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- BDRs são papéis que espelham ações de empresas estrangeiras, mas são negociados na B3
- Desde o dia 22 de outubro, pessoas físicas tiveram acesso a esse tipo de investimento. Google, Netflix e Microsoft são exemplos de empresas com BDRs disponíveis no mercado
- Para Alberto Amparo, da Suno Research, existem alguns fatores de atenção: empresas modinhas, fake techs e companhias sem boas práticas ambientais
Desde o dia 22 de outubro, o sonho do pequeno investidor de se tornar sócio de empresas estrangeiras foi realizado. A data marca o início das negociações de BDRs (Brazilian Depositary Receipts ou Recibos Depositários Brasileiros, em português) por pessoas físicas na B3. Antes, os ativos que replicam o desempenho de ações do exterior estavam disponíveis apenas a investidores qualificados, ou seja, com no mínimo R$ 1 milhão em patrimônio aplicado.
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Logo no pregão de ‘estreia’ dos BDRs para pessoas físicas, houve recorde: segundo dados da B3, fora mais de 31,5 mil negociações em um único pregão, ante 11,9 mil negócios da máxima anterior. A empolgação não é surpresa, já que companhias como Apple (AAPL34), Microsoft (MSFT34), Netflix (NFLX34) e Google têm seus recibos disponíveis na B3 e, agora, se tornaram acessíveis aos pequenos investidores.
Entretanto, como em todo investimento, é necessário ter cautela. As BDRs também escondem algumas pegadinhas. “Comprar BDR é comprar uma empresa. E como você pode perder dinheiro comprando uma companhia? Pagando mais caro do que o rendimento que será gerado naquele negócio”, afirma Alberto Amparo, analista de Internacional da Suno.
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O especialista elencou os três tipos de BDRs que o investidor deve ficar alerta.
1 – Fake Techs
Em um momento em que o setor de tecnologia está em alta nas Bolsas do mundo todo, principalmente com as bigtechs impulsionadas pela pandemia, é preciso tomar cuidado com BDRs de ‘fake techs’. Essas companhias têm uma fachada tecnológica, mas possuem os principais negócios alinhados a outros setores.
De acordo com Amparo, o Uber (U1BE34) é uma delas. “Eles até possuem um aplicativo, mas no final é uma empresa de transporte, que é um setor cheio de competição e sem capacidade de precificação. Isso significa que se um app de transporte está pagando menos ao motorista, ele passa para outro app”, explica o especialista. “Há muitas empresas que tentam se passar por empresas de tecnologia.”
2 – Modinhas
Quando o assunto é BDRs, talvez o fator ‘empresa da moda’ pese ainda mais. Muitos investidores tendem a ver as companhias mais populares como os melhores negócios, mas nem sempre isso é verdade. Amparo faz um alerta, por exemplo, em relação à Tesla (TSLA34), do famoso Elon Musk.
“Ela se vende como empresa de tecnologia, de energia alternativa e etc, mas o que ela faz na prática é fabricar carros”, afirma Amparo. “A companhia levantou cerca de US$ 1 bilhão no ano passado e possui valor de mercado próximo de US$ 400 bilhões, ou seja, nesse ritmo, o investidor demoraria 400 anos para ter o retorno. Ela também possui valor de mercado bem superior às maiores montadoras do mundo, com a diferença de que enquanto estas montadoras fabricam milhões e milhões de carros por ano, a Tesla ainda vai chegar no primeiro milhão”, diz.
O analista acredita no desenvolvimento da Tesla, mas reforça que o investidor tem que ficar mais atento para não comprar a BDR baseado apenas em uma narrativa, isto é, uma promessa de que aquilo vai dar certo. “Poucos investidores sabem quanto a Tesla gera por ano, por exemplo. Eu até acho que a empresa vai crescer, mas o preço pago por ela hoje é desproporcional. Além de ser uma empresa que tem que investir ainda bilhões de dólares em pesquisas, mas possui um orçamento muito pequeno para isso.”
3 – Empresas ‘sujas’
Com o avanço da pandemia ao redor do mundo, a preocupação com o ESG (boas práticas sociais, ambientais e de governança) ganhou ainda mais força. A tendência é que essas condutas sejam levadas em conta por grandes e pequenos investidores antes de comprar um ativo.
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Nesse sentido, existem alguns BDRs de companhias muito ligadas ao carvão, altamente poluente. Por esse motivo, são chamadas de ‘empresas sujas’. A ExxonMobil (EXXO34), multinacional de petróleo e gás dos EUA, por exemplo, é uma delas. Os BDRs da companhia caem 31,19% no acumulado do ano, aos R$ 46,11.
“Esses setores têm tendência negativa e as pessoas extrapolam, seja o otimismo ou o pessimismo. De repente, se o preço for muito atrativo ao ponto que renda um bom dinheiro no futuro, talvez valha a pena”, diz Amparo.