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Educação Financeira

Por que Barsi acredita que investir em renda fixa é uma ‘perda fixa’

Megainvestidor acredita que o caminho para uma boa aposentadoria se dá por meio do mercado de capitais

Por que Barsi acredita que investir em renda fixa é uma ‘perda fixa’
Luiz Barsi, o maior investidor individual do País (Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo)

O Brasil está envelhecendo e na avaliação de Luiz Barsi Filho, o maior investidor pessoa física do País, a melhor escolha na hora de pensar em aposentadoria é apostar na construção de uma carteira de renda mensal. Na contramão do movimento atual de investir cada vez mais em títulos públicos, como Tesouro IPCA+, Barsi é categórico: ‘não existe renda fixa, só perda fixa’.

O último levantamento do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que em um intervalo de 12 anos, o índice de envelhecimento escalou de 30,7 para 55,2 (considerando uma escala em que quanto maior o valor, mais envelhecida é a população). A pesquisa também aponta que 90% dos aposentados dependem exclusivamente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para sua subsistência, enquanto 51% dos trabalhadores ativos planejam ancorar sua sobrevivência unicamente nesse mesmo sistema previdenciário.

Diante dessa tempestade demográfica e financeira, desponta o “Tesouro IPCA+”, título indexado à inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e com um juro real de 6%. Na prática, para alcançar a marca de R$ 500 mil por meio do Tesouro IPCA+ clássico, em 10 ou 20 anos, por exemplo, os aportes mensais requeridos ascendem a R$ 2,3 mil e R$ 731,98, respectivamente.

Para Luiz Barsi, muitos investidores optam por aplicar seus recursos em títulos públicos por ser uma escolha arraigada na tradição, dada a história de taxas de juros vigorosas no Brasil. Todavia, o que é percebido como uma poupança individual, no contexto nacional se transmuta em gasto, pois o governo emite os títulos para financiar suas operações e acaba incrementando a dívida pública.

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A concepção de renda fixa no Brasil, portanto, é desafiada por sua natureza mais fixa que remunerativa. Para garantir uma aposentadoria tranquila, seria preciso reformular o sistema previdenciário, levando em consideração os investimentos ao longo do tempo, disse o megainvestidor durante a pré-estreia do documentário “INSS: Bomba-Relógio do Brasil”, realizada nesta terça-feira (4). A produção é do Ações Garantem o Futuro (AGF), plataforma com foco em geração de renda passiva fundada em 2019 por Louise Barsi, Felipe Ruiz e Fábio Baroni, e será disponibilizado gratuitamente em 10 de junho no canal do YouTube @acoesgarantem.

Durante o filme, o argumento é que a Reforma da Previdência de 2019 não será suficiente para conter as complexidades e desafios enfrentados pelo INSS porque a despesa já consome cerca de 40% do orçamento público. Nesse contexto, especialistas em previdência e contas públicas como Hélio Zylberstajn e Fábio Giambiagi, o cientista político Paulo Tafner, e o economista e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, defendem a necessidade de novas revisões nas regras para evitar uma explosão de despesas.

Para Barsi, vislumbrar ações como parte de um horizonte de 30 anos pode se mostrar uma alternativa mais atrativa do que confiar exclusivamente na previdência. “Na Bolsa, 98% dos investidores são especuladores. Poucos são investidores reais, pensando no longo prazo”, disse, durante a coletiva.

O mercado de capitais brasileiro, por sua vez, testemunhou um desenvolvimento notável, tornando-se mais propício tanto para empresas privadas quanto para investidores. A B3, principal Bolsa de Valores brasileira, opera como um elo entre aqueles que detêm capital e aqueles que o demandam, proporcionando oportunidades de investimento e financiamento.

Como construir a carteira previdenciária ideal

Barsi, conhecido também como o ‘Rei dos Dividendos’, adota a estratégia de rendimento passivo mensal desde os anos 1970, quando começou a realizar uma “análise detalhada” de empresas que demonstravam desempenho eficaz naquela época.

Segundo ele, a estratégia permanece a mesma, mas os montantes mudaram: “Naquela época, nossos recursos eram mais modestos e derivavam dos dividendos. Além disso, há um aprendizado do mercado. Concentramos nossa orientação e busca por oportunidades sempre no mercado, o qual nos proporciona insights valiosos que poucos desejam ouvir. A Klabin (KLBN11) me ensinou que os dividendos são ganhos com base na quantidade de ações possuídas e não no valor investido; isso foi aprendido com o mercado e aplico isso no projeto”, reforça.

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A economista e empresária Louise Barsi, filha do investidor, também optou por seguir os passos do pai. Ela acredita que os desafios dos investidores residem no planejamento e na falta de educação financeira. “Ser acionista não se limita apenas aos momentos em que você recebe dividendos, mas também aos momentos em que você precisa contribuir com a empresa. É uma relação de parceria que você deve cultivar, por isso raramente optamos por vender. Sempre pensamos em qual nova empresa podemos nos tornar acionistas”, afirma.

A analista acredita que é crucial adotar sempre uma estratégia calculada para enfrentar os obstáculos e alcançar objetivos de longo prazo, mantendo reservas de emergência e de oportunidade.

Sobre Luiz Barsi

Aos 83 anos, Barsi detém um patrimônio estimado em R$ 4 bilhões, exclusivamente em ações. De origem modesta, o investidor conduz uma vida despretensiosa, mesmo diante de sua fortuna acumulada. Filho de imigrantes espanhóis, o empresário passou sua juventude no bairro do Brás, em São Paulo. Desde tenra idade, trabalhou como alfaiate e engraxate para auxiliar nas despesas familiares.

Seu ingresso no mercado financeiro deu-se no início dos anos de 1960, quando obteve emprego em uma corretora de valores. A partir daí, buscou conhecimento através de um curso técnico em contabilidade e passou a investir o excedente de seu salário em ações. Nesse período, a Bolsa ainda contava com poucas empresas de capital aberto.

Além disso, Barsi concluiu o curso de Direito pela Faculdade de Direito de Varginha (MG) e Economia pela Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências Atuariais da USP (FEA).

Desde a década de 1970, ele adere ao método da “carteira de ações previdenciária”, questionando a estrutura do sistema previdenciário brasileiro. Essa estratégia, centrada em investimentos de longo prazo, concentra-se na aquisição de ações de empresas que distribuem dividendos. “Operando dessa maneira, torna-se mais simples obter uma fonte de renda passiva para a aposentadoria”, ensina.

Em sua busca por maiores dividendos, o bilionário busca adquirir uma quantidade substancial de ações, preferencialmente de empresas subvalorizadas no mercado.

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