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Por que a BlackRock está aumentando a participação em empresas brasileiras?

Somente em 2023, a gestora fez pelo menos 35 alterações; veja os setores que entraram no foco da companhia

Por que a BlackRock está aumentando a participação em empresas brasileiras?
A maior gestora do mundo, BlackRock tem cerca de US$ 9 trilhões sob gestão. (Foto: REUTERS/Brendan McDermid
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  • Neste ano, o apetite por ações do setor de energia parece maior. No geral, a gestora ampliou os investimentos em pelo menos três companhias do setor
  • Por outro lado, dentro da amostra e com exceção dos casos de Americanas (AMER3) e Light (LIGT3), o maior desinvestimento relativo feito em uma companhia brasileira no período ocorreu nos papéis da Qualicorp (QUAL3)
  • Quando o assunto é renda fixa, a gestora vê grandes oportunidades nos títulos brasileiros e de mercados emergentes

Somente em 2023, a BlackRock fez pelo menos 35 mudanças de participação acionária em empresas brasileiras. A maior gestora do mundo, com cerca de US$ 9 trilhões sob gestão, não detalha suas movimentações, mas o E-Investidor levantou as operações recentes com base em informações publicadas nos sites de Relações com Investidores (RI), na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e divulgações na imprensa.

Neste ano, o apetite por ações do setor de energia parece maior. No geral, a gestora ampliou os investimentos em pelo menos três companhias do setor. Em 10 de fevereiro, a BlackRock anunciou a compra de 2,7 milhões de ações preferenciais da Energisa (ENGI11). Com a aquisição, o total de ações preferenciais saiu de 4,8% para 5,03%, o que elevou a participação total da gestora para 3,82%, segundo formulário de referência da CVM.

Em 11 de abril, foi a vez da Cemig, com ampliação de 9,91% para 10,02%. Por último, a Taesa (TAEE11) também recebeu investimentos da gestora em maio – que agora soma 2,22% do capital da companhia. Em paralelo, foram anunciados aumentos das fatias em empresas como a incorporadora Cyrela (CYRE3) e a siderúrgica Usiminas (USIM5), cujas participações totais saíram de 5,46% e 2,21%, no fim de 2022, para 10,19% e 5,23%, até 25 de maio.

Por outro lado, dentro da amostra e com exceção dos casos de Americanas (AMER3) e Light (LIGT3), em função da crise varejista, o maior desinvestimento relativo feito em uma companhia brasileira no período ocorreu nos papéis da Qualicorp (QUAL3). A fatia da gestora na companhia de saúde saiu de 10,02%, em 2022, para 7,51%, em 2023.

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Essa movimentação está em linha com os cenários traçados por Karina Saade, head da BlackRock no Brasil, e Axel Christensen, estrategista-chefe da BlackRock para a América Latina. A expectativa da gestora é de que o mercado local se beneficie da reabertura da China, o que poderia impulsionar papéis de exportadoras ligadas ao país oriental.

Alguns dos setores conhecidos por esse vínculo são mineradoras, frigoríficos e siderúrgicas, como a própria Usiminas, em que a BlackRock aumentou a participação.

“Uma China mais forte impulsiona os preços do minério de ferro e isso é muito bom para a Usiminas, que vai comercializar as suas 9 milhões de toneladas de minério de ferro por ano a preços maiores”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

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Ainda assim, a postura geral adotada pela gestora em relação à renda variável é de cuidado. “Achamos que os investidores devem permanecer defensivos. Temos sugerido um movimento de alocação mais para nomes de qualidade”, afirma Saade. “Devem permanecer mais cautelosos nesse momento em que temos uma série de incertezas em relação ao potencial de crescimento da economia.”

Investir em nomes de qualidade significa procurar empresas resilientes aos diversos cenários econômicos. “Ou seja, empresas adequadas para enfrentar um ambiente econômico e financeiro mais desafiador e com balanços mais fortes, fontes de renda diversificadas e estáveis e uma melhor capacidade de defender suas margens de uma inflação mais alta”, afirma Christensen.

Alguns exemplos globais citados pelo estrategista são as empresas de saúde, como Johnson & Johnson e United Health, além de bigtechs, como Microsoft e Apple. Já no Brasil, exemplos históricos de players com baixa correlação aos ciclos econômicos são justamente as companhias de energia, em que a BlackRock aumentou a exposição.

Quando o assunto é renda fixa, entretanto, o cenário muda. A gestora vê grandes oportunidades nos títulos brasileiros e de mercados emergentes, em função dos altos rendimentos. Somente no Brasil, o juro real está na casa dos 8% e até mesmo a queda da Selic poderia trazer ganhos, em especial nos prefixados.

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“Somos atraídos por títulos em moeda local em função dos atraentes rendimentos locais e moedas significativamente estáveis, como o peso mexicano e o real brasileiro”, diz Christensen. “A possibilidade de ver o rendimento dos títulos cair representa um vento favorável adicional, pois os títulos teriam ganhos de capital sem um grande impacto de taxas de câmbio.”

Pelas lentes da BlackRock

Essa cautela adicional na renda variável vem do cenário macro desafiador projetado pela BlackRock para 2023, no mercado interno e externo. No Brasil, a gestora ainda não vê espaço para que o Banco Central (BC) faça cortes nos juros. Atualmente, a taxa básica de juros Selic está em 13,75% ao ano, patamar que impõe dificuldades a companhias mais endividadas, que precisam financiar expansões ou que são mais dependentes do consumo.

