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Vale a pena investir nas maiores empresas do mundo?

BDRs permitem o investimento em gigantes como Google e Facebook, mas momento é de atenção com o câmbio

Vale a pena investir nas maiores empresas do mundo?
BDRs permitem que o investidor brasileiro acesse empresas listadas no exterior. (Foto: Envato)
  • Os Brazilian Depositary Receipts são certificados de ações de empresas estrangeiras, listadas em bolsas no exterior, mas negociadas na B3. Na prática, são uma opção para o investidor brasileiro que quiser investir diretamente nas companhias de outros países
  • Embora as gigantes do mercado sejam empresas muito consolidadas, com altos lucros e distribuição de dividendos, é preciso ponderar alguns fatores macroeconômicos na hora de investir em BDRs, olhando principalmente para o câmbio
  • Na hora de escolher em quais empresas apostar, o investidor precisa avaliar as companhias para além do nome e do tamanho

Empresas famosas, bilionárias, referências em inovação e presentes no dia a dia do investidor – seja na internet, nos filmes, nos smartphones ou nas compras on-line. As maiores empresas do mundo podem ser, também, opções para a carteira de investimento.

É possível investir na Apple, Microsoft, Google, Amazon ou Facebook, por exemplo, por meio de BDRs. A sigla é utilizada para nomear os Brazilian Depositary Receipts, certificados de ações de empresas estrangeiras, listadas em bolsas no exterior, mas negociadas na Bolsa de Valores brasileira. Na prática, são uma opção para quem prefere investir diretamente nas companhias de outros países. Hoje, a B3 tem 948 BDRs listadas e disponíveis para negociação.

Mas esse é um investimento para todo mundo? Embora as gigantes do mercado sejam empresas muito consolidadas, com altos lucros e distribuição de dividendos, é preciso ponderar alguns fatores macroeconômicos na hora de investir em BDRs, olhando principalmente para o câmbio.

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Vinicius Telló, sócio e head de offshore da gestora 051 Capital, explica que esse tipo de ativo, por representar uma companhia do exterior, está exposto a dois riscos: um da própria empresa, e o cambial. Além disso, destaca Telló, os BDRs “devem sofrer” com a recente desvalorização da moeda americana frente ao real – na última semana, o dólar chegou a bater R$ 4,83, a menor cotação desde março de 2020.

Mas essa exposição cambial também pode ser usada como uma forma de proteger os investimentos, diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos. “Em um ano eleitoral, em que a volatilidade fica muito alta tanto no dólar, quanto na bolsa, é uma maneira legal de utilizar as BDRs como proteção. Por enquanto a cotação está caindo, mas ainda não estamos escutando ruído político por conta da eleição, o que deve aumentar a volatilidade”, diz.

Enquanto a queda do dólar perdurar, os preços dos BDRs devem sofrer um reajuste, o que abre uma oportunidade de investir nas grandes empresas a um preço mais baixo. Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital, acredita que este seja um bom momento para começar a montar essas posições de investimento. Mas, dada a volatilidade do mercado externo – com a guerra entre Ucrânia e Rússia e os Estados Unidos iniciando a trajetória de altas na taxa de juros – para Lobão, os fundos de investimentos focados em BDRs podem ser uma alternativa mais segura.

“Eu não diria que este é um momento propriamente para BDRs, mas é um momento, sim, para o setor de tecnologia e para a gestão ativa de investimentos. Para quem já está posicionado, é um momento de segurar, ter paciência e eventualmente aumentar a posição da carteira, aproveitando um preço médio interessante já que os ativos estão em baixa”, afirma.

Como escolher as empresas?

Embora as BDRs sejam uma boa opção de investimento para diversificar as carteiras, na hora de escolher em quais empresas apostar, o investidor precisa avaliar as companhias para além do nome e do tamanho.

Um levantamento feito pelo Big Data Smartbrain mostra que as três ações de empresas estrangeiras mais investidas por brasileiros são a Meta, novo nome da Facebook; a Alibaba Group, a gigante chinesa de negócios e comércio on-line; e a Amazon. Em fevereiro, mês dos últimos dados analisados pela plataforma, esses três BDRs apresentaram rentabilidade negativa, impulsionados pela queda do dólar frente ao real.

Nome Ticker Rent. mês* Rent. ano
1. Meta FBOK34 -34,92% -43,49%
2. Alibaba Group BABA34 -16,67% -19,22%
3. Amazon AMZO34 -0,57% -16,02%

Fonte: Big Data Smartbrain | *Dados de fevereiro de 2022

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Segundo o Smartbrain, o BDR do Facebook é o mais negociado por brasileiros pelo terceiro mês seguido, apesar de acumular uma desvalorização de 43,49% em 2022. Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, afirma que a companhia tem direcionado os investimentos em tecnologia para o metaverso, e vem reportando resultados negativos. Por causa disso, o analista não vê o BDR como uma boa opção no momento.

Para Wagner Chavez, da SFA Investimentos, as FAANGs – como são conhecidas no mercado o grupo das grandes empresas formado por Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google – têm bons modelos de negócios, são geradoras de caixa e, por isso, têm ampla vantagem competitiva no mercado. Mas, dentro do grupo, algumas empresas se destacam mais por ter maior diversificação nas fontes de receita.

“O Google, por exemplo, ganha dinheiro com search, com YouTube, é uma empresa que tem bastante fontes de receita. A Microsoft tem a nuvem, o Pacote Office, o Windows, o ecossistema do Xbox. A Amazon é referência global em e-commerce. Comparativamente com as outras, o Facebook tem menos diversidade de receita, o que talvez seja um dos motivos que a fez performar mal esse ano”, explica.

Mas as opções para o investidor brasileira vão além das gigantes do setor de tecnologia. Na Guide Investimentos, no mês passado, os papéis da Johnson e da Coca Cola foram adicionados na carteira de BDRs recomendados. “São empresas de valor muito tradicional, que têm defendido bastante a nossa carteira BDR, além de empresas de commodities do exterior, tanto mineração, quanto óleo e gás. BDR não é sinônimo de só tecnologia”, pontua Rodrigo Crespi.

Assim como nas outras opções de investimento, a escolha das empresas ou setores vai depender do perfil e do apetite ao risco do investidor. Nelson Malacrida, assessor de renda variável da SVN Investimentos, explica que as empresas de tecnologia são mais sensíveis às variações nas taxas de juros, então, nesse momento, podem não ser a opção mais indicada para investidores mais conservadores. “Tem aqueles que preferem ficar menos expostos à volatilidade, então vão buscar empresas mais consolidadas, que possam remunerar dividendos mais constantes. Já o investidor de maior apetite ao risco pode buscar as empresas de crescimento, que não tem uma previsibilidade de caixa constante, mas que pode ter uma boa performance ao longo do tempo”, diz.

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Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, destaca que, além das empresas de commodities, que estão se beneficiando do momento de alta dos preços nos mercados globais, as empresas “de reabertura” também merecem atenção. Na visão do especialista, empresas como Disney ou Airbnb tendem a surfar na volta das rotinas pré-pandemia, com os parques reabrindo e as pessoas vacinadas se sentindo mais seguras para viajar.

E aconselha: antes de escolher em qual empresa investir, o investidor pode acompanhar quais são os BDRs mais negociados na B3 para saber a liquidez dos papéis e o melhor momento de entrar no mercado. “A gama de empresas que vale investir lá fora é muito grande. Primeiro o investidor deve olhar para o setor e conferir se aquela BDR está disponível. Depois, é bom olhar a liquidez do ativo para não comprar uma BDR que é difícil de negociar”, diz Mastromonico.

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