- Para o mercado, LCD não ameaça a popularidade das LCIs e LCAs
- LCD oferece um retorno esperado superior aos títulos públicos, mas inferior às debêntures
- Liquidez da LCD pode ser limitada inicialmente devido à falta de histórico e à demanda incerta
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda não obteve as autorizações regulatórias necessárias para o processo de registro e liquidação da Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD), três meses depois do lançamento do novo título. Até o momento, diz a instituição, não há previsão para a liberação desses documentos e o início das ofertas para esse tipo de investimento. Lançada em 26 de julho último pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – e aprovada em agosto deste ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) –, a emissão do novo título, voltado exclusivamente para bancos de desenvolvimento, tem como objetivo complementar as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCI).
Ao E-Investidor, o banco afirma que acompanha as condições de mercado e que vai iniciar as operações assim que estiver apto. Especialistas esperam que até o fim deste ano haja uma maior movimentação na oferta do produto – de acordo com o Broadcast, o BNDES estava preparado para emitir o novo título a partir de setembro –, direcionado a investidores que buscam alternativas de baixo risco e rendimento estável. Bancos múltiplos, mesmo que tenham carteiras de desenvolvimento, não terão essa permissão. Com o início da negociação próximo, a reportagem explica para o investidor como a LCD vai funcionar e para quem é mais adequada.
Leia também
Os analistas financeiros dizem que a LCD se assemelha bastante aos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e às LCA e às LCI em diversos aspectos, como a isenção de Imposto de Renda (IR) para pessoas físicas e o prazo mínimo de vencimento de 12 meses. A proposta é que o título de crédito privado financie projetos de desenvolvimento econômico em setores como infraestrutura, agronegócio e energia para o que os analistas chamam de “potente gerador de empregos”.
Quanto à atratividade da LCD em comparação com outros ativos de renda fixa no cenário atual, a expectativa do governo, de acordo com o especialista em renda fixa da Manchester Investimentos, Santiago Schmitt, é de que a LCD não concorra diretamente com LCAs e LCIs, principalmente devido à diferença no volume de emissões. “As LCIs e LCAs são emitidas por uma vasta gama de bancos, enquanto as LCDs terão um limite de captação de até R$ 10 bilhões por banco de desenvolvimento. O volume total de LCAs e LCIs já ultrapassa R$ 800 bilhões em 2024. Dessa forma, a LCD oferece aos investidores mais uma alternativa interessante, permitindo maior diversificação, mas provavelmente com um alcance menor em termos de emissões e emissores”, explica.
Publicidade
Mas o professor e cientista econômico da Universidade Tiradentes (Unit), Rodrigo Rocha, diz que a expectativa é de que a remuneração das LCDs supere a dos títulos públicos, mas fique abaixo das debêntures, o que as torna competitivas no atual cenário de renda fixa. “É aconselhável utilizá-las como um complemento dentro de um portfólio diversificado. Alocar uma parcela significativa apenas em LCDs pode aumentar a exposição ao risco associado à liquidez e às incertezas”, observa.
O que Rocha quer dizer é que, como todo título de dívida, a principal preocupação do investidor fica com o risco de crédito. “O perfil de risco de crédito é relativamente menor para as LCDs, uma vez que os bancos de desenvolvimento, em sua maioria, são instituições públicas e, portanto, têm uma maior capitalização e estabilidade financeira”, diz o líder de renda fixa da Faz Capital, Filipe Arend.
LCD: por que vale a pena?
A LCD pode ser emitida nas modalidades pré-fixada, pós-fixada ou híbrida, sendo influenciada diretamente pelas condições econômicas e pela expectativa de juros. Arend analisa que o contexto de liquidez é uma consideração crítica. Isso porque, embora se espere que as LCDs ofereçam maior facilidade de negociação devido à solidez dos emissores, conforme ele, a possibilidade de precisar vender o ativo antes do vencimento sempre existe e pode levar a desafios se o mercado não tiver compradores disponíveis. “Por isso, é aconselhável que os investidores considerem um prazo mínimo de 12 meses para essas emissões, ajudando a garantir maior estabilidade e potencial de retorno”, aconselha.
Para a planejadora financeira do C6 Bank, Larissa Frias, atualmente, com a Selic lá em cima (hoje a 10,75% ao ano) e previsões de novos aumentos até o fim do ano, os títulos pós-fixados –também previstos para a LCD – tendem a ser mais atraentes no curto prazo porque acompanham as mudanças na taxa básica de juros. “O que o investidor precisa ao se organizar no aspecto de investimento para renda fixa é sempre entender o curto, o médio e o longo prazos. Para o curto prazo, é recomendável optar por ativos pós-fixados, que acompanham as taxas de juros. No médio prazo, pode ser interessante escolher títulos pré-fixados, que oferecem um prêmio de risco mais atrativo. Essa combinação ajuda a maximizar os retornos e a gerenciar os riscos de forma eficiente”, diz.
Para quem a LCD é recomendada?
Esse título pode ser uma opção interessante para investidores conservadores que buscam diversificar suas carteiras, especialmente aqueles que têm interesse em apoiar iniciativas de desenvolvimento sustentável, orientam os especialistas.
A LCD é indicada para quem busca previsibilidade e segurança em suas aplicações. Devido à liquidez restrita, está mais adequada para aqueles que podem manter o capital investido por prazos mais longos. Trata-se de um ativo que se apresenta como uma alternativa para quem deseja diversificar a carteira e contribuir com o desenvolvimento de setores estratégicos da economia.
Frias diz que, para escolher entre LCI, LCA, LCD e CDB, por exemplo, o investidor deve fazer uma análise comparativa entre as opções de investimentos isentos de impostos. Apesar de a isenção ser vantajosa, segundo ela, nem sempre o retorno bruto de uma letra de crédito será superior a alternativas tributadas. O cálculo da rentabilidade líquida, levando em conta os prazos e a inflação, se torna fundamental para determinar a real atratividade do produto.
O E-Investidor explica a LCD
A Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD) é um título de renda fixa que pode ser emitido por bancos de desenvolvimento, como o BNDES, destinado a financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento econômico. Ela é recomendada para investidores conservadores que buscam segurança e rentabilidade atrativa. O dinheiro captado, diz o governo, vai para o fomento de iniciativas que promovem o crescimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população.
Riscos da LCD
Entretanto, como qualquer investimento, a LCD também apresenta riscos que os investidores devem considerar:
- Liquidez: sendo um título novo, pode haver problemas de liquidez inicial, especialmente se a emissão não for significativa ou se a demanda for baixa;
- Incerteza: a falta de histórico pode gerar desconfiança, afetando a atratividade do investimento;
- Dependência do emissor: a segurança do investimento está diretamente ligada ao desempenho dos bancos emissores, o que pode ser um fator limitante em períodos de instabilidade econômica.
Estratégias do investidor investir em LCD
Para mitigar esses riscos, especialmente para investidores que não têm um conhecimento profundo do mercado financeiro, algumas estratégias podem ser adotadas, segundo Rodrigo Rocha, professor e cientista econômico da Universidade Tiradentes (Unit):
- Acompanhamento de notícias: manter-se informado sobre regulamentações e emissões para tomar decisões fundamentadas;
- Avaliação da liquidez: verificar a facilidade de negociação das ofertas iniciais antes de investir, garantindo que haja um mercado secundário ativo para o título;
- Diversificação: não alocar uma parcela excessiva do capital em Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD) e diversificar as aplicações entre diferentes ativos.