Sabendo disso, o que o investidor mais conservador precisa ter em mente para melhorar seu rendimento mantendo o mesmo nível de segurança?
A escolha depende do nível de conhecimento e da disposição para lidar com pequenas variações ou prazos de resgate. O importante é começar devagar, pois os valores guardados na caderneta geralmente são usados para imprevistos, registrando entradas e saídas frequentes da conta da pessoa.
“Normalmente o que está na poupança é uma reserva de emergência, um dinheiro menor. Todos os anos tem bilhões e bilhões que entram e saem na poupança, porque as pessoas usam esse dinheiro”, descreve Thiago Picanço, sócio e head de Wealth Management da Reach.
Alguns especialistas até demonstram pouca paciência para falar sobre o assunto. “Não tem nem o que falar sobre poupança hoje em dia. Só não invista”, diz Caio Tonet, diretor institucional da W1 Capital. “Não faz nenhum sentido para o investidor. Faz sentido para a instituição financeira que capta um valor mais baixo para emprestar dinheiro a um valor mais alto”, resume.
Dando os primeiros passos fora da poupança
Sem sair do universo bancário, o primeiro degrau costuma ser o CDB com liquidez diária, que rende em torno de 100% a 105% do CDI e é garantido pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil por instituição, ou R$ 1 milhão por CPF. O resgate é simples e o rendimento começa a contar desde o primeiro dia útil após a aplicação.
O CDB (Certificado de Depósito Bancário) é um título emitido pelo banco para captar recursos. Ao investir o cliente está emprestando dinheiro à instituição em troca de juros atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário). O CDI, por sua vez, é a taxa usada pelos bancos para emprestar dinheiro entre si por um dia. Ela acompanha de perto a Selic, e serve como referência de rentabilidade para investimentos de renda fixa.
“O ideal é buscar conhecimento e iniciar com pequenos aportes em CDBs atrelados ao CDI, preferencialmente com rentabilidade de 100% do CDI”, ensina o professor da Unisuam, Enilton Carlos. “Depois, é possível avançar para outros produtos, sempre priorizando bancos confiáveis e, se possível, com apoio de um profissional qualificado.”
É importante notar que, para os CDBs, além do Imposto de Renda, há a questão do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) regressivo que varia de 96% a 1% para resgates nos primeiros 30 dias. Mas para quem está saindo da poupança, essa tributação pode ser considerada um avanço. Isso porque, na caderneta, o rendimento só é creditado na data de “aniversário” da aplicação e o investidor perde o ganho se resgatar antes desse prazo de 30 dias.
No CDB, apesar de o imposto ser mais alto, o dinheiro passa a render desde o primeiro dia útil, o que torna a rentabilidade mais vantajosa já no curtíssimo prazo.
Para começar a ir além dos CDBs
O segundo passo é avaliar as Letras de Crédito Imobiliários e do Agronegócio (LCIs e LCAs), que são papéis isentos de Imposto de Renda, assim como a poupança. Essas duas opções costumam pagar de 80% a 90% do CDI. Embora pareçam menos vantajosos que os CDBs à primeira vista, a isenção fiscal faz com que a rentabilidade líquida seja bastante próxima e, ainda sim, muito maior do que a poupança, que no atual patamar de juros paga 56% do CDI.
Para quem já se sente mais confiante, o Tesouro Direto é uma alternativa sólida. “O Tesouro Direto tem alguns custos adicionais de custódia, de transação, mas também é muito bom”, avalia Picanço da Reach. Apesar de não ter cobertura do FGC, os títulos públicos são considerados de baixo risco, por serem emitidos pelo próprio governo.
E, dentre as opções, o Tesouro Selic é a mais conservadora, ideal para quem ainda preza por liquidez e segurança.
Uma quarta alternativa são os fundos DI, que aplicam em títulos públicos e papéis atrelados ao CDI. Não contam com a garantia do FGC, mas costumam ter gestão profissional e facilidade de movimentação.
Ainda assim, podem carregar exposição a crédito privado, o que gera oscilações de rentabilidade, como se viu recentemente em fundos afetados por casos como o das Americanas. “Porém, existem fundos CDI muito bem geridos, antigos, dos grandes bancos e algumas gestoras também, como a própria Reach Capital, que consegue entregar, líquido de taxa, uma rentabilidade até um pouco melhor que o CDI”, diz Picanço.
IPCA+ exige convivência com a volatilidade do mercado
Entre as opções conservadoras, há também os títulos indexados à inflação (Tesouro IPCA+). Eles combinam uma taxa de juro real, acima da inflação, com a correção do IPCA, garantindo que o investidor preserve o poder de compra no longo prazo. Atualmente, os papeis IPCA + oferecem uma rentabilidade real acima dos 7% ao ano, um ganho historicamente alto.
“Quando faço planejamento patrimonial, eu olho sempre para o juro real, não para o nominal”, explica o especialista da Reach Capital. “Não adianta comemorar 15% de rentabilidade se a inflação for de 20%. O que importa é o quanto seu dinheiro rende acima da inflação.”
