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Janus Henderson: “Posição em crédito privado é a menor da nossa história”

Phil Gronniger, gerente de carteira da gestora, esteve no Brasil e falou com exclusividade ao E-Investidor

Janus Henderson: “Posição em crédito privado é a menor da nossa história”
Phil Gronniger, da Janus Henderson, esteve no Brasil para evento do BTG Pactual. (Foto: Divulgação/Janus Henderson)
  • 60% em ações, 40% em renda fixa. Potencial no papéis do setor de saúde, preferência por títulos públicos e securitização, ao invés de crédito corporativo
  • É assim que a Janus Henderson, gestora global com US$ 287 bilhões sob custódia, está preparando o portfólio de investimentos
  • Em entrevista ao E-Investidor, o gerente Phil Gronniger explicou as estratégias de alocação da gestora com US$ 287 bi sob custódia

Disposição em 60% em ações, 40% em renda fixa. Potencial nos papéis do setor de saúde e preferência por títulos públicos e securitização ao invés de crédito corporativo. É assim que a Janus Henderson, gestora global com US$ 287 bilhões sob custódia, está preparando o portfólio de investimentos para o cenário que se desenrola no segundo semestre de 2023.

Phil Gronniger, gerente de carteira de clientes da Janus Henderson, esteve no Brasil na terceira semana de junho para um evento do BTG Pactual, e recebeu o E-Investidor com exclusividade para debater perspectivas e estratégias de alocação no atual contexto do mercado global, com juros ainda em alta nos Estados Unidos.

Segundo ele, o tom adotado pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) na última reunião de política monetária foi mais duro do que o esperado. A instituição interrompeu o ciclo de ajustes na taxa de juros depois de dez elevações consecutivas, mas, ao contrário do que previam as expectativas mais otimistas, prometeu que ainda há mais por vir.

O entendimento da Janus Henderson é que o Fed deve realizar ainda mais uma alta de 25 pontos-base, elevando os juros americanos para o intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano. Mais do que isso seria um “erro de política monetária” e poderia trazer uma nova onda de volatilidade para o mercado americano, que vem performando bem em 2023 à medida que precifica o fim do aperto e até um eventual primeiro corte na taxa – que, na visão da gestora, só deve acontecer em 2024.

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Um levantamento feito pela Economatica mostra que, até o fechamento da quarta-feira (28), o Nasdaq acumulava uma alta semestral de 29,86%, enquanto o S&P 500 subia 14,0%. Para capturar a melhora desse humor do mercado, a Janus vem desde o final de 2022 aumentando a sua parcela de ações na carteira, explicou Gronniger. Ainda assim, os juros mais elevados em décadas também abriram espaços para bons investimentos em renda fixa.

“Começamos a adicionar mais ações desde o final do ano passado, porque os preços estavam muito atraentes”, disse o executivo. “Mas não vimos taxas tão altas nos EUA desde antes da crise financeira global em 2008. Isso traz de volta o benefício da diversificação da renda fixa, que está muito atraente em relação ao que esteve na última década.”

Apesar da alta dos juros, a parcela de crédito privado na carteira de renda fixa da gestora está em um de seus menores níveis da história. “O grau de retorno dos spreads (diferença entre o preço de compra e o preço de venda) corporativos não está muito acima da curva e se vamos passar por uma desaceleração econômica, achamos que deveríamos ser melhor compensados para o nível de risco do crédito corporativo”.

E-Investidor – O Federal Reserve interrompeu o ciclo de altas na taxa de juros americana depois de dez ajustes consecutivos, mas sinalizou que não se tratava do fim do aperto monetário. Qual a expectativa da Janus para os Fed Funds (juros dos EUA)?

Phil Gronniger – Muitas pessoas acreditavam que este seria finalmente o fim do ciclo, tanto que o mercado vem antecipando os cortes nos juros para o fim do ano. Mas nós não tínhamos a mesma visão. Não achávamos que o Fed iria de fato cortar, mas que seria pelo menos uma pausa.

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Agora ficou claro que ainda tem mais ajustes pela frente, com muitas projeções de que eles ainda façam altas de 50 pontos -base (bps). Na nossa visão, provavelmente será mais um único ajuste de 25 bps, esse é o nosso cenário base. Claro que ainda é preciso avaliar os dados que serão divulgados. Se a inflação provar ser mais rígida, isso pode os levar a fazer um aumento de 50 bps.

