O que este conteúdo fez por você?
- Nubank e PicPay, famosos pela remuneração automática de suas contas correntes, mudaram recentemente suas regras de rendimento
- De um lado, a mudança pode ser benéfica para as empresas; de outro, não é tão vantajosa para os clientes
- Por isso, o E-Investidor escutou especialistas para saber outras opções de contas digitais no mercado que podem valer a pena em termos de rendimento e quais fatores é preciso avaliar antes de escolher a instituição financeira
Um dos motivos da popularização dos bancos digitais no Brasil foi a oportunidade de fazer render o dinheiro disponível na própria conta. O exemplo mais famoso era a Nuconta, do Nubank, em que o saldo na conta corrente dos clientes era remunerado diariamente com 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
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Mas as coisas mudaram no roxinho e, desde meados de julho, o dinheiro deixado na conta da instituição financeira só vai render depois que permanecer lá por 30 dias. Entenda como vai funcionar.
A mudança levou algumas pessoas, como o colunista do E-Investidor Fabrizio Gueratto, a compararem a Nuconta com a poupança.
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O PicPay, outra fintech conhecida pelo rendimento automático do dinheiro disponível em conta, também realizou mudanças no fim de julho. A aplicação do dinheiro dos correntistas, que antes rendia 105% do CDI, agora terá um retorno de 102% do CDI para saldos aplicados em Certificado de Depósito Bancário (CDB). Veja aqui um resumo das mudanças.
“O movimento de alguns bancos de não remunerar mais de forma diária o investidor nas contas correntes visa diminuir custos totais da operação e, no caso das fintechs, apresentar lucro para seus acionistas”, explica Carol Stange, educadora em finanças pessoais. Monetizar a base de clientes e remunerar seus acionistas é, inclusive, um dos principais desafios no caminho do Nubank.
A especialista destaca que, para as instituições financeiras, esta é uma ótima ideia, visto que 40% a 50% dos saques das contas remuneradas acontecem antes do período de 30 dias. Para quem utilizava esse tipo de conta como um caixa para o dia a dia, porém, não é mais tão vantajoso.
Por isso, o E-Investidor consultou especialistas para saber outras opções de contas digitais no mercado que podem valer a pena para os investidores em termos de rendimento.
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Uma simulação feita por Vinícius Luiz Barreto, planejador financeiro CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), comparou o investimento de R$ 1 mil em seis instituições financeiras que remuneram o saldo da conta corrente dos correntistas pelo CDI. O levantamento mostra que, com as mudanças nas regras de rendimento no Nubank e no PicPay, a conta digital do Banco Pan é a que oferece o maior rendimento líquido após um mês, de 103% do CDI.
PicPay agora é a segunda melhor opção, com rendimento de 102% do CDI, enquanto Nubank se iguala as outras opções do mercado oferecendo 100% do CDI a seus clientes. A única diferença é que, desde julho, o dinheiro só começa a render depois de 30 dias, ao contrário das outras instituições que oferecem a rentabilidade diária.
Na prática, o dinheiro deixado na Nuconta não renderá menos com a mudança, já que o cliente receberá o valor retroativo depois dos primeiros 30 dias do depósito. A diferença aqui é que, para chegar ao rendimento máximo, a quantia precisará ficar "parada" durante todo esse período.
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Todas as opções analisadas conseguem superar a poupança em aplicações de R$ 1 mil, mesmo com a caderneta isenta de IR.
A poupança tem uma regra de render 6% por ano mais a taxa referencial (TR) toda vez que a Selic estiver acima de 8,5%, como neste momento. Com a taxa básica de juros em 13,75%, a defasagem de rentabilidade da caderneta em relação aos outros investimentos disponíveis no mercado é cada vez maior. Nesta reportagem, mostramos que, com a Selic a 13,75% ao ano, R$ 1 mil na poupança rende apenas R$ 5 por mês.
Por isso, entre deixar o dinheiro parado na poupança ou parado em uma conta digital com rendimento automático, a segunda opção é mais vantajosa. “Destacamos também a praticidade das contas remuneradas, pois o rendimento é automático só de deixar o saldo em conta. A liquidez ainda é diária, podendo resgatar o recurso da conta digital a qualquer momento, diferente da poupança que o pagamento do juro é de 30 em 30 dias”, diz Vinícius Luiz Barreto, planejador financeiro CFP pela Planejar.
Como escolher a melhor conta
Para além do rendimento em CDI, é preciso levar alguns pontos em consideração antes de abrir uma conta e migrar os recursos.
O rendimento de 103% do CDI da conta do Banco Pan, por exemplo, é limitado a saldos de até R$ 100 mil. Na 99pay, a carteira digital segue uma outra regra e saldos de até R$ 500 rendem 220% do CDI. Quem deixar na conta um valor maior do que este, o rendimento é de 100% do CDI para o restante. Exemplo: uma conta com de R$ 1 mil tem R$ 500 rendendo a 220% do CDI e outros R$ 500 a 100% do CDI. Já as contas que aplicam o saldo do cliente em CDBs, como o PicPay, estão sujeitas à cobrança de IOF.
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Esses exemplos mostram como os bancos podem ter taxas de anuidade, incidência de IOF ou cobrança de Imposto de Renda, limite de rendimento ou outras regras específicas que precisam ser analisadas pelo consumidor.
“É preciso levar em conta onde o dinheiro é aplicado, se em títulos públicos com a garantia do governo ou se em CDB's e RDB's da própria instituição, correndo o risco do emissor da dívida não pagar. É importante também observar o prazo de liquidez e qual taxa ele vai receber pela aplicação”, diz Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
O investidor também precisa se atentar à solidez da instituição financeira em questão. No Brasil, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) tem como responsabilidade proteger os depósitos em dinheiro feitos em instituições financeiras que operam no País. A instituição oferece uma garantia de proteção de até R$ 250 mil por CPF no caso de falência dos bancos.
Embora o FGC seja suficiente para proteger a maior parte da população, prestar atenção no histórico da instituição também pode ajudar a escapar de uma roubada. “É muito importante entender o grau de solidez da instituição financeira, os custos envolvidos na abertura, manutenção e nos serviços utilizados na conta corrente”, explica Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da GT Capital.
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Carol Stange dá ainda duas outras dicas para quem quiser pesquisar mais sobre um banco antes de aderir aos seus serviços. A primeira é pesquisar os índices de resolução de problemas e qualidade de atendimento em portais de registro de reclamações, como o Reclame Aqui, ou fóruns de discussão nas redes sociais. Assim, já dá para ter uma ideia do nível de assistência que aquela instituição oferece em eventuais problemas.
Para quem gosta de informações mais técnicas, o Índice de Basileia é utilizado pelo Banco Central para medir a saúde financeira de determinada instituição, e pode ser consultado no site do BC. Para ser considerado saudável, um banco precisa ter ao menos 11% de desempenho no índice, explica a educadora.
“A conta remunerada é uma espécie de isca para atrair novos clientes. Mas, se ao pesquisar como a instituição se relaciona com seus clientes e em quais produtos ela é referência, os resultados forem positivos, eu abriria uma conta para usufruir da melhor opção de remuneração tranquilamente”, diz Stange.