- Após um ano da taxa Selic estacionada em 13,75% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou 0,5 ponto percentual nos juros básicos.
- O desafio de orientar os investidores naquele período de incertezas e em meio ao novo ciclo de alta nos juros coincide com o início da trajetória de Felipe Bottino como diretor de investimentos da Inter Invest, posição que ele assumiu no fim de 2020.
- Em entrevista ao E-Investidor, o executivo falou sobre a recente decisão do Copom, os impactos na estratégia de investimentos e a mudança de perspectiva no mercado de capitais brasileiro.
Após um ano da taxa Selic estacionada em 13,75% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou 0,5 ponto percentual nos juros básicos. Esta foi a primeira redução desde agosto de 2020, quando a instituição reduziu a Selic para a mínima histórica de 2% ao ano. Na época, a intenção era conter os efeitos da crise provocada pela pandemia de covid-19 na atividade econômica.
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O desafio de orientar os investidores naquele período de incertezas e em meio ao novo ciclo de alta nos juros coincide com o início da trajetória de Felipe Bottino como diretor de investimentos da Inter Invest, posição que ele assumiu no fim de 2020. Em janeiro de 2021, a casa possuía R$ 44 bilhões de ativos sob custódia e 1,2 milhão de investidores ativos. De lá pra cá, a estrutura ganhou corpo e hoje a casa soma R$ 69 bilhões sob gestão, além de 3,3 milhões de clientes.
Agora, Bottino está de mudança para os Estados Unidos para reforçar a operação internacional do banco. “Tiramos a licença para a corretora porque queremos uma gestão forte no exterior. Temos a base com o investidor brasileiro, mas vemos oportunidade para alcançar investidores de outros países”, afirma.
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Em entrevista ao E-Investidor, o executivo falou sobre a recente decisão do Copom, os impactos na estratégia de investimentos e a mudança de perspectiva no mercado de capitais brasileiro. “Como o mercado lá fora está mais complexo, o investidor americano também virá. Vemos um ciclo muito positivo de um ou dois anos, com o Brasil voltando para o holofote, com crescimento e juros baixos”, destaca.
E-Investidor – O Copom fez o primeiro corte da Selic no começo de agosto. Diante da mudança, o que deve entrar na carteira?
Felipe Bottino – O mercado vem de um cenário de alta de juros e muitas construtoras com dificuldade de financiamento, então há uma safra de CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), por exemplo, que deve ser ser histórica. Esses CRIs são ativos que a gente tem uma confiança muito grande. Para nós, a grande oportunidade está nessa safra dos CRIs emitidos talvez nesse último trimestre. É uma oportunidade para o CRI? Sim, mas não deve ser um investimento total. Trabalhamos com porcentuais na alocação dos ativos e evitamos o efeito manada, que é muito perigoso.
O avanço da reforma tributária e o início dos cortes de juros tornam o Brasil mais atrativo para os investidores?
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Vemos um ciclo positivo de um a dois anos, com o Brasil voltando para o holofote. Se você me perguntasse em março, a resposta seria outra. Nesse momento, porém, é muito importante dizer que, certas ou erradas, foram feitas reformas no passado. Certo ou errado, temos um cenário benigno e sob controle. Como o mercado lá fora está mais complexo, o investidor americano também virá. Com isso, você gera toda essa riqueza que é tão necessária para o desenvolvimento do País. Estamos muito animados.
Qual é a recomendação para quem quer internacionalizar a carteira de investimentos?
O cliente busca segurança ao internacionalizar a carteira. A pessoa tem uma parte do dinheiro no Brasil e vai para fora onde há uma moeda forte, títulos do Tesouro americano, e ETFs buscando ‘alfa’ (capacidade de um investimento render lucros acima do esperado pelo mercado). É uma alocação simples e temos observado um amadurecimento dessa posição no exterior. O primeiro passo é ter uma reserva pagando em dólar, alocar em treasuries, um pouco em ETF e aí você vai avançando.
Esse é um movimento que os próprios clientes fazem?
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Temos uma orientação na nossa “pizza” de investimentos e somos uma das únicas casas que, mesmo nas carteiras mais conservadoras, tem uma pontinha de Bolsa. Isso com a internacionalização é uma parte importante, mas a volatilidade do dólar já é alta. A valorização ou desvalorização da moeda acaba pesando muito e quase anulando o ‘efeito do alfa’. Nesse primeiro momento escolhemos colocar em dólar ou treasuries. O investidor de varejo vai precisar de muito mais do que isso.
O Inter lançou uma solução que permite a negociação direta de criptomoedas. Por que faz sentido entrar nesse segmento?
Quando se pensa em fintech se tem uma ideia geral de não regulado. Nós somos banco, prestamos conta para o Banco Central, somos uma DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários). Estudamos as criptos há 2 anos e a nossa visão é pensar que ela é uma eficiência operacional, no sentido de fazer trade de ativos durante 24 horas.
Ficamos olhando de longe, sofrendo por um lado quando o nosso investidor desejava esse tipo de produto, mas a gente entendia que o risco/retorno era insuficiente. Agora, enxergamos um fenômeno muito grande de regulação, Banco Central e CVM.
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Como a inteligência artificial está mudando a maneira como as pessoas investem? O banco Inter tem utilizando essa ferramenta?
O Inter é uma casa B2C, que tem esse exército de assessores. Os investimentos não toleram muitos erros. Estamos olhando a IA no aspecto de auxílio à tomada de decisão do investidor, que é uma janela muito grande de oportunidades. O mais importante é poupar todo mês do que fazer uma carteira estelar. Poupe sempre, com recorrência, diversificado, é isso que vai fazer a diferença no longo prazo.
COLABOROU: BEATRIZ CONCEIÇÃO
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