O que este conteúdo fez por você?
- O E-Investidor ouviu especialistas do BS2, Franklin Templeton, Trópico, UBS e Western sobre o cenário de 2022
- O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede o ritmo do aumento de preços no País, atingiu os 9,26% até novembro
- Principal índice acionário, o Ibovespa chegou a alcançar máxima em junho, mas não conseguiu manter o mesmo patamar e segue espiral de queda
(Jenne Andrade e Rebeca Soares) — Mês após mês, o grande otimismo do mercado visto no início de 2021 foi desmoronando. Após chegar ao patamar recorde de 131.190 mil pontos em junho e acumular 7% de alta no 1º semestre, o Ibovespa entrou em uma espiral de queda e fechou o ano passado com retorno de -11,9%. A derrocada foi embalada por inflação acima do esperado e juros altos, assim como menor expectativa de crescimento econômico e risco fiscal.
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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede o ritmo do aumento de preços no País, atingiu os 9,26% até novembro. Para acompanhar esse avanço, o Banco Central acelerou a subida dos juros, que passaram de 2%, em março de 2021, para os atuais 9,25%, e devem chegar aos dois dígitos até o fim de 2022, segundo o Boletim Focus.
A inversão na Selic, que da mínima histórica chegou ao patamar mais alto já registrado nos últimos quatro anos, empurrou muitos investidores para a renda fixa. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos de renda fixa captaram R$ R$ 275,2 bilhões de janeiro até novembro do ano passado, enquanto os fundos de ações registraram saída de R$ 426,4 milhões no período. Se houver mais saídas em dezembro, será o primeiro ano negativo para a classe de ações desde 2016.
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Paralelamente, as perspectivas para o PIB diminuíram de 3,41%, no primeiro Focus de 2021, para 0,36%. Algumas casas, como JP Morgan, já pensam em uma possível recessão à frente, enquanto o Austing Rating coroou a Bolsa brasileira como a segunda pior de 2021, perdendo apenas para a da Venezuela.
Não é o fim do Brasil
Os dados acima mostram o cenário complexo em que a renda variável inicia 2022: com um Ibovespa bastante descolado dos pares estrangeiros, perspectivas de Selic nas alturas e, para completar, eleições presidenciais que tendem a ser bastante polarizadas.
Mas não é o fim do mundo, tampouco do Brasil. De acordo com cinco grandes especialistas em investimentos consultados pelo E-Investidor, existem muitas oportunidades na B3 e a volatilidade provocada pela disputa política pode culminar em uma assimetria positiva – em vez de negativa.
O fator de maior atenção e incerteza segue com a nova cepa do coronavírus Ômicron, que promete ser mais transmissível que as demais. Além disso, a inflação internacional e o fim dos estímulos do governo norte-americano na economia do País também entram no radar.
Leia as dicas de Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset; Marcus Vinicius e Frederico Sampaio, CEO e CIO, respectivamente, da Franklin Templeton no Brasil; Sérgio Machado, gestor da Trópico Investimentos; Ronaldo Patah, gestor da UBS, e Marc Forster, head das operações da Western Asset no Brasil.
Marcus Gonçalves, head da Franklin no Brasil, e Frederico Sampaio, CIO
O CIO da Franklin Templeton no Brasil, Frederico Sampaio, aponta que houve uma antecipação da incerteza para 2022. “A falta de visibilidade que 2022 deveria dar sobre os anos posteriores é o grande desafio porque o cenário eleitoral ainda está profundamente desconhecido”, aponta.
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Sampaio ressalta ainda que o ano deve ser marcado por uma assimetria positiva, ou seja, o mercado já admitiu um cenário ruim e, caso surja algo mais positivo, os retornos devem ser significativos.
“Quando as incertezas virarem convicções, vejo que a Bolsa pode surpreender bem já que houve essa antecipação”, afirma. Além disso, o CIO reitera a atratividade dos investimentos atrelados à taxa de juros.
O especialista da Franklin Templeton complementa que, mesmo com olhar modesto para o cenário do ano que vem, empresas da Bolsa ligadas a atividades domésticas podem gerar surpresas positivas. “Varejo, saúde, entre tantas outras estão subavaliadas”, indica.
