O texto veio sem grandes novidades. O Copom destacou que o cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na política monetária. “O Comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirmou.
Como de costume, disse que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.
O Copom, no entanto, revisou sua projeção para a inflação acumulada em 12 meses até o fim do segundo trimestre de 2027, de 3,3% para 3,2%. Esse se tornou o horizonte relevante da política monetária na última reunião do colegiado, em novembro.
Para o mercado, o comunicado veio em tom duro, sem sinalizar flexibilização ou possibilidade de cortes na Selic, o que fez uma parcela dos especialistas considerar mais difícil uma redução dos juros em janeiro. Veja as primeiras impressões sobre a decisão do Copom:
Bruno Fratelli, economista da Journey Capital
O Comitê manteve uma postura cautelosa, sem sinais de flexibilização no curto prazo e preservando a projeção de “período bastante prolongado”. Ainda assim, o comunicado incorporou alguns elementos de tom mais dovish (menos duro). O BC destaca a resiliência do mercado de trabalho, porém sem indicar aceleração, e aponta a continuidade da tendência de desinflação. No geral, o comunicado é consistente com nossa expectativa de corte em abril, com risco para março.
Bruno Perri, economista-chefe e sócio-fundador da Forum Investimentos
Achei o tom do comunicado bem hawkish (duro). Eu estava esperando algo que sinalizasse um corte em janeiro e isso ficou um pouco em espera agora. Talvez a ata na semana que vem traga maior detalhamento e possamos recalibrar as expectativas.
Caio Megale, economista-chefe da XP
O comunicado pós-reunião trouxe poucas mudanças em relação ao de novembro, o que interpretamos como um sinal mais duro por parte do Banco Central. Dessa forma, seguimos projetando que o Copom iniciará um ciclo de cortes em março. Esperamos seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual, levando a Selic a 12% em 2026.
Carlos Lopes, economista do Banco BV
A única mudança que chama atenção é a redução da projeção de inflação do Banco Central para o final do horizonte relevante. Fora isso, todo o restante do comunicado é praticamente idêntico à comunicação da reunião passada. Isso mostra que o BC tem uma baixa convicção sobre o início de corte de juros em janeiro.
Na nossa visão, se a autoridade monetária tivesse uma convicção maior nesse momento sobre um corte de juros já no próximo mês, várias mudanças poderiam ter sido feitas nessa comunicação. Continuamos vendo janeiro como um mês mais improvável, mantendo o cenário-base de corte de juros se iniciando em março.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos
O parágrafo prospectivo do comunicado fez alguns ajustes que soaram como correções de redação e não de mensagem, reafirmando a perspectiva de que a estratégia de manutenção dos juros por um período bastante prolongado é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta. Com isso, seguimos projetando que o início do afrouxamento monetário deverá ocorrer apenas posteriormente ao que está precificado, em abril.
Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez
O Copom manteve o tom extremamente conservador e hawkish. A grande novidade foi o modelo apontando para 3,2% de inflação no segundo trimestre de 2027. Segundo a nossa pesquisa, isso já seria suficiente para o Banco Central começar o ciclo de cortes no ano que vem. O mercado deve se posicionar entre janeiro e março para inicio da redução da Selic.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research
Em relação aos impactos no mercado, não esperamos grandes choques ou volatilidade nos próximos dias, já que a decisão era amplamente esperada. No entanto, seguimos cada vez mais próximos de um novo ciclo e o mercado tende a se antecipar. A perspectiva de corte de juros já tem favorecido os ativos de risco: fundos imobiliários vêm batendo recordes e as ações têm mostrado desempenho positivo. Assim, a queda dos juros pode ser um gatilho relevante para a Bolsa brasileira em 2026.
José Márcio Camargo, Economista-chefe da Genial Investimentos
O tom geral do comunicado é firme e indica, com clareza, que é muito pouco provável que o processo de redução da taxa de juros tenha início em janeiro. Como não houve qualquer indicação nesse sentido, o cenário mais provável é de que o ciclo possa começar em março – desde que, em janeiro, o Comitê dê sinais de que essa será a data adequada.
Por fim, vale notar que o comunicado não mencionou o ambiente político, apesar da instabilidade observada desde a última sexta-feira (5). A ausência desse tema é positiva e deve ser interpretada como um bom sinal.
Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos
A decisão reforça a postura de prudência da autoridade monetária em um contexto em que a inflação ainda não convergiu para a meta, as expectativas permanecem desancoradas e o ambiente doméstico e global segue marcado por incertezas relevantes. O comunicado manteve um tom conservador, com uma postura mais cautelosa do que parte do mercado esperava.
Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital
A grande dúvida era em relação à comunicação e ela veio muito em linha com o último comunicado. O Copom manteve a sinalização de que essa política contracionista de juros deve se manter por um período “bastante prolongado”. Isso faz com que aquela chance de cortar os juros na próxima reunião de janeiro fique descartada, na minha opinião. Esse tom duro joga para março a possibilidade de corte.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos
Houve ajustes marginais na sinalização, com a introdução da noção de “integral” ao falar em “estratégia em curso” e a troca de “suficiente” por “adequada”, o que sugere maior confiança na estratégia. A ameaça de alta dos juros foi suavizada ao aparecer como “como usual”, mas não foi retirada.
No conjunto, o BC fez movimentos sutis. Para o mercado, vale notar que a projeção de inflação de 3,2% do modelo perde apelo e já parece defasada, diante do câmbio mais elevado. Seguimos projetando cortes a partir de março e o comunicado é compatível com essa visão.
Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord)
O comunicado trouxe pequenas alterações em relação à reunião anterior. A projeção de inflação para o segundo trimestre de 2027 foi revisada de 3,3% para 3,2%, indicando um cenário levemente mais favorável e a descrição do mercado de trabalho passou de “dinamismo” para “resiliência”, reforçando que a atividade econômica segue firme.
Apesar dessas mudanças, o tom do comunicado permanece claro: o Copom não abriu espaço para cortes imediatos e mantém postura de cautela diante da incerteza externa e das expectativas de inflação ainda acima da meta.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter
O comunicado manteve o tom duro praticamente sem mudanças, reforçando ainda a necessidade de manter a taxa de juros elevada por período prolongado. Apesar do cenário mais benigno para a inflação corrente e a projeção do BC ter mostrado nova queda no horizonte relevante da política monetária, o Comitê ainda não abriu espaço para discussão do início da flexibilização, o que vai deixar o mercado dividido para a próxima reunião. Mantemos nossa expectativa de início da flexibilização a partir de janeiro de 2026, mas condicionada a nova evolução positiva do cenário.
Rafael Cardoso, economista-chefe do Daycoval
Na nossa leitura, não houve sinalização de que a porta está aberta para cortar a taxa Selic em janeiro, o que em linhas gerais reforça a expectativa de que a taxa só será reduzida em março. Por outro lado, a comunicação do Banco Central, assim como nós esperávamos, traz um sentido de que o ciclo está andando e de que a autoridade monetária deu um passo adiante.
Rodrigo Marques, sócio e economista-chefe da Nest Asset Management
O comunicado do Copom veio exatamente em linha com o que o mercado esperava e esfriou as apostas de corte já em janeiro. Com a trajetória de inflação mencionada no Focus e citada no texto, o mercado deve caminhar para um consenso de que o início do ciclo de redução da Selic só aconteça em março. No fim das contas, não houve grandes novidades: o Banco Central já vinha adotando um tom mais conservador nas últimas semanas, com Gabriel Galípolo reforçando esse discurso. A mensagem foi muito mais de conter o otimismo do mercado do que de sinalizar mudanças.