- A situação da operadora da rede Starbucks ascende um alerta para o risco de inadimplência de CRIs
- Pelo menos os fundos imobiliários RZAK11 e IRDM11 possuem posição em títulos de dívida da Starbucks
O pedido de recuperação judicial da SouthRock Capital, controladora da Starbucks no Brasil, feito no dia 31 de outubro, aumentou a preocupação dos investidores sobre os efeitos desse processo para os fundos imobiliários (FIIs) expostos à companhia. As cotas do Riza Akin Fundo de Investimento Imobiliário (RZAK11), por exemplo, apresentam desvalorização de 4% no acumulado de novembro diante das incertezas sobre a situação financeira da operadora da rede Starbucks.
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De acordo com a gestão do fundo, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) da Starbucks correspondem a 6,51% do portfólio. O preço da cota do RZAK11 caiu 5% no pregão da última quarta-feira (1º), um dia após a controladora da marca entrar com o pedido de recuperação judicial.
Com dívidas que chegam a R$ 1,8 bilhão, a SouthRock Capital – que além da rede de cafeterias possui marcas como Eataly e TGI Fridays no portfólio – aguarda a avaliação da Justiça sobre o pedido. Enquanto a empresa espera a decisão, várias unidades da Starbucks foram fechadas em meio à crise econômica.
Diante da preocupação do mercado, a gestora responsável pelo Riza Akin comunicou na última sexta-feira (3) que os CRIs da Starbucks III, IV e V (4ª Emissão, Séries 460, 461 e 462 da Virgo Companhia de Securitização S.A.) não estão “sujeitos ao processo de recuperação judicial”. O comunicado diz ainda que as parcelas dos títulos de dívida, avaliados em R$ 50,1 milhões, permanecem adimplentes.
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O posicionamento acalmou os ânimos dos investidores, mas não foi suficiente para inverter as perdas da cota do fundo em novembro. Até as negociações desta terça-feira (7), o fundo apresenta a segunda maior desvalorização do IFIX, principal índice de fundos imobiliários, no acumulado mensal, com perdas de 4,56%. O FII só ficou atrás das cotas do URPR11, que reportam desvalorização de 8,65% no mesmo período.
O IRDM11 é o outro fundo imobiliário que também possui exposição aos CRIs da Starbucks. No entanto, a participação dos títulos de dívida no portfólio do FII se resume apenas a 0,87%. Até o momento, os CRIs seguem adimplentes e o risco de inadimplentes não se concretizou.
Por essa razão, a distribuição de dividendos aos cotistas ainda não foi afetada e, segundo Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos e colunista do E-Investidor, os fundos parecem estar “blindados” da crise da SouthRock Capital. De acordo com ele, em um cenário de inadimplência dos CRIIs, o fundo Riza Akin teria um impacto de R$ 0,10 na distribuição de proventos aos cotistas.
“O fundo possui o fluxo de recebíveis advindos de cartões de crédito entre R$ 2 milhões a R$ 3 milhões por mês. Ainda vale lembrar da garantia real por trás do CRI (no valor de R$ 70 milhões)”, informou Miziara.
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Já em relação ao IRDM11, o efeito de uma possível inadimplência dos CRIs deve ser ainda menor. “As alocações do IRDM11 são mais pulverizadas e a concentração nos CRIs atrelados à Starbucks representa menos de 1% do patrimônio total. É muito pequeno”, diz Angelo Belitardo, gestor de investimentos da Hike Capital.
Vale destacar que a gestora do Riza anunciou em outubro o pagamento de R$ 1,3 por cota em provento para os 50,6 mil investidores posicionados no FII, enquanto o IRDM11 pagou R$ 0,80 por cota durante o mesmo período aos seus 293 mil cotistas.
No entanto, a situação de crise financeira de empresas reforça os cuidados que o investidor precisa ter antes de se posicionar em fundos imobiliários. Segundo Mário Campos, analista de Research da Órama, além de buscar diversificação, os investidores não devem basear a sua decisão de investimento apenas no dividend yield (rendimento dos dividendos) dos últimos 12 meses.
“O investidor acaba não observando o risco da carteira do fundo em questão. Geralmente, dividendos maiores são provenientes de riscos maiores também”, afirma Campos. Além disso, em cenários de maior incerteza, o ideal é que busque estar mais posicionado em fundos de CRI ou de tijolo com perfil AAA (menor risco) e com ativos com boa localização.
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Segundo Caio Nabuco de Araújo, analista da Empiricus Research, os fundos posicionados nos CRIs da Starbucks não possuem esse perfil mais defensivo. “Trata-se de CRIs com um risco de crédito acima da média da indústria. Por isso, a nossa recomendação é não estar posicionado nesses fundos devido a a sua relação de risco e retorno”, afirma.
Por outro lado, se for expor o seu portfólio a riscos elevados, o importante é que o investidor tenha a capacidade de avaliar se a remuneração prevista com aquele investimento está compatível ao risco. “Os fundos de high yield (alto rendimento) precisam ser bem geridos e o investidor precisa avaliar se o investimento compensa o risco”, diz Bruno Viveiros, CFA e analista de fundos imobiliários da Warren Investimentos.
Enquanto o desfecho da crise não chega, o que resta aos cotistas posicionados nesses FIIs é acompanhar os desdobramentos da situação financeira da SouthRock Capital e cobrar uma posição das gestoras em casos de inadimplência. “O patrimônio do fundo de investimento é do cotista. O dever do investidor é acompanhar e o direito dele é cobrar o gestor”, ressaltou Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital.
Essa não é a primeira vez que crises financeiras de empresas afetam a rentabilidade das cotas dos FIIs. Em setembro, os fundos HCTR11, DEVA11, TORD11 e VSLH11 encerraram o mês com as maiores quedas do IFIX. A desvalorização foi motivada pela inadimplência dos CRIs do Grupo Gramado Parks. Veja os detalhes nesta reportagem.
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