Fundos de ações de dividendos são indicados para quem busca renda passiva com regularidade. (Imagem: ImageFlow)
O rali da Bolsa de Valores, com o Ibovespa acumulando alta de 13% no ano, impulsionou osfundos de ações focados em dividendos a uma rentabilidade acima da média em 2025. Alguns deles bateram em cinco vezes o CDI do período. Segundo levantamento da Economatica a pedido da reportagem, os 15 melhores fundos da categoria renderam entre 20% e 30% no ano, beneficiados pela recuperação dos ativos e pelo desempenho dos setores mais sólidos da economia brasileira, a exemplo de bancos, commodities e utilities (serviços essenciais).
A queda dos juros futuros e a retomada do apetite por risco beneficiaram também os fundos que deram prioridade a geração de caixa e previsibilidade de proventos. Diferentemente dos EUA, onde há uma maior presença de empresas de tecnologia e alto crescimento, no Brasil, as apostas costumam beneficiar empresas maduras, que distribuem lucros.
A lista dos campeões de 2025 até agora mostram fundos com diferentes estratégias, tamanhos e gestoras, mas que compartilham o foco em ações com forte histórico de distribuição de dividendos e bom nível de liquidez.
Entre os fundos com melhor desempenho em maio está o Dividendos Grandes e Seguros, da Avantgarde Asset, que adota uma abordagem quantitativa e sistemática. “A vantagem é que a seleção não depende da análise subjetiva de um gestor. O modelo prioriza empresas com pagamentos consistentes ao longo do tempo”, afirma Felipe Pontes, diretor de gestão da casa.
O resultado positivo dos fundos de ações de dividendos também foi favorecido pelo ambiente macroeconômico, diz o gestor. Para ele, o arrefecimento dos juros futuros deu força às empresas de perfil mais defensivo, com potencial de valorização. O fundo mescla o que Pontes chama de “vacas leiteiras de hoje” – empresas maduras e previsíveis – com as “vacas leiteiras do futuro”, que na visão da gestora são aquelas que ainda estão crescendo, mas têm potencial de se tornar boas pagadoras de dividendos.
Segundo Pontes, focar em fundos de ações de dividendos é uma estratégia indicada para quem busca renda passiva com regularidade, sem depender exclusivamente da renda fixa.
A ARX Investimentos aparece no ranking com quatro fundos, entre eles o ARX Ágora FI Financeiro, distribuído pela Ágora Investimentos. Esse fundo também não se limita a investir em boas pagadoras de dividendos, mas combina essa abordagem com uma estratégia de valor, o que amplia o potencial de rentabilidade. A diferença está na gestão ativa tradicional, com decisões tomadas por analistas e gestores a partir de análises fundamentalistas.
A boa performance vem da aposta em empresas negociadas com desconto em relação ao seu valor intrínseco, ou seja, ações subavaliadas com margem de segurança, explica Gabriel Tossato, especialista em investimentos da Ágora. “Essa abordagem acaba excedendo o escopo de só investir em empresas que são boas distribuidoras de dividendos”, diz.
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Tossato também acredita que as empresas defensivas se beneficiaram do maior fluxo de capital estrangeiro na Bolsa, que procura as empresas mais líquidas, a exemplo das companhias de energia e grandes bancos. “Esse motor levou à alta no mercado como um todo e contribuiu para o resultado de diferentes setores”, comenta.
O que você precisa saber antes de investir em fundos de dividendos?
Apesar da rentabilidade chamativa, o investidor precisa entender o contexto e os riscos. Anderson Miranda, head da W1 Capital, alerta que o bom desempenho da classe observado em 2025 parte de uma base de comparação depreciada. “No fim de 2024, esses ativos estavam muito descontados. Em dezembro, muita gente estava com prejuízo acumulado”.
Para quem quer aplicar agora, ele recomenda olhar além do curto prazo. “Avalie o histórico de cinco anos. Veja se o fundo bateu o Ibovespa nesse período e analise o currículo dos gestores. A taxa de administração só vale a pena se os resultados forem entregues”.
Apesar de serem associadas à resiliência e à estabilidade, é importante ter em mente que esse fundos investem em renda variável. “Investir em ações é sempre assumir risco. A volatilidade tende a ser menor nas empresas pagadoras de dividendos, porque são negócios mais maduros e consolidados, mas ainda assim são ações”, afirma Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren.
Fundos ou carteira própria: o que vale mais a pena para receber dividendos?
Segundo o executivo, o investidor pessoa física que deseja viver de dividendos tem mais eficiência tributária ao montar uma carteira administrada do que aplicar em um fundo de ações com essa mesma estratégia. Isso porque, mesmo que o fundo também receba dividendos isentos, o cotista não vê esse dinheiro na conta, pois os proventos são incorporados ao valor da cota que, no final, se convertem em lucro tributável no momento do resgate.
Já na carteira administrada, as ações ficam registradas no CPF do investidor, o que permite que os dividendos sejam pagos diretamente e sem cobrança de Imposto de Renda.
Tossato, da Ágora, faz um contraponto. Na visão dele, a vantagem tributária pode ou não ser relevante, pois depende da meta do investidor. “Se o objetivo for utilizar os proventos como complemento de renda, o investidor terá uma vantagem tributária com a carteira própria”, diz. No entanto, se a estratégia for reinvestir os dividendos e manter a visão de longo prazo, não haveria diferença entre investir através de fundos ou por carteira, pois o imposto viria de qualquer forma na venda dos ativos com lucro.
ETFs de dividendos valem a pena?
O mesmo vale para os fundos de índice, como o DIVO11. Não há vantagem tributária em relação aos fundos de ações tradicionais. Os chamados Exchange Traded Funds (ETFs) também não repassam proventos diretamente ao investidor.
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Os dividendos recebidos pelas empresas da carteira são reinvestidos no próprio fundo e refletidos na valorização da cota. Assim, o investidor também só realiza o ganho ao vender o ETF, momento em que incide Imposto de Renda sobre o lucro. Apesar disso, os ETFs são boas alternativas para quem busca praticidade, veja nesta matéria o por quê.