Desde que o aperto monetário começou, no ano passado, muito se fala sobre a possibilidade de uma recessão na economia americana. Ela ainda pode acontecer?

Gronniger – Achamos que é mais provável que seja um pouso suave. Temos visto uma economia ainda forte nos EUA e, embora certamente haja evidências de uma desaceleração, esperamos que isso aconteça aos poucos. Na nossa visão é provável que o Produto Interno Bruto (PIB) americano seja positivo para o restante do ano.

Mas, dito isto, se o Fed continuar em um caminho agressivo depois da pausa desta última reunião, eles correm um alto risco de cometer um erro de política monetária, porque esses aumentos de taxa geram um efeito grande e muito do que foi feito no ano passado ainda não atingiu a economia.

É essa expectativa de “pouso suave” que tem feito o mercado americano subir tanto nos últimos meses?

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Gronniger – O mercado está se saindo muito bem este ano, particularmente as ações de empresas de crescimento. Acredito que parte disso tem a ver com esse movimento de precificar cortes de juros para antes do final do ano. Mas agora o mercado começa a se inclinar para uma direção mais parecida com a nossa visão, de que o Fed não vai cortar em 2023.

Se eles permanecerem hawkish (expectativa de austeridade, com taxas de juros mais altas) após a próxima reunião, isso vai levar a mais volatilidade nos ativos de risco e nos spreads de crédito, com o mercado entendendo que estava mais otimista do que deveria.

A Janus Henderson já está preparando o portfólio para um cenário mais otimista?

Gronniger – Em nossas estratégias de alocação de ativos, começamos a adicionar mais no portfólio de ações desde o final do ano passado, porque os preços estavam muito atraentes. Então fomos aumentando a quantidade de patrimônio nessa parte da carteira, que oscila entre o mínimo de 35% e o máximo de 65% do portfólio total. No ano passado, essa parcela havia caído para cerca de 52%, fomos aumentando e hoje estamos com 60% do patrimônio em ações.

Consideramos uma posição neutra: 60% em ações, 40% em renda fixa. E temos sim uma visão otimista sobre os ganhos futuros a partir de agora.

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Desde o início do ano muitos especialistas têm recomendado títulos da renda fixa dos EUA, mas parece haver também um certo receio com a possibilidade de uma crise de crédito depois de tudo que aconteceu com os bancos americanos. Isso é um fator que precisa estar no radar?

Gronniger – Sei que no Brasil a taxa básica de juros é significativamente mais alta, mas não vimos taxas tão atraentes nos EUA desde antes da crise financeira global em 2008. Isso traz de volta o benefício da diversificação da renda fixa, que está muito atraente em relação ao que esteve na última década.

Acreditamos que os treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) podem ajudar a proteger contra a volatilidade ou crise nos ativos de risco. Mas no que diz respeito a uma crise de crédito, não estamos muito preocupados, a crise bancária foi uma crise de alguns bancos, não um problema sistêmico. Pode até haver outros problemas potenciais à medida que as taxas de juros aumentam um pouco mais, mas entendo que os reguladores fizeram um bom trabalho ao garantir que isso não se tornasse um problema mais amplo.

Onde estão as oportunidades da renda fixa?

Gronniger – No que diz respeito ao crédito corporativo, achamos que os valuations (valores dos ativos) estão bastante elevados, com spreads apertados inclusive nos títulos high yield (ativos de remuneração acima da média). Portanto, nossa alocação nesses ativos está no menor patamar da história da nossa estratégia.

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O grau de retorno dos spreads corporativos não está muito acima da curva e, se vamos passar por uma desaceleração econômica, achamos que deveríamos ser melhor compensados para o nível de risco do crédito corporativo. Por isso, desde o ano passado, fomos reduzindo a nossa alocação para adicionar mais securitização na carteira, pois sentimos que é uma classe de ativos que estava melhor precificada para esse cenário.

Preferimos as treasuries e títulos hipotecários como MBS (Mortage-Backed Secutiry), CMBS (Commercial Mortgage-Backed Security), ABS (Asset-Backed Security) e CLO (Collateralized Loan Obligation).

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