“Não vemos o Banco Central saindo na frente com cortes de juros em relação a outros mercados”, afirma Saade. Dessas variáveis, uma das mais importantes é a questão fiscal. Apesar do arcabouço ter sido aprovado na Câmara, a gestora sinaliza ainda ter incertezas no radar. “Nós não temos previsões de cortes na Selic. Há uma série de variáveis que estamos monitorando para termos mais visibilidade.”

O tom menos otimista não é unanimidade no mercado. Rodrigo Knudsen, gestor de fundos da Empiricus Investimentos, vê a inflação dando indícios positivos de arrefecimento. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) desacelerou para 0,51% em maio, 0,06 ponto abaixo do registro em abril.

Com os preços sob controle, não será a reabertura da China o principal gatilho para impulsionar as ações, na visão de Knudsen, mas os possíveis cortes na Selic. “Já começamos a ver uma luz no fim do túnel e o arcabouço, por pior que seja, já é alguma coisa e nos dá segurança que o Brasil não virará uma Argentina”, afirma o gestor da Empiricus. “No segundo semestre, deve chegar a hora de o BC começar a baixar os juros e isso pode ser o gatilho para o mercado acionário. E a bolsa como um todo será beneficiada.”

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Knudsen também vê um cenário em que ações de menor capitalização terão mais espaço que as ações de valor. “A queda dos juros impulsiona as empresas mais alavancadas, como shoppings centers e varejistas, ações de consumo”, afirma.

Rodrigo Jolig, co-CEO e diretor de investimentos na Alphatree Capital, tem uma perspectiva parecida. A avaliação é que a tese de reabertura chinesa tem mais a ver com a volta do consumo na própria China do que um impacto em relação ao crescimento do país.

“É uma tese mais do chinês voltando a viajar, o que impulsionaria o mercado de petróleo e artigos de luxo em países da Europa, do que de um boom em relação à construção, que é o que beneficiaria o Brasil, que é produtor de aço e comida”, afirma Jolig. “Eu também acho que o Banco Central deva cortar juros no final do ano, mas até lá, devemos atrair um fluxo maior de renda fixa.”

Já em relação ao mercado externo, a BlackRock também não vê o Federal Reserve (Fed) cortando juros tão cedo. Mesmo que a quebra de alguns bancos regionais impacte a oferta de crédito, a exemplo do First Republic e Silicon Valley Bank, a inflação nos EUA segue persistentemente alta.

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“Acreditamos que os juros permanecem estáveis, mas em um patamar elevado, e que a crise bancária fique restrita ao segmento regional”, diz Saade. Isto significa que a renda fixa americana continuará atrativa e, consequentemente, roubando fluxo de mercados emergentes. “Só esperamos cortes nos juros pelo Fed em 2024. Estamos um pouco mais cautelosos do que o consenso.”

Se a projeção da BlackRock para a política monetária brasileira enfrenta resistência, a leitura sobre o Fed encontra convergência. “A crise bancária segue sendo monitorada, e ao que tudo indica não está totalmente precificada, somada a outros riscos no radar, o Fed deve manter a vigilância e a cautela até a inflação estar efetivamente controlada, enquanto isso se terá pouco margem para corte de juros no curto prazo”, ressalta Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, tem a mesma opinião. “Quando falamos de cortes de juros nos EUA, falamos de inflação controlada. Entretanto, a inflação vem cedendo, mas não na velocidade que se gostaria. Então, cortes pelo Fed podem ocorrer no final do ano, talvez”, diz. “A melhor oportunidade hoje é diversificar a carteira, fugir do risco de jurisdição, geografia, de ter toda a sua poupança atrelada a um único país. O ideal é aproveitar o investimento em renda fixa nos EUA”

O ativo mais interessante

No Brasil, a BlackRock ainda está longe de ser o maior player, mas a presença vem crescendo na esteira da maturação do mercado e dos investidores brasileiros. Desde maio de 2018, o patrimônio sob gestão on shore quadruplicou, saindo de R$ 5 bilhões para R$ 20,5 bilhões, segundo dados de Einar Rivero, head comercial do TradeMap.

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De acordo com Saade, já faz algum tempo que o mercado local se tornou “extremamente atraente” para a gestora - principalmente do ponto de vista de negócio. Evidência disso é que o braço brasileiro da companhia de Larry Fink ganhou musculatura nos últimos dois anos, período em que o número de funcionários no Brasil dobrou.

Essa força adicional vem para tentar captar o aumento da demanda por investimentos no País. De 2018 até 28 de abril deste ano, o número de investidores na Bolsa saiu de 813,9 mil para 6,1 milhões. E, segundo Saade, não foi só a quantidade que mudou.

O avanço da educação financeira no Brasil também está mudando a mentalidade dos investidores, que agora buscam mais diversificação - o que é uma oportunidade que a BlackRock pretende surfar. No final, os investidores locais são o ativo mais atraente do País para a gestora global.

“Os investidores estão olhando para uma gama mais ampla de classe de opções, misturando ativos em mercados públicos e privados, ativos locais com internacionais, e isso é muito interessante porque podemos aconselhá-los e gerir os ativos deles de forma mais integrada”, reforça Saade.

Atualmente, a BlackRock tem 140 BDRs de ETFs listados no mercado brasileiro. A gestora também implementou por aqui a Aladdin, plataforma de gerenciamento de risco e carteiras da gestão global, neste esforço de ampliar e consolidar a presença no Brasil.

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