De acordo com Gonçalves, os investidores nacionais também devem buscar conhecimento sobre o cenário no exterior, inclusive, para ter posições na carteira em mercados internacionais. “Acreditamos que muitas empresas de tecnologia dos Estados Unidos ainda têm bastante espaço para níveis de valorização ainda maiores. Além disso, o movimento de aumento dos juros pelo Fed não deve preocupar tanto porque vai ser gradativo”, destaca.
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Ele ainda enfatiza que os investidores devem compreender que a volatilidade na economia norte-americana vai estar presente ao longo do ano, especialmente por conta de movimentos geopolíticos e com eleições no parlamento ao longo do ano. Apesar disso, Gonçalves reitera que não visualiza um rompimento da tendência de apreciação das ações de empresas de tecnologia, especialmente aquelas ligadas ao aumento de produtividade.
Gonçalves destaca que um novo tipo de ativo que deve tomar espaço em 2022 são os investimentos alternativos como fundos direcionados à energia renovável, e fundos com ativos de empresas de tecnologia com exposição simultânea de longo e curto prazos (long & short). Além disso, a pauta de ESG (ambiental, social e governança) também deve continuar crescendo.
“A renda fixa no exterior deve ser mais impactada por causa do movimento de juros, mas a bolsa americana ainda está no meio de um ciclo. Por isso, temos a visão positiva para crédito corporativo, bolsa e ativos que combinam o longo com o curto prazo”, afirma.
Sérgio Machado, sócio-fundador e gestor da Trópico SF2
“Estamos andando em um terreno muito pantanoso”, é o que Sérgio Machado, sócio-fundador e gestor da Trópico SF2, define sobre 2022 por conta não só da incerteza presidencial como pelas mudanças orçamentárias que não foram completamente precificadas ainda pelo mercado.
Apesar disso, ele destaca que, justamente por ser ano eleitoral, o Congresso não consegue fazer tanta ‘estripulia’. Entretanto, Machado indica que, caso o impacto global da economia chegue ao Brasil, o País pode sofrer mais que os pares. “Temos um pecado original de não ter feito a nossa parte, o que nos deixa mais sujeitos a sofrer um eventual ajuste de preços no mercado internacional”, afirma.
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O gestor da Trópico ressalta que acompanhar o panorama é essencial mesmo para investidores de longo prazo, uma vez que as posições devem ser revistas constantemente. Na renda fixa, influenciada pelo cenário macro, ele aponta ativos atrelados à Selic e ao IPCA como grandes atrativos para o período.
Pensando em ativos de renda variável, Machado indica que “não é hora de investidor pequeno sair procurando ações”. Como solução, ele indica que os investidores indivduais busquem por fundos de ações ou multimercados geridos por profissionais. “Nada está tão barato que não possa cair mais”, comenta Machado.
Ronaldo Patah, diretor executivo da UBS
Em primeiro lugar, Ronaldo Patah, diretor executivo da UBS, destaca que o ano será carregado de volatilidade como nos anos eleitorais anteriores. À medida que o cenário eleitoral fique mais claro, o mercado pode atuar de maneiras diferentes ao esperado. Pensando no contexto macroeconômico, Patah indica que vai ser mais um ano difícil por conta da perspectiva de alta da inflação e de baixa atividade econômica.
“O fato de ser um ano difícil, não necessariamente vai ser ruim. Toda crise gera oportunidades”, indica Patah. Ele destaca que 2022 deve ser marcado por uma oportunidade para quem tem perfil de risco pelo menos moderado no mercado de renda fixa.
Por outro lado, ele sugere que ativos da renda variável como ações e fundos multimercados devam ser colocados em ‘banho maria’.
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“Lá fora estamos otimista com Bolsa e preocupados com renda fixa, o que é ruim por não saber o quanto ele vai subir e quando ele vai parar. No Brasil, o BC já sinaliza alguma perspectiva de quando vai parar, por volta do fim do terceiro trimestre”, afirma.
O diretor da UBS ainda complementa que, enquanto o cenário acionário no Brasil é preocupante, as ações listadas nas bolsas norte-americanas devem continuar sendo boas opções para a carteira. “É sempre essencial ter uma parcela do portfólio em mercados internacionais. Especialmente ano que vem, com cenário positivo para esses ativos, vamos ver um risco de desvalorização do real por conta do impacto político”, complementa.
Patah aponta que uma das grandes lições que 2021 deixou para 2022 é a diversificação, não só entre classes, mas em regiões. “O que ajudou a proteger o patrimônