- Desde a campanha, o agora presidente eleito dos EUA Donald Trump se posicionou com uma agenda voltada ao protecionismo econômico
- Trump Trade reforça a visão do dólar como opção mais atraente, além dos fatores que já existiam, como a resiliência da economia americana
- No Brasil, a valorização do dólar tem pouco a ver com o chamado Trump Trade e mais com a situação fiscal
Desde a campanha, o agora presidente eleito dos EUA Donald Trump se posicionou com uma agenda voltada ao protecionismo econômico, ao prometer ações restritivas à imigração e aumento de tarifas de importação, principalmente aos produtos chineses. São medidas consideradas inflacionárias que fazem o dólar se valorizar em relação às outras moedas, inclusive a de países emergentes como o Brasil.
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Na quarta (6), depois da confirmação da vitória do candidato republicano, o Índice Dólar (DXY) – indicador que mede o valor da moeda americana em relação a uma cesta ponderada de outras seis – bateu o maior valor desde julho, quando o mundo ainda assistia a uma inflação nos EUA considerada persistente e dados robustos da economia, mesmo com o Federal Reserve, o Fed, insistindo na alta de juros.
Agora, com a perspectiva gerada por Trump de menor concorrência no mercado doméstico, é esperado que produtos com preços mais elevados vão pressionar o custo de vida dos americanos. A situação estimula o chamado “Trump Trade” dos investidores. “O mercado automaticamente espera que o espaço para corte de juros nos Estados Unidos diminua”, afirma Mauro Orefice, portfólio manager da B.Side Investimentos.
Ciclo de juros do Fed
Foi em setembro que o Fed iniciou o atual ciclo de corte de juros, com uma redução de 0,50 ponto porcentual, estabelecendo a taxa básica entre 4,75% e 5,00%. Agora, a maioria dos analistas reduziu a previsão de corte para 0,25 ponto percentual, resultado que será divulgado nesta quinta (7).
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Em setembro o DXY atingia seu menor valor no ano, na casa dos 100 pontos. Naquele mês a expectativa era de um Fed menos menos agressivo, devido a sinais de desaceleração econômica nos EUA. Essa perspectiva reduziu a atratividade do dólar para investidores.
Agora, o Trump Trade reforça a visão do dólar como opção mais atraente, além dos outros fatores que já existiam, a exemplo da resiliência da economia americana e as tensões comerciais e de conflitos em outras regiões.
No Brasil, fiscal pesa mais que Trump
O gestor da B.Side avalia que, no Brasil, a valorização do dólar tem pouco a ver com o chamado Trump Trade. “Na quarta (6), o mercado abriu com o dólar subindo, assim que foi conhecido o resultado da eleição, mas acabou caindo no final do dia”, destaca.
O dólar teve uma sessão de bastante volatilidade na quarta, chegando a subir quase 2% pela manhã e se inverteu ao longo do dia, com realização de lucros à espera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic, que decidiu elevar a taxa de juros brasileira em 0,50 ponto percentual para 11,25% ao ano. Nesta quinta (7) a moeda americana abriu em alta de 0,29% a R$ 5,6923.
Em um cenário de juros elevados nos Estados Unidos, o mercado espera que economias como a brasileira adotem estratégias cautelosas para preservar a estabilidade, tranquilidade que a política fiscal do governo não está entregando. “A dinâmica do dólar está muito mais associada às questões domésticas, até porque a gente já tem taxa de juros no Brasil num patamar bastante elevado”, considera Orefice.
Nesta quinta (7) os juros futuros perdiam a força conforme o dólar passava a cair frente ao real ao longo da manhã. A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que o mercado ajusta posições em meio a expectativas pelo fim da reunião do presidente Lula com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de algum eventual anúncio do pacote de corte de gastos. É esperado que o governo anuncie cortes de gastos estruturais nos próximos dias.
Déficit fiscal, dívida e inflação
Os gastos do governo brasileiro geram preocupação porque despesas elevadas podem resultar em déficits fiscais persistentes, em aumento da dívida pública e em pressões inflacionárias, fatores que afetam negativamente a economia. Em agosto de 2024, a Dívida Bruta do Governo Geral do Brasil (federal, estaduais e municipais) atingiu 78,5% do PIB, conforme dados do Banco Central, nível considerado elevado para uma economia emergente.
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Além disso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulava alta de 4,42% em 12 meses em setembro. Esta semana o Boletim Focus mostrou que o mercado estima uma inflação de 4,59% em 2024, acima do teto da meta de 4,50%.