- Rejane Tamoto, planejadora financeira CFP da Planejar, deixa dicas para pais darem o pontapé inicial no planejamento financeiro dos filhos
- Colocar pequenos objetivos reais para as crianças e ensinar conceitos teóricos aos poucos estão entre as sugestões
A falta de conhecimento sobre finanças ainda é uma realidade no Brasil. De maneira geral, isso acontece pelo fato de a grande maioria das pessoas não terem recebido educação financeira durante a infância. Segundo dados do Ibope, apenas 21% dos brasileiros tiveram lições sobre o tema quando crianças.
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A mudança deste cenário depende de pais que não receberam estes ensinamentos na infância fazerem diferente com os filhos. “A criança aprende muito com o exemplo”, diz ao E-Investidor Rejane Tamoto, planejadora financeira CFP da Planejar.
Entre as recomendações da especialista para iniciar a educação financeira dos pequenos, está começar o processo colocando pequenos objetivos e aos poucos ensinar conceitos mais teóricos, como o juros composto.
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E-Investidor: Por que o brasileiro não tem a cultura de aprender sobre investimentos na infância?
Rejane Tamoto – Como o dinheiro e investimentos não são temas abordados na educação formal da criança, os ensinamentos acabam sendo algo que ela aprende em casa. Ou seja, ela observa como os pais lidam com essas questões. Então, como o aprendizado vem da experiência dentro de casa, é comum que pouco seja difundido. Isso porque, segundo uma pesquisa da Anbima (a terceira edição do Raio X do Investidor Brasileiro, publicada em 2020), menos da metade dos brasileiros tem algum saldo aplicado em produtos de investimento.
Com qual idade os pais podem inserir investimentos na vida da criança?
A partir dos 5 anos. Nessa idade é importante que a criança começa a ter contato com o dinheiro, por isso é muito utilizada a técnica do cofrinho. Conforme ela se desenvolve na educação formal, e começa a aprender sobre matemática, é possível ensinar o conceito de juros compostos, que estão presentes nos investimentos. Só assim construiremos uma sociedade sustentável do ponto de vista financeiro, aumentando a capacidade de poupança.
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Qual a recomendação para explorar esse universo com as crianças?
O primeiro passo é estimular a criança a entender claramente a associação entre trabalho, dinheiro e investimento como algo positivo. Muitos pais saem de casa para exercer suas atividades e só comentam sobre dinheiro com os filhos para negar um presente ou simplesmente os presenteiam, dando a sensação de que foi uma missão facílima. A forma mais sutil para fazer isso é colocar os projetos que se quer realizar com o dinheiro em primeiro lugar. Tem que ensinar que o investimento serve para concretizar um objetivo real, como comprar um brinquedo ou jogo que ela quer muito.
Uma vez que investe para conseguir algo que a deixará feliz, deverá escolher um prazo e um valor que quer alcançar. Nesse processo, a criança aprende a importância de esperar o retorno do investimento para alcançar o que deseja. Assim, a criança aprenderá a fazer escolhas, deixando de gastar em pequenos itens agora e poupar para ter algo melhor no prazo desejado.
Como aprofundar o tema ao longo do tempo?
A criança aprende muito com o exemplo. Por isso sempre proponho às famílias que trabalhem essa capacidade entre os adultos em primeiro lugar, para que as crianças se interessem e se desenvolvam naturalmente. Então, antes de tudo os pais precisam entender como é a relação deles com o dinheiro. Se é positiva ou não, como eles lidam com investimento, etc… Quanto mais exemplos práticos houver, nos quais seja claro o resultado prático que o investimento traz para a vida, mais fácil será transformar o investimento em algo natural para as crianças. Esse processo precisa seguir o seguinte tripé: definir objetivos e prazos, poupar e investir com frequência e fazer boas escolhas de investimentos.
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Qual classe de investimentos é a mais adequada para começar?
Na trilha da educação financeira, é importante começar com renda fixa para entender o poder dos juros compostos no prática. Depois, o risco de oscilação do valor dos investimentos ao longo do tempo, até para entender outras classes e produtos de investimentos, como ações de empresas. Outro ponto importante é ensinar o conceito de liquidez para a criança entender que o dinheiro pode estar disponível hoje ou em longo prazo, dependendo da aplicação. Também é necessário saber as diferenças entre empresas o dinheiro para um banco, empresa ou governo.
Renda variável deve entrar na carteira? Qual estratégia deve ser adotada?
A estratégia a ser adotada é a de longo prazo e deve ter como premissa a diversificação dos investimentos, o que permite um leque de opções em ativos de maior oscilação, que não se restringem às ações na bolsa. Vale lembrar que é preciso sempre obedecer ao próprio perfil de risco, determinado pelo questionário da instituição financeira com quem o cliente tem relacionamento.
Mais do que escolher alguns setores da bolsa, é preciso diversificar os investimentos considerando que vivemos um mundo em permanente transformação. Quem não tem tempo de acompanhar os setores específicos e fazer as mudanças necessárias no timing certo, deve considerar a gestão profissional por meio de fundos de investimentos ou fundos de fundos.
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Há também o ETFs que seguem índices da bolsa, que diversificam os setores. Para fazer boas escolhas é preciso verificar os custos com taxa de administração e o histórico de desempenho de quem faz a gestão nos últimos cinco anos.