode ser tabu para investidores brasileiros?

Estudo realizado pelo C6 Bank e Ipec aponta que 58% dos investidores brasileiros não diversificam portfólio

Diversificação pode ser tabu para investidores brasileiros?
Especialistas indicam não deixar todos os 'ovos' na mesma cesta, quando o assunto é diversificar a carteira. Foto: Pixabay
  • Entre os entrevistados que investem, 28% aplica todo o seu capital em um único produto. Outros 30%, apesar de não aplicarem todo o montante disponível, ainda concentram a maior parte do dinheiro em uma única aplicação
  • Esse tipo de conduta amplifica bastante os riscos - até porque a carteira desses investidores está totalmente ou majoritariamente sustentada em cima de apenas uma classe de ativos
  • “As pessoas hoje não diversificam e acham normal, estão confortáveis com esse nível de diversificação e isso é alarmante”, afirma Liao Yu Chieh, educador financeiro do C6 Bank

A maioria dos investidores brasileiros não diversifica os seus investimentos pessoais. Essa é a conclusão do estudo encomendado pelo C6 Bank ao Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria). A pesquisa foi feita com 2 mil pessoas, das classes A, B e C, entre os dias 17 e 23 de fevereiro deste ano.

Entre os dados mais preocupantes, está o fato de que apenas 790 participantes costumam poupar para investir – cerca de 39% da amostra. Além disso, dos que são investidores, 28% disseram colocar todo o capital disponível em um único tipo de produto, isto é, colocam todos os ‘ovos’ na mesma cesta. Outros 30%, apesar de não aplicarem todo o montante disponível, ainda concentram a maior parte do dinheiro em uma única aplicação.

No total, pelo menos 58% desses investidores não diversifica o suficiente o portfólio. Esse tipo de conduta amplifica bastante os riscos – até porque a carteira desses investidores está totalmente ou majoritariamente sustentada em cima de apenas uma classe de ativos. Caso o segmento seja impactado, os prejuízos poderão ser substanciais.

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Além disso, o potencial de retorno também é reduzido. “As pessoas não diversificam e acham normal, estão confortáveis com esse nível de diversificação e isso é alarmante”, afirma Liao Yu Chieh, educador financeiro do C6 Bank. “Esses investidores estão com o risco muito concentrado e talvez nem saibam disso. Se esse investidor der azar e esse ativo der algum problema, ele vai sofrer muito. Por exemplo, ter um CDB de um único banco e esse banco quebrar ou ações de um único setor, e esse setor ser afetado pelas condições econômicas.

Essa também é a visão de Mario Goulart, analista da O2 Research. O especialista ressalta a importância de diversificar até mesmo na renda fixa. “O pessoal fala que é sem risco, mas não é verdade. Se você está em prefixados e as taxas sobem, você perde dinheiro [caso resgate o título antes do vencimento]. Se você está em pós-fixados e as taxas de juros caem, você também perde dinheiro”, afirma. “Então, todas as classes tem seu peso de risco. E ficando concentrado só em renda fixa, você deixa de se beneficiar de outras coisas com maiores retornos.”

Bolsa de valores

Do total de entrevistados, apenas 28% disseram investir na Bolsa de Valores. Entre esses, quase metade (46%) possui ações de menos de cinco empresas na carteira, enquanto 26% afirmam ter papéis de seis a 10 companhias. Somente 13% detém ações de mais de 10 empresas e os 15% restantes não sabem quantas companhias fazem parte do seu portfólio de ações ou investe por outros meios, como fundos de investimento.

Os dados do C6 Bank/Ipec corroboram com as informações do último relatório de pessoas físicas divulgado pela B3. Segundo a Bolsa de Valores brasileira, no ano passado 35% dos investidores cadastrados investiu apenas em ações. Destes, 33% em um único papel, 30% entre dois e quatro papéis e 37% em mais de cinco tickers. Os que mesclam ações, com BDRs, ETFs e FIIs são apenas 3%.

Mesmo que ainda alto, esses números representam uma melhora significativa em relação ao passado recente. Em 2020, por exemplo, 51% dos investidores concentravam seus recursos somente em ações, com cerca de 20% em um único papel. Já em 2016, há pouco mais de cinco anos, eram 75% de investidores com o capital concentrado na classe de ações, com 39% em um único papel.

Para Goulart, da O2 Research, não existe um número ideal de ações em uma carteira de investimentos, mas o indicado é diversificar com empresas de setores diferentes. Além disso, estudar sobre cada companhia é essencial para diminuir as chances de o investidor ter surpresas negativas.

