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- A gestora BlackRock está ajustando uma estratégia de investimento apostando que os países ricos vão enfrentar falta de água potável
- Os cientistas preveem que os eventos climáticos extremos por trás desses transtornos vão se tornar mais frequentes e intensos
- O fundo da BlackRock investe em tudo, de serviços públicos de água a empresas que melhoram a eficiência hídrica
Dentro da maior gestora de ativos do mundo, uma estratégia de investimento está sendo ajustada com base na aposta de que os países ricos vão enfrentar cada vez mais a falta de água potável.
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“Historicamente, costumamos pensar que a água é um problema de países em desenvolvimento, mas é a questão é muito mais grave que isso”, disse em uma entrevista Omar Moufti, estrategista de produtos para fundos temáticos e setoriais de ETFs da BlackRock.
Moufti afirmou que é difícil exagerar os riscos de longo prazo relacionados à escassez de água. Ele também disse que “as secas e as inundações mais severas e frequentes em todo o mundo têm destacado” como a ameaça é urgente.
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As estações de tratamento de água da era vitoriana da Grã-Bretanha colapsaram com a pressão das inundações nos últimos meses, obrigando o Reino Unido a lidar com o esgoto contaminando sua água limpa. Na França, mais de cem municípios ficaram sem água potável durante o verão, o que levou o governo a proibir os agricultores de irrigar suas plantações.
Na Europa central, a seca deixou os rios Danúbio e Reno quase inavegáveis, enquanto o rio Pó, na Itália, secou. Nos Estados Unidos, foram impostas restrições regionais à quantidade de água que os municípios podem bombear, pois os níveis de água nos principais reservatórios caíram para mínimas recordes. E em estados como o Mississippi, os habitantes locais perderam completamente o acesso à água potável.
Os cientistas preveem que os eventos climáticos extremos por trás desses transtornos vão se tornar mais frequentes e intensos.
“Precisamos mitigar esses riscos”, disse Moufti.
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O fundo da BlackRock que Moufti ajudou a criar – o iShares Global Water ETF (ticker DH20@LN) – investe em tudo, de serviços públicos de água e fabricantes de bombas a empresas que melhoram a eficiência hídrica. As cinco principais participações no ETF de US$ 2 bilhões incluem a American Water Works, a Xylem, a Essential Utilities, a Ferguson e a Geberit. Moufti disse que o fundo reflete as crescentes preocupações em relação à escassez de água nas economias mais ricas do mundo – e é um risco que talvez não seja totalmente precificado no mercado.
Trata-se de “investir em equipamentos para serviços hídricos, como bombas, ou melhorar a tubulação para reduzir as perdas de água ou aprimorar o tratamento de águas residuais”, disse Moufti.
Este ano, até o momento, o ETF BlackRock caiu 28%, um pouco menos que o índice S&P Global Water Net Total Return. O fundo evoluiu a uma taxa anual de 8,3% nos últimos dez anos.
“O investimento temático é de longo prazo, e a lógica por trás da criação deste fundo é que o vemos como uma oportunidade de crescimento estrutural de longo prazo”, disse Moufti. “Temos um aumento da população e da demanda por água, mas recursos limitados. E os avanços positivos na regulamentação e no financiamento continuarão a apoiar este setor.”
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Nos EUA, a Lei de Infraestrutura Bipartidária destinou mais de US$ 55 bilhões para a modernização da infraestrutura hídrica nos próximos cinco anos. Mas isso é apenas uma pequena fração do nível de investimento que talvez seja necessário, de acordo com analistas do Goldman Sachs. O banco de Wall Street estima que até US$ 900 bilhões em gastos adicionais podem ser necessários para lidar com o envelhecimento das tubulações de água do país. Cerca de 16% do sistema já está ou ultrapassou o limite de sua vida útil média de 75 a 100 anos.
Na Europa, pelo menos 100 bilhões de euros de investimento são necessários anualmente para melhorar o abastecimento e o tratamento de água em todos os países-membros da União Europeia, de acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
É provável que sejam necessários investimentos muito maiores, dada a crescente falta de oferta. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts calculam que 52% da população mundial estimada em 9,7 bilhões de pessoas viverão em regiões com escassez de água até 2050. E o Serviço Florestal dos EUA informou que quase metade das 204 bacias de água doce do país talvez não seja capaz de atender à demanda mensal de água até 2030.
A BlackRock espera que aproximadamente 60% das propriedades de fundos de investimento imobiliário em todo o mundo sofram com níveis “elevados de escassez hídrica” até o final da década. Isso é mais que o dobro da proporção afetada hoje.
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“Não se trata apenas de ter acesso à água, mas ter acesso à quantidade adequada de água no momento certo”, disse Moufti. “E, no geral, o mercado não tende a ser assim tão bom em precificar com precisão esse risco de longo prazo.”
* Tradução de Romina Cácia