- Ciro Gomes diz que os jovens devem receber noções básicas de orçamento pessoal e ser orientados sobre as consequências do endividamento excessivo
- André Janones entende que não há necessidade de criar uma disciplina específica, mas avalia ser importante o ensino do tema de forma transversal
- Simone Tebet argumenta que o País tem uma “enorme oportunidade” de avançar na melhor formação dos jovens a partir do novo ensino médio e da adoção da BNCC, que inclui a educação financeira como conteúdo básico
O debate sobre a educação financeira nas escolas brasileiras entrou novamente em destaque nas últimas semanas. Com as eleições presidenciais se aproximando, o E-Investidor perguntou aos pré-candidatos como eles avaliam o ensino do tema nas escolas públicas e privadas do País.
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Entre os cinco nomes que lideram a disputa pela presidência, de acordo com o agregador de pesquisas do Estadão, todos os três que responderam aos questionamentos da reportagem entendem que o tema é fundamental e deve ser aplicado na sala de aula, como prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
“É essencial que os jovens aprendam a não cair na armadilha do endividamento, juros altos e também aprendam a usar recursos financeiros para ter uma qualidade de vida melhor”, diz Ciro Gomes (PDT).
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André Janones (Avante) reconhece que o tema é importante, mas faz uma ressalva. “Só não podemos cair na armadilha de achar que aí está o problema da pobreza no Brasil”, pontua.
Simone Tebet (MDB) entende que as escolas devem preparar o aluno para o exercício da cidadania e para o mercado de trabalho. “Educação financeira é parte dessa formação”, diz a senadora.
De acordo com os dados do agregador de pesquisas do Estadão, os cincos candidatos que lideram a corrida presidencial são: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro, Janones e Tebet. As campanhas do ex-presidente Lula e do presidente Bolsonaro, no entanto, não comentaram o tema.
A assessoria do petista afirmou que “o plano de governo ainda está em construção e recebendo contribuições via plataforma on-line”. A assessoria de Bolsonaro não respondeu ao repórter.
Ao informar que pretende incentivar o ensino da educação financeira nas escolas públicas, Ciro diz que os jovens devem receber noções básicas de orçamento pessoal e serem orientados sobre as consequências do endividamento excessivo, cálculos de taxas de juros simples e compostos, valores de prestações e de bens adquiridos a prazo.
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O ex-governador do Ceará também defende, para um estágio posterior do curso, a implementação de cálculos financeiros básicos para a estruturação de um negócio. “Podem ser discutidos pontos como o mercado de ações, aplicações financeiras e estrutura de tributos, mas este é um ponto secundário no aprendizado. No estágio inicial da educação financeira, o mais importante é ensinar os jovens a evitarem as armadilhas do endividamento excessivo”, diz Ciro.
André Janones entende que não há necessidade de criar uma disciplina específica. “Basta tratar assuntos como educação financeira de maneira transversal, ou seja, discutir o dia a dia na matemática, português, literatura e por aí vai”, diz o candidato.
A senadora Simone Tebet argumenta que o País tem uma “enorme oportunidade” de avançar na melhor formação dos jovens a partir do novo ensino médio e da adoção da BNCC. Segundo ela, as mudanças promovidas no currículo das escolas ainda no governo Michel Temer (MDB) “vão aproximar a escola da vida real dos alunos e, com isso, contribuir para reduzir a evasão”.
“Se começarmos já, podemos mudar o atual estado ruim da nossa educação em menos de uma década. Mas é preciso colocar isso como prioridade nacional”, diz a senadora.
Projeto no RS aquece o debate sobre tema
A aprovação do Projeto de Lei 231/2015 no início de junho aqueceu o debate sobre a inclusão da educação financeira nas propostas pedagógicas das escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul. Na ocasião, a deputada estadual Luciana Genro, do PSOL, classificou a obrigatoriedade prevista no PL como “ridícula”. O posicionamento viralizou em um vídeo na internet e ela foi alvo de críticas nas redes sociais e de influenciadores de finanças.
Genro diz que os educadores financeiros fazem um trabalho importante, mas não serão eles quem irão às escolas públicas ensinar. “As escolas não têm dinheiro sequer para pagar o deslocamento deles, mesmo que eles queiram trabalhar de graça. Serão os professores da própria rede pública que darão essa aula, então eles próprios devem definir a hierarquia de prioridades de acordo com a comunidade que eles vivem e com as necessidade”, disse, em entrevista recente ao E-Investidor.
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A aprovação da PL incentiva as escolas a seguirem o que já está previsto para todo o País. Desde 2017 (na educação infantil e ensino fundamental) e 2018 (no ensino médio), o governo federal entende que a educação financeira deve ser abordada de forma transversal pelas escolas em aulas e projetos de várias disciplinas, como matemática, geografia e língua portuguesa.
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) defende que as lições comecem na escola. “As pessoas devem ser educadas sobre questões financeiras o mais cedo possível em suas vidas”, diz um documento da organização datado de 2005, que define a educação financeira como o processo pelo qual os consumidores e investidores financeiros melhoram a sua compreensão dos produtos, conceitos e riscos financeiros.