Com a Selic no patamar de 13,25% ao ano, poucas são as ações de dividendos que conseguem entregar um dividend yield (retorno em proventos) acima da taxa básica de juros. Apenas oito papéis se destacam, segundo levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.
Os retornos com proventos destas ações chegam até exorbitantes 154,15%. Em um cenário incerto em que os juros podem chegar a 15% ao ano em 2025, encarecendo custos e dívidas das empresas, rentabilidades tão expressivas podem acabar não se repetindo e frustrando os investidores.
O levantamento apresentou o dividend yield das ações nos últimos 12 meses até janeiro. Foram consideradas no estudo ações que integram os índices Ibovespa, IBRX100, Índice de Dividendos (IDIV) e Índice Small Caps e que possuem boa liquidez de negociação.
Também foi calculado o dividend yield projetado para os próximos 12 meses. No entanto, a estimativa leva em conta que as companhias vão ter lucro igual ou maior ao registrado no último ano e manter a mesma política de distribuição de dividendos dos últimos 12 meses. Porém, em um cenário macroeconômico desafiador, muitas empresas não conseguirão de fato sustentar esses lucros e dividendos elevados, sendo inviável acertar algumas das projeções.
8 ações de dividendos que pagam mais que a Selic: veja a lista
No grupo de ações que pagam dividendos acima da Selic, há empresas com fundamentos sólidos para sustentar esses proventos no longo prazo. Mas também há aquelas consideradas armadilhas de valor, cujo dividend yield é insustentável, fruto de algum fator extraordinário ou sinalização de algum problema com os fundamentos.
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A recomendação para ter uma visão mais realista sobre como a empresa pode remunerar seus investidores consiste em observar o histórico de pagamentos do passado – para isso, o levantamento apresenta também a mediana de dividend yield dos últimos cinco anos. Para empresas que pagam dividendos com menos tempo na Bolsa, foi calculada a mediana de dividend yield desde a abertura de capital, evento conhecido como IPO. Neste caso, por exemplo, os retornos com dividendos chegam até no máximo 20,87%. Veja abaixo:
Como ganhar até R$ 10 mil por mês com ações de dividendos
É possível, sim, acumular patrimônio nestas ações, que pagam dividendos acima da Selic, até conseguir gerar uma renda mensal pingando na conta. O analista e sócio da Rocha Opções de Investimentos, Fábio Sobreira, fez uma simulação exclusiva para o E-Investidor de quanto tempo levaria para conquistar uma renda mensal de R$ 1 mil, R$ 3 mil, R$ 5 mil e R$ 10 mil com dividendos destes papéis. Ele utilizou para o cálculo a mediana de dividend yield das empresas nos últimos cinco anos para ter uma visão mais fiel e conservadora sobre renda passiva.
Para cada faixa de renda, ele também calculou quanto tempo levaria para conquistar tais salários mensais, investindo todo mês R$ 500 ou R$ 1 mil religiosamente nestas ações e reinvestindo todos os proventos recebidos.
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Na queridinha dos investidores, a Petrobras (PETR3; PETR4), por exemplo, o investidor precisaria de um patrimônio de R$ 57.499 para conquistar uma renda mensal de R$ 1 mil com dividendos. Com aportes mensais de R$ 500 todo mês nas ações PETR4 e reinvestimento de todos os proventos recebidos, o investidor alcançaria a meta em 5 anos e 6 meses.
Para uma renda maior de R$ 10 mil, o patrimônio acumulado precisaria chegar a R$ 574.988. Com aportes mensais de R$ 500 em Petrobras e reinvestimento dos dividendos, o prazo para atingir o objetivo seria de 15 anos e 7 meses. Veja abaixo simulações:
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Petrobras e Cemig: as melhores ações de dividendos para investir no longo prazo
Petrobras (PETR3; PETR4)
Como citado inicialmente na reportagem, nem todas as empresas da lista têm capacidade de sustentar os dividendos elevados no longo prazo. Pela visão dos analistas, apenas duas teriam esse potencial: Petrobras e Cemig (CMIG4).
