- Além da tese do envelhecimento da população, que alimenta os investimentos em serviços de saúde, há uma relação íntima entre a insegurança causada pela pandemia e o crescimento das empresas de saúde na B3
- Um editorial da The Lancet, uma das maiores revistas científicas do mundo, estima que no ritmo atual a imunização só acabe no fim de 2023
- Fatores domésticos de ordem econômica e política podem atrapalhar a retomada da economia. Do ponto de vista econômico, a desvalorização do real e a inflação geram incerteza para investidores
(Carlos Pegurski, Especial para o E-Investidor) – A pandemia de covid-19 já vitimou quase meio milhão de pessoas apenas no Brasil. Ao investir esforços para a contenção e o tratamento da doença, as empresas do setor de Saúde tiveram valorização na B3 no período. O fenômeno chama a atenção sobretudo porque esses ativos têm contrariado a tendência geral da Bolsa brasileira: a cada três títulos, dois sofreram depreciação. Enquanto isso, algumas gigantes da Saúde tiveram valorização de 25% em seis meses. E o movimento promete ter fôlego.
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Ficou interessado? Então confira mais da evolução das empresas do setor, que no curto prazo vão reorganizar as cotas do Ibovespa, índice que se baseia nas ações das empresas mais expressivas da B3.
Empresas de Saúde crescem com comportamento arrojado
Se por um lado o Sistema Único de Saúde (SUS) se mostrou fundamental durante a pandemia causada pelo Sars-Cov-2, por outro vem revelando sinais de esgotamento. E isso é sinônimo de demanda no mercado. Segundo dados de fevereiro de 2020 (um mês antes de a pandemia estourar no Brasil) levantados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), cerca de 50 milhões de brasileiros contavam com algum serviço do gênero, que já movimentava cerca de R$ 3 bilhões ao ano antes da covid-19.
O crescimento das empresas de Saúde aponta para um déficit na Bolsa brasileira. É verdade que a Europa abriga algumas das maiores farmacêuticas do mundo, como as alemãs Novartis e Bayer, a suíça Roche Holding, a francesa Sanofi e as inglesas GlaxoSmithKline e AstraZeneca, mas é verdade também que enquanto nesses países as corporações de saúde ocupam quase 20% do market share no Brasil isso fica próximo dos 6%.
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Em comparação a outros setores, as empresas de Saúde (farmacêuticas, de saúde complementar, grupos hospitalares e diversas atividades do ramo) estão entre os grupos mais sub-representados no mercado de ações. Ou estavam. Pois é isso que algumas gigantes da área estão tentando mudar por meio de um comportamento arrojado.
A oferta pública inicial (IPO) da Rede D’Or, uma das maiores redes integradas de cuidados em saúde do Brasil, é um dos destaques mais ilustrativos. Considerado um sucesso absoluto, o movimento fez que, em apenas seis meses, a rede tenha valorizado 25%, chegando a R$ 137 bilhões em valor de mercado. Trata-se da nona maior companhia da B3, que deve se incorporar ao Ibovespa no fim deste ano. Estima-se que ela responda, de saída, por mais de 3% do índice.
Logo atrás, na 11ª posição, está a Hapvida, que passou recentemente por um processo de fusão com a NotreDame Intermédica. Ambas vinham de um movimento de aquisições de empresas menores e, após a união, têm valor de mercado que supera R$ 110 bilhões. Para se ter ideia da dimensão do fenômeno, elas estão à frente do Banco do Brasil e do Itaúsa, holding que engloba Alpargatas, Duratex, Copagaz e diversas empresas. Juntas, a Rede D’Or e a Hapvida somam R$ 250 bilhões, ou 90% do valor de mercado da Petrobras, segunda maior empresa da B3.
Há outras companhias que também se destacam, como a Hypera Pharma, que é responsável por uma série de produtos que fazem parte da vida de muitos brasileiros: Biotônico Fontoura, Engov, Epocler, Estomazil, Apracur, Benegrip, Coristina D, Gelol, Adocyl e Zero Cal são exemplos disso.
Outra é a Hermes Pardini, especializada em diagnóstico laboratorial e por imagem, da qual o Banco Safra recomendou recentemente a aquisição de ativos, mas que tem movimento de valorização mais lento, além de mais instável, por causa de disputas entre os maiores acionistas, que são familiares.
Fator pandemia impacta Ibovespa
Além da tese do envelhecimento da população, que alimenta os investimentos em serviços de saúde, há uma relação íntima entre a insegurança causada pela pandemia e o crescimento das empresas de saúde na B3. Mas essa evolução não é exclusiva, já que outros setores também se fortaleceram e merecem destaque.
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Os títulos ligados a commodities tiveram crescimento importante. Empresas cujas atividades envolvem metais, petróleo, gás, papel, celulose ou proteínas tiveram evolução média de 33%, segurando a Bolsa brasileira em um patamar elevado — pouco mais de 5,8% de crescimento desde a chegada da pandemia ao País. Isso demonstra que o agronegócio continua cumprindo um papel importante, e a previsão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é que a produção do setor chegue à casa de R$ 1 trilhão.
Por outro lado, há setores que acumulam perdas. Os ativos que mais sofreram queda estão ligados a educação, aviação e shoppings: a Cogna ON caiu 62%; a Embraer ON, 48%; e a BR Malls, 47%. Em grande medida, isso ocorreu porque as atividades dependem de circulação de pessoas, que ainda está restrita por causa do baixo índice de vacinação. Um editorial da The Lancet, uma das maiores revistas científicas do mundo, estima que no ritmo atual a imunização só acabe no fim de 2023.
Além disso, fatores domésticos de ordem econômica e política podem atrapalhar a retomada da economia. Do ponto de vista econômico, a desvalorização do real e a inflação (o IPCA acumulado dos últimos 12 meses é de 6,1%) geram incerteza para investidores, sobretudo sem um plano de vacinação mais ousado que poderia acelerar a retomada produtiva. Do ponto de vista político, o governo federal enfrenta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que gera ainda mais instabilidade em relação ao futuro do Poder Executivo.
Para alimentar o cenário de dúvida, o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Eduardo Bim, e o Ministro do Mapa, Ricardo Salles, estão sofrendo investigações que podem atrapalhar a agenda do agronegócio brasileiro, que tem sido a salvaguarda da economia nacional.
Diante desse quadro, vale a pena diversificar a carteira de forma a incluir as gigantes de saúde nos investimentos. Ainda que as empresas não mantenham um ritmo de crescimento tão intenso quanto o que ocorre no período atual, tudo indica que elas vieram para ficar.
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Fonte: ANS.