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- Esta é a primeira vez que a autoridade monetária faz uma redução de juros desde agosto de 2020, quando o BC baixou a Selic para a mínima histórica de 2% ao ano
- Nesta nova etapa da política monetária, a expectativa é de que o cenário fique mais amigável para os ativos de risco, ao passo que os rendimentos na renda fixa diminuem junto com os cortes na Selic
- “A partir de agora a renda fixa deverá ser aproveitada com um mix de pós-fixados, prefixados e títulos de inflação, com mais peso em prefixados e inflação que anteriormente”, afirma Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos
Sob pressão do governo e empresários, a Selic foi reduzida para 13,25% ao ano em decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, nesta quarta-feira (2). A chegada dos diretores indicados pelo Palácio do Planalto, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, reforçou o consenso de uma taxa mais baixa.
A queda de 0,5 ponto porcentual nos juros básicos da economia crava a primeira redução de juros desde agosto de 2020, quando o BC baixou a Selic para a mínima histórica de 2% ao ano. Na época, a intenção era conter os efeitos da crise provocada pela pandemia de covid-19 na atividade econômica.
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Em março de 2021, a instituição voltou a elevar juros em meio a um efeito colateral grave: a escalada da inflação. O aperto só cessou em agosto do ano passado, quando a taxa chegou aos 13,75% ao ano – patamar considerado “restritivo” e que foi mantido por quase 12 meses.
Neste período, a renda fixa se tornou protagonista na carteira dos investidores, enquanto os ativos de renda variável precisaram lidar com o aumento dos resgates. As empresas também sofreram com a alta nas despesas financeiras provenientes do pagamento de juros de empréstimos e demais dívidas e com o aumento da inadimplência entre os consumidores.
Com um novo ciclo de quedas no radar, a expectativa é de que o cenário fique mais amigável para os ativos de risco, ao passo que os rendimentos na renda fixa diminuem junto com os cortes na Selic. Segundo o último Boletim Focus, publicado em 31 de julho, até o final de 2024 a taxa deve chegar a 9,25% ao ano – o mercado projeta 12% até o fim de 2023.
A nova renda fixa
Os pós-fixados são ativos de renda fixa cuja rentabilidade acompanha um índice, como a Selic e o Certificado de Depósito Interbancário (CDI). O título público pós-fixado Tesouro Selic, por exemplo, rende exatamente a taxa de juros do País. Ou seja, agora a rentabilidade desse papel também passa a ser de 13,25% ao ano.
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Já os prefixados remuneram a uma taxa fixa ao ano. Entretanto, a rentabilidade contratada no momento do aporte só é garantida se o investidor carregar o papel na carteira até o vencimento. Caso realize um resgate antecipado, o título poderá ser vendido com prejuízo pelos efeitos da “marcação a mercado”, atualização do valor do título pelas regras de oferta e demanda.
Imagine um prefixado que oferece retornos de 5% ao ano, com vencimento para janeiro de 2026. Se o investidor resgatar o dinheiro na data acordada, garantirá a rentabilidade. Se o resgate acontecer antes, há o risco de ter prejuízo, já que o mercado espera que a Selic esteja acima de 5% até 2026. Logo, a demanda por esse prefixado será baixa e o mercado exigirá um “desconto” para recomprá-lo. O contrário também acontece, ou seja, se o título oferecer retornos maiores do que os praticados no mercado, o papel poderia ser vendido com lucro.
Para Correa, o melhor momento para comprar prefixados e ganhar com marcação a mercado ocorreu há seis meses, quando os ativos registravam rentabilidades acima de 13% ao ano. Ele reforça que ainda existem oportunidades no mercado para quem carrega o ativo até o vencimento. “Vale diversificar com uma posição entre 10% e 15% da carteira em prefixados com vencimento até 2026”, afirma. Na quarta (2), o Tesouro Prefixado 2026 oferecia um retorno de 10,15% ao ano.
Por último, os títulos indexados à inflação remuneram geralmente a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais uma taxa prefixada. Estes serão os ativos-chave da renda fixa nos próximos meses. “Pelo menos um terço do total alocado em renda fixa deverá estar em inflação”, afirma Correa. O especialista ressalta que apesar das deflações recentes, registradas em junho e julho, o País tende a ter uma inflação mais elevada no longo prazo, o que pode favorecer esses ativos.
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Esta também é a visão de Simone Albertoni, analista de produtos de renda fixa da Ágora Investimentos. “O investidor que focar só no CDI verá os rendimentos caírem”, afirma a especialista. “Os indexadores que mais protegem em cenário de queda de juros são os prefixados e os papéis que remuneram a inflação mais um juro fixo.”
Dentro de uma conjuntura de juros em queda e rendimentos menores nos pós-fixados, os produtos isentos de Imposto de Renda (IR) podem configurar opções interessantes para os investidores com objetivos de longo prazo e que conseguem deixar o capital alocado no ativo até o vencimento.
É o caso das Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI e LCA) e das Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs), além dos papéis ligados ao crédito privado, como Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) e debêntures incentivadas.
“Há um risco maior e por esse motivo eles oferecem um retorno melhor também. Entretanto, o cliente precisa ter um apetite a risco mais elevado”, afirma Albertoni. A importância da isenção de IR na rentabilidade dos produtos de renda fixa em momento de queda da Selic fica clara nas projeções feitas por Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank, e E-Investidor.
Os maiores rendimentos para os próximos 12 meses devem ser registrados em LCIs e LCAs, principalmente por conta da isenção de IR. Esses ativos podem oferecer uma rentabilidade real (descontada a inflação) de 6,53% no período, enquanto ativos taxados, como Tesouro Selic e CDBs 100% do CDI, devem render menos – 4,9% e 4,97%, respectivamente.
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A poupança, por sua vez, figura como o pior investimento e deve ter uma rentabilidade real de apenas 4,06% no período.
Para o cálculo, foi considerada uma taxa Selic de 11,35%, patamar definido nos contratos futuros de DI para 12 meses. A alíquota de IR considerada foi de 17,5%, aplicada para resgates feitos entre 361 e 720 dias.
Bolsa de volta ao jogo
O Ibovespa acumula valorização de 10,14% no ano, atingindo os 120.858,72 pontos no fechamento do pregão desta quarta-feira na esteira das expectativas de cortes de juros e dos dados econômicos positivos relacionados à inflação. A perspectiva daqui para frente é de que a Bolsa de Valores continue em trajetória positiva, com destaque para segmentos até então pressionados pelos juros altos.
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“Com a queda da Selic, a tendência é que os investidores procurem mais risco e direcionem investimentos para a Bolsa”, afirma Boragini, sócio da Davos Investimentos. “Os setores que tendem a se beneficiar são os mais sensíveis a taxas de juros, como o varejo, que estava muito depreciado e deve ficar atrativo agora.”
Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos chama a atenção para uma possível valorização do dólar nos próximos meses – cenário que beneficia exportadoras, como frigoríficos e empresas de papel e celulose. “Quando temos juros menores no Brasil e juros mais elevados nos Estados Unidos, isso impacta o o fluxo de dólares para títulos brasileiros e pode depreciar o real”, afirma, ao se referir à atração que a maior economia do mundo provoca no mercado financeiro global.
Na avaliação dos especialistas, a diversificação do portfólio ditará as regras do jogo para ter ganhos nesta nova fase de juros em queda. Nos ativos conversadores, vale olhar para indexadores e prazos diferentes. Do lado da renda variável, observar de perto os setores que estavam pressionados pela Selic alta.