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“Não existe uma resposta única, mas uma carteira bem montada tem elementos de vários perfis de risco e retorno. Uma carteira saudável tem que ter instrumentos de renda fixa, por exemplo, além de moedas, ouro, ETFs etc. Com a guerra da Rússia e Ucrânia, quem tinha ouro se beneficiou”, afirma Goulart. “Mesmo uma carteira só de ações pode conter companhias de tecnologia, petróleo, mineração, agrícola, varejo, por exemplo.”

Já Chieh, do C6, tem um macete baseado na sigla ‘ILEP’ – Indexador, Liquidez, Empresa e Produto. A ideia é mixar indexadores diferentes, como ativos que rendem a Selic (juros) com ativos que rendem o IPCA (inflação), por exemplo, além de ter aplicações com diferentes níveis de liquidez. Na parte de empresas, a estratégia é investir em companhias de diferentes setores e em fundos de diferentes gestores.

Por último, no produto, o investidor deve mesclar as aplicações para fugir de riscos regulatórios. “Imagine que você tem todo seu dinheiro na poupança e seja criada uma tributação em cima dela. De repente, toda a sua carteira seria afetada”, explica Chieh.

Educação financeira

Quando o assunto é educação financeira, os dados mostram um cenário pouco mais positivo. Cerca de 60% dos entrevistados disseram já ter parado para reavaliar seus investimentos desde quando os juros começaram a subir no País, o que mostra que os investidores brasileiros estão mais atentos às flutuações econômicas.

Em menos de um ano, a taxa básica de juros da economia passou de 2% para os atuais 10,75%, o que aumentou os prêmios na renda fixa. Outra informação positiva é que só 23% responderam que já compraram uma determinada ação depois da recomendação de um influencer. As pessoas que concordaram que é possível fazer apostas de curto prazo na Bolsa baseadas em intuição e sorte também são minoria (32%).

Por outro lado, uma fatia de 40% ainda acredita poder ganhar muito dinheiro em pouco tempo com os investimentos. “Infelizmente, essa é a parcela que acredita que pode aprender inglês dormindo ou perder peso em pouquíssimos dias tomando chá. São as pessoas que acreditam em milagres”, afirma Chieh. “Você não investe para ter dinheiro rápido, enriquecer, você investe para ter capital para imprevistos, realizar sonhos e para poder viver bem na aposentadoria.”

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Esse percentual alto de investidores que acreditam conseguir altíssimos retornos no curto prazo, contrasta com o percentual baixo de investidores que investem na Bolsa – que seria, em tese, onde teriam os mais altos retornos.

Chieh explica que essa dualidade, por vezes, vem da falta de conhecimento sobre a rentabilidade dos investimentos aliado ao histórico de altas taxas de juros e inflação no Brasil. Há pouco tempo, a rentabilidade da renda fixa mais conservadora conseguia superar os retornos em Bolsa, o que já não é mais totalmente verdade.

“Para que vou investir em uma empresa que me dá 20% ao ano de retorno, com todo o risco do papel, se eu posso receber 17% de rentabilidade aplicando na poupança? Isso nos anos 1990, claro”, afirma Chieh. “Isso fez com que as pessoas nem buscassem informação sobre renda variável.”

Por último, 70% dos investidores são céticos quantos às recomendações de assessores de investimentos e gerentes. Eles não acreditam que esses profissionais fazem suas indicações pensando apenas no que é melhor para o cliente.

Gourlart afirma que a desconfiança tem sentido. “Muitas vezes, os profissionais, principalmente dos agentes autônomos e bancos, têm cotas de investimentos para vender. Então eles ficam te empurrando investimentos como COEs”, explica. “Claro, existem bons profissionais no mercado, mas o investidor pagará um preço por isso. E geralmente em períodos de alta de Bolsa, os investidores ficam muito felizes com os profissionais de investimento. Quando cai, esse pessoal fica mais cético.”

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O educador financeiro do C6 também vê uma culpa dos bancos nessa situação. “Os investidores desconfiam porque o histórico é ruim. Já presenciei várias histórias de pessoas ludibriadas pelo gerente de banco, que tinha que bater metas naquele mês. Já vi gente com dinheiro sobrando que foi ao banco e saiu com um título de capitalização”, diz. “Hoje temos assessores independentes, até mesmo dentro dos bancos, que não têm metas. Contudo, essa desconfiança foi construída pelos próprios bancos.”

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