Nem sempre as escolhas são óbvias, portanto, o E-Investidor foi atrás das 10 ações mais presentes nas carteiras dos gestores de dividendos. O levantamento é de Filipe Ferreira, diretor do Valor Pro, com dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) até junho – o mês mais recente disponível. Dos fundos analisados, 37 não revelaram suas principais posições. Veja os destaques logo abaixo.
A ação mais investida pelos fundos de dividendos não chega a surpreender, mas chama atenção por ter superado Petrobras e Vale no ranking. É o Itaú (ITUB4), que acaba de reportar lucro líquido de R$ 11,5 bilhões no 2º trimestre de 2025, alta de 14,3% sobre o mesmo período de 2024. A rentabilidade, medida pelo Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE), foi de 23,3%. E o CEO, Milton Maluhy Filho, já sinalizou que o banco não pretende reter excesso de capital, o que abre espaço para dividendos extras no início de 2026. Ainda que ele não tenha projetado o payout (parcela do lucro destinada a proventos), a maioria dos analistas espera uma distribuição acima de 70%.
“A nossa melhor expectativa é de que, tudo mais constante, no nosso planejamento de capital, faremos uma distribuição importante de dividendo adicional no início do ano que vem”, disse Maluhy. Ele destacou que esse pagamento já não é mais extraordinário, mas adicional, dada a recorrência dos últimos anos.
Para Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos, o Itaú lidera entre os fundos de dividendos por ter uma posição de capital sólida, de 13,1%, e sinalizar maior conservadorismo na concessão de crédito. “A leitura é de que, com isso, o capital excedente será distribuído na forma de dividendos”, afirma. Essa visão fez a Ágora revisar a projeção de dividendos, prevendo um dividend yield de 10,5% com base no ritmo de crescimento dos empréstimos.
Já Fernando Bresciani, analista do Andbank, é mais conservador e projeta um dividend yield de 8%, ainda sem considerar o dividendo adicional de 2026. Segundo ele, enquanto os juros seguirem em dois dígitos, o Itaú continuará se beneficiando do spread (diferença entre o que empresta e o que capta), da tesouraria e da boa política de crédito. “O Itaú está mais exposto a empresas do que a pessoas físicas e cartão de crédito, ao contrário de outros bancos”, diz. Ele estima que o preço justo da ação ITUB4 é de R$ 44, frente aos cerca de R$ 37 atuais. “Os bons resultados são históricos, o que eleva os dividendos ao longo do tempo e leva a uma reprecificação do papel”, avalia.
Outros destaques
Além do Itaú, outras gigantes da bolsa também se destacam. Petrobras e Vale ocupam a 2ª e 3ª posição entre as favoritas dos fundos. Para Lucas Lima, analista-chefe da VG Research, a Petrobras segue como uma das maiores pagadoras de proventos da bolsa, graças à estrutura de custos competitiva e geração de caixa robusta. Ele vê potencial de dividend yield de até 17%, considerando pagamentos extraordinários. “Com o petróleo brent entre US$ 69 e US$ 70 o barril, acreditamos que o cenário é possível, desde que não haja surpresas com o capex (investimentos) acima do esperado”, aponta.
Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, destaca a produção eficiente no pré-sal e margens elevadas como fatores que sustentam a geração de caixa. “Mesmo com incertezas políticas, a companhia tem mantido uma política de distribuição robusta de dividendos, e a forte geração de caixa permite fazer frente à volatilidade do petróleo”, diz. Ele projeta dividend yield de 15% nos próximos 12 meses.
Quanto à Vale, Lima avalia que, embora não viva seu melhor momento em proventos, continua atrativa e pode entregar dividend yield de 9% nos próximos 12 meses. “A empresa também está focada em recompras de ações, o que agrega valor ao acionista, mesmo sem colocar dinheiro direto no bolso”, comenta. No 2º trimestre, a Vale anunciou juros sobre capital próprio (JCP) de US$ 1,45 bilhão, ou R$ 1,895 por ação, com pagamento em setembro. Se o minério de ferro seguir na faixa de US$ 100, os executivos já sinalizaram que há espaço para dividendos extraordinários e novas recompras.
Ainda no radar dos gestores, a Copel (CPLE6) aparece em 13 fundos alocados. João Zanott, analista da EQI Research, destaca que a elétrica combina crescimento com rentabilidade e boa distribuição de proventos. “A empresa possui oportunidades de crescimento orgânico por meio de investimentos em modernização e reforço da rede elétrica em sua concessão no Paraná”, afirma.
Ele também ressalta o baixo endividamento da Copel, que permite conciliar expansão com dividendos atrativos. Neste ano, a companhia anunciou nova política de dividendos com payout mínimo de 75% do lucro e alavancagem atual de 3,1 vezes dívida líquida sobre ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “Hoje, o nível de endividamento está baixo, portanto há espaço para dividendos extraordinários”, diz o analista.
Chanes, da Ágora, lembra que haverá revisão tarifária da distribuidora da Copel, responsável por quase 50% do ebitda, em junho de 2026. “Isso pode elevar o retorno em dividendos para 10% ao ano pelos próximos 3 anos”, afirma.
Os patinhos feios da lista
Nem tudo que está no palco traduz qualidade para quem busca dividendos. Alguns papéis no ranking de fundos geram dúvidas. A Sabesp (SBSP3), presente em 9 fundos, sofre por precisar investir R$ 60 bilhões nos próximos 5 anos, o que manterá o endividamento alto e o dividend yield abaixo de 5%, segundo Lucas Uhlig, do TC. “Isso irá manter o endividamento elevado e consequentemente retornos baixos de proventos”, defende. Uhlig também observa que os juros elevados não favorecem a companhia diante da alta alavancagem.
Bresciani, do Andbank, elogia a empresa, mas a vê ainda longe de ser pagadora consistente. “Os investimentos em água e esgoto só diminuem entre 2026 e 2028, quando pode virar uma boa pagadora. Hoje, não teria em carteira”, diz.
Outro papel que gera divergência é a B3 (B3SA3). Chinchila, da Terra, acredita que a empresa é mais voltada ao crescimento que à renda passiva. “O modelo depende do volume de negociações e taxa de juros, trazendo volatilidade aos lucros”, explica. A B3 tem reinvestido boa parte do resultado em modernização e ampliação de operações e produtos, o que, para o analista, não a torna ideal para dividendos consistentes.