Até onde vai a manipulação de Musk? Especialistas em criptos comentam

As corretoras especializadas em criptomoedas bateram recorde e registraram mais de US$ 2,31 trilhões em volume negociado no mês. As informações são do The Block, plataforma de research especializada em criptoativos.

Apesar do volume inédito negociado nas exchanges, o valor do Bitcoin deixou a desejar. A cripto encerrou o mês de maio com queda de 35,5% no período. Vale lembrar que, em 1° de maio, o Bitcoin era cotado a cerca de US$ 57,8 mil e encerrou o mês cotado a US$ 37,2 mil, menor valor desde o dia 5 de fevereiro, quando valia US$ 38.144,31.

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Contudo, no acumulado de 2021, a criptomoeda ainda está no campo positivo, com alta de 25,79%. Nesta terça-feira (1º), o BTC registrou queda de 1,66%, cotado a US$ 36.189,16.

Efeito Musk

Cerca de dois meses depois de dizer que a montadora Tesla passaria a aceitar o Bitcoin como meio de pagamento, o executivo voltou atrás e decidiu suspender as negociações de veículos elétricos com a criptomoeda.

O motivo para a suspensão seriam os problemas ambientais que a mineração do Bitcoin implica. Para manter a rede do BTC funcionando com segurança e confiabilidade, são necessárias diversas máquinas ligadas 24 horas por dia. Apesar disso, o CEO disse que acredita que as criptos são uma boa ideia e que a Tesla não venderá nenhum Bitcoin.

As palavras do CEO – que conta com uma legião de 55 milhões de seguidores no Twitter – mostraram sua influência sobre o mercado como um todo. Só para se ter uma ideia do impacto, no dia 12 de maio, às 19h, o valor total do mercado cripto era de aproximadamente US$ 2,4 trilhões. Duas horas depois que Musk fez o anúncio sobre a interrupção das vendas com o bitcoin, esse valor caiu para cerca de US$ 2 trilhões, o que representa uma queda de 16,6%.

O Bitcoin também sofreu com a declaração do empreendedor naquele dia: negociado a US$ 54 mil no dia 12, a moeda caiu para US$ 47 mil em questão de duas horas.

Para André Franco, analista de criptomoedas da Empiricus, o mercado dá muito poder para esse tipo de tweet de Musk. “Uma coisa era quando tínhamos o Trump falando, mas aí é o presidente norte-americano, que tem um certo poder. Neste caso, estamos falando de um rockstar do mundo do empreendedorismo”, diz.

É manipulação?

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio da instrução nº 8, define a manipulação de mercado como: “A utilização de qualquer processo ou artifício destinado, direta ou indiretamente, a elevar, manter ou baixar a cotação de um valor mobiliário, induzindo, terceiros à sua compra e venda”. Além disso, considera a pratica falta grave passível de penalidades.

Entretanto, isso se aplica apenas aos mercados regulados, além do fato de que Musk não responde às autoridades brasileiras. “Por um lado, a ausência de regulação do mercado de criptoativos permite que o mercado floresça com uma velocidade exponencial”, diz Alexandre Ludolf, CIO da QR Asset Management. “Além disso, também permite que atividades não tão louváveis — facilmente reprimidas e punidas em qualquer classe de ativo regulada – ocorram livremente.”

Para o Ludolf, esta prática tem o nome “efeito Robin Hood”, no qual impera a ideia da mobilização de hordas de investidores pessoas físicas que, juntos, podem derrubar o “patriarcado” financeiro tradicional. “Isso aconteceu com as ações da Gamestop, por exemplo, mas ocorre em magnitude maior no mundo cripto”, diz.

Segundo João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex, a notícia de que a Tesla não aceitaria mais a compra de veículos com Bitcoin não seria um fato tão relevante, dado que estamos falando de uma parcela muito pequena em termos de uso da moeda. Porém, pela influência que o CEO tem, houve um grande impacto no mercado.

Bernardo Quintão, diplomata do Mercado Bitcoin, classifica a fala do executivo como irresponsável por levar investidores inexperientes a comprarem essas ideias como se fossem um superinvestimento. Ele não avalia o comportamento de Musk como uma forma manipulação de mercado, pois existe uma diferença entre influência e manipulação.

“Para ser manipulação ele teria que estar diretamente no mercado comprando e vendendo e, de fato, teria que ser provado que se beneficiou dos resultados de suas falas”, diz Quintão.

Como o investidor pode se proteger

Os investidores que decidem entrar no mercado de criptoativos precisam entender que a volatilidade dessa classe de investimentos é superior a muitas do mercado tradicional. Mas o que fazer quando a volatilidade está relacionada aos ruídos de mercado?

Segundo Franco, a primeira coisa que deve ser feita é não reagir. O analista dá um exemplo: se você está investindo em um determinado criptoativo e Musk twitta algo enviesado para o lado que você não acredita, não compre a ideia do executivo.

Já para Quintão, há quatro pontos essenciais para se proteger: gestão de risco, diversificação de portfólio, muito estudo e se adequar ao perfil de risco das criptomoedas. “Essas quedas acontecem recorrentemente no mercado. Ano passado tivemos um movimento muito parecido, em 2017 e 2013 também. A volatilidade acontece tanto para cima quanto para baixo, mas só assusta quando é para baixo”, diz Quintão.

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