Com o IPCA rodando em torno de 4,5% e a Selic em 15%, o juro real gira hoje perto de 10,5%, um dos patamares mais altos da história recente. Por isso, o cenário considerado ideal para “travar” taxas atrativas em títulos atrelados à inflação.
Embora esses títulos sejam seguros, eles têm volatilidade no curto prazo. Isso ocorre porque o preço de mercado dos títulos oscila conforme a expectativa de inflação e de juros futuros. Em outras palavras, o investidor pode comprar um IPCA+ hoje e, daqui a um mês, ver o valor cair um pouco, mesmo que o título continue pagando tudo o que prometeu.
Esse é um efeito da chamada marcação a mercado que só se torna prejuízo se o investidor resgatar o dinheiro. Por isso, o Tesouro IPCA+ é recomendado apenas para quem pode esperar até o vencimento.
Por que a poupança não é atraente com juros altos?
Pela regra atual, quando a taxa básica supera 8,5%, a caderneta rende apenas 0,5% ao mês mais a TR, que hoje está em torno de 0,17%. Isso equivale a cerca de 0,67% ao mês, ou 8,4% ao ano, equivalente a pouco mais da metade do que paga o CDI, referência da renda fixa. “A poupança só se torna competitiva quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano”, diz Enilton Carlos, CFP e professor da Unisuam.
“Em termos simples, quem investe R$ 1 mil na poupança termina o ano com cerca de R$ 1.084, enquanto quem aplica em um título atrelado à Selic teria R$ 1.150”, compara Picanço da Reach.
Mesmo com isenção de Imposto de Renda, a poupança perde feio para produtos conservadores como CDBs, LCIs e LCAs, que oferecem liquidez diária e rentabilidade próxima a 100% do CDI. Num CDB, por exemplo, o investidor paga a alíquoda máxima de 22,5% de IR sobre os rendimentos nos primeiros seis meses. Ainda assim, o retorno líquido chega a 77,5% do CDI – bem acima dos 56% da poupança.
“A isenção de IR não torna a poupança necessariamente mais atraente, principalmente quando comparamos com LCI, LCA ou CDBs”, reforça o analista de Renda Fixa da Ágora, Wellington Gonçalves.
Sem aniversário, poupança não rende
Além disso, o famoso “aniversário da poupança” reduz ainda mais sua atratividade. Se o resgate ocorrer antes de 30 dias, o investidor não recebe nada de rendimento. “É como se houvesse um IOF de 100% no primeiro mês, enquanto nos CDBs o imposto é regressivo e some totalmente após 30 dias”, diz o especialista da Reach.
Além disso, se o resgate acontece em 45 dias, por exemplo, o investidor terá perdido os 15 dias de rendimento do segundo mês.
O resultado é que cada vez mais gente está preferindo deixar a poupança de lado e buscar outras opções de aplicação. Mesmo tendo ainda mais de R$ 1 trilhão aplicados, a caderneta tem registrado resgates líquidos bilionários há anos. Foram R$ 15 bilhões em 2024, mais de R$ 88 bilhões em 2023 e tendência semelhante em 2025.
“Com o tempo, o investidor pode evoluir para CDBs, LCIs/LCAs ou fundos de renda fixa e, posteriormente, incluir papéis indexados à inflação, como o Tesouro IPCA+, que aumentam o retorno sem elevar muito o risco”, complementa João Neves, analista da EQI Research.
Veja simulação para um investimento de R$ 5 mil
A pedido do E-Investidor, Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), elaborou uma simulação para avaliar o desempenho de investimentos em renda fixa, considerando a Selic em 15% ao ano.
O levantamento adota a previsão do Boletim Focus de 4,55% para a inflação medida pelo IPCA, segundo dados do Boletim Focus, e uma rentabilidade anual da poupança estimada em 8,3%. A análise inclui cálculos de rentabilidade bruta, líquida — já descontados impostos e taxas — e rentabilidade real, que leva em conta a correção pela inflação, para um investimento inicial de R$ 5 mil.
Pelos cálculos, a poupança pode ser mais rentável do que fundos DI com taxas de administração mais altas que 0,50% ao ano, confira:
|
Rent. Bruta em 1 ano |
Tx Adm. |
IR% em Reais |
Rentabilidade Líquida em Reais |
Valor Real (descontada a Inflação)
|
| LCA 97% |
14,55% |
|
0 |
727,5 |
466,9 |
| LCI 97% |
14,55% |
|
0 |
727,5 |
466,9 |
| CDB 116% |
16,50% |
|
165 |
660 |
402,47 |
| Tes. Selic + 0,01%aa |
15,01% |
0,25% |
147,22 |
588,9 |
334,6 |
| Fundo DI |
15,00% |
0,50% |
144,25 |
577 |
323,25 |
| Poupança Nova |
8,30% |
|
0 |
415 |
168,62 |
| Poupança antiga |
8,30% |
|
0 |
415 |
168,62 |
| Fundo DI2 |
15,00% |
1% |
138,5 |
554 |
301,29 |
| Fundo DI3 |
15,00% |
2% |
127 |
508 |
257,39 |