As ações preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3) da petroleira ocuparam a 2ª e a 3ª posição entre as ações para viver de dividendos de 2024, após distribuir R$ 7,90 por papel, equivalente a um dividend yield de 21,22% e 20,27%, respectivamente. Para 2025, a expectativa de dividendos cai até os 17%, mas ainda se mantém acima da Selic. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, espera proventos regulares de R$ 4,60 por ação e dividendos extraordinários de R$ 1,40, totalizando R$ 6.
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A Petrobras é a maior petroleira do País, focada principalmente na exploração e produção de petróleo, com capacidade de produzir 2,2 milhões de barris por dia, explica Hugo Cabral, analista da Nord Research. Ele cita que além de ser uma forte geradora de caixa, a companhia estatal estaria sendo negociada com desconto, de 6 vezes o múltiplo preço sobre lucro (P/L) e de 3 vezes o múltiplo EV/Ebitda (valor da empresa sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
“A Petrobras funciona como uma proteção para a inflação, principalmente neste ano, que a alta dos preços está pegando fogo”, comenta Arbetman. Ele também cita como vantagem o fato de a empresa integrar um setor maduro da Bolsa e ser conhecida entre investidores de longa data.
Para os próximos anos, a expectativa é de que a Petrobras possa continuar entregando dividendos atrativos, ainda que menores do que nos anos passados, por conta do preço do petróleo e dos lucros com refino. Renato Reis, analista da Blue3 Research, enxerga que a companhia tem capacidade de sustentar dividendos no longo prazo porque não deve destinar muitos recursos para investir e a dívida da petroleira se encontra em um patamar considerado baixo. Atualmente a alavancagem é de 1,06 dívida líquida/Ebitda.
Riscos da Petrobras
Mas existem riscos para as ações da Petrobras, a curto prazo, além da interferência política do governo. Um deles diz respeito à defasagem no preço da gasolina e do diesel de 8% e 16%, respectivamente, segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). O último reajuste do diesel ocorreu em dezembro de 2023 e da gasolina, em julho de 2024. A CEO da Petrobras, Magda Chambriard, já avisou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o preço do diesel deve subir por conta do aumento da cotação do dólar.
Segundo Cabral, a defasagem entre os preços praticados pela Petrobras e o mercado internacional impactam diretamente nos resultados. Desta forma, com lucros mais baixos, os dividendos tendem a ser menores. “Se a defasagem se mantiver ou continuar aumentando por um período prolongado, a possibilidade de distribuir dividendos extraordinários pode ficar comprometida”, avalia o analista.
Para a Ativa Investimentos, o possível reajuste do diesel é prudente e positivo para as ações da Petrobras. “Ao efetuar o repasse, a companhia sinaliza ao mercado seu compromisso com a atual política de preços”, afirma. A corretora acrescenta que a falta de funcionalidade que permita uma participação saudável de importadores no mercado poderia fazer o conflito extrapolar o tema inflação e causar problemas ainda maiores ao País, como a escassez de produtos, sobretudo em regiões mais afastadas.
Vale lembrar que nos próximos cinco anos, a Petrobras prevê no seu plano estratégico o pagamento de até US$ 55 bilhões em dividendos regulares e proventos extraordinários de até US$ 10 bilhões.
Cemig (CMIG4)
A Cemig também reúne os requisitos para entrar em uma carteira de dividendos de longo prazo. A companhia é uma das maiores empresas de energia do Brasil, que atua em geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, com forte presença em Minas Gerais e foco em fontes renováveis. “A receita da companhia é estável, proveniente principalmente da distribuição e da geração elétrica. Tem uma posição muito consolidada no mercado mineiro”, observa Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
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Segundo Cabral, da Nord, entre as ações de energia para dividendos a Cemig vem mitigando riscos de ingerência política e entregando resultados crescentes nos últimos anos, apesar de ser estatal. “Isso em função de um maior volume de investimentos, melhores revisões tarifárias e redução de custos”, diz. Além de ser forte geradora de caixa, a companhia tem uma dívida baixa, de 0,64 vezes dívida líquida/Ebitda.
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Em 2024, chegou a entregar dividend yield de 15,05% ou R$ 1,33 por ação por conta de pagamentos não recorrentes. Para 2025, se não houver distribuições extraordinárias, o dividend yield deve ficar entre 7% e 10%. “Os dividendos da Cemig vão ficar abaixo da Selic, mas gosto da empresa para longo prazo pensando na perenidade do negócio. O segmento em que ela opera e a localização em Minas Gerais, que tem um dos maiores Produtos Internos Bruto (PIBs) do Brasil”, elenca Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest.
Oportunidades táticas: essas ações podem gerar dividendos no curto prazo
Vulcabras (VULC3)
Na lista de ações de dividendos acima da Selic, há empresas que não necessariamente se encaixam em uma carteira de longo prazo, por se tratar de negócios cíclicos com forte volatilidade nos lucros, mas podem servir para o investidor usufruir e receber proventos no curto e no médio prazos, uma alocação tática. É o caso da Vulcabras (VULC3), dona das marcas Olympikus, Mizuno e Under Armour.
Cabral destaca a solidez operacional e financeira que a varejista de calçados vem apresentando, o que fortaleceu a geração de caixa da empresa. Além disso, a Vulcabras já se comprometeu a seguir remunerando os investidores mensalmente até dezembro. “Vai continuar se destacando como uma boa pagadora de dividendos em 2025”, avalia.
Apesar de ser mais resiliente do que outras varejistas, Cabral não gosta muito do setor para uma carteira de longo prazo. “As marcas bem-conceituadas ajudam nas vendas mesmo em momentos difíceis, mas uma crise generalizada no País pode atrapalhar os resultados, e, consequentemente, os dividendos distribuídos”, defende.
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Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, está mais confiante na empresa e acredita que daria para encaixar sim a Vulcabras em uma carteira de dividendos de longo prazo, por conta da operação rentável e de ser geradora de caixa. “Acho que já está um pouco cara, mas não dá para desconsiderar dividendos de, no mínimo, 7%”, diz. O dividend yield projetado vai de 7% até 10% em 2025.
Duarte destaca que a dívida líquida da companhia se encontra no campo negativo. São R$ 347,9 milhões em dívida bruta e R$ 465 milhões em caixa, totalizando um caixa líquido de R$ 117,2 milhões, até o terceiro trimestre de 2024. Com o dólar em R$ 5,86, os produtos das marcas concorrentes, como Adidas e Nike, podem ficar mais caros, fazendo com que a Olympikus ganhe mercado.
Direcional (DIRR3)
Ainda entre as melhores ações para dividendos, outra companhia que se encaixa como oportunidade de curto prazo, apesar de apresentar bons fundamentos, é a Direcional. Duarte explica que a construtora atua, principalmente, no segmento de baixa renda, com o programa Minha Casa, Minha Vida. No entanto, também tem exposição à média e à alta renda por meio de uma subsidiária, a Riva.
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Em dezembro de 2024, a Direcional anunciou a venda de fatia da Riva para a gestora Riza, o que deve colocar um bom dinheiro no caixa da empresa neste ano e impulsionar o pagamento de dividendos. O retorno em proventos esperado pelo mercado vai de 8% até 25%.
Rafael Passos, sócio da Ajax Capital, aponta que são três os principais fatores que vão impulsionar os dividendos da Direcional em 2025: a forte geração de caixa da empresa, o compromisso da gestão em retornar capital aos acionistas e os recursos provenientes da venda da Riva.
Passos destaca que a prévia operacional do quarto trimestre já mostra números fortes, com crescimento de lançamentos, alcançando quase R$ 2 bilhões. “As vendas e entregas de imóveis devem continuar aquecidas. A Direcional tem conseguido desovar lançamentos ou imóveis em estoque”, comenta. Passos também enxerga oportunidade de a companhia entrar em novos mercados como Bahia e Rio de Janeiro.
Já sobre a remuneração dos acionistas, além de dividendos extraordinários, a Direcional tem plano de recompra de papéis, o que deve potencializar os retornos desta ação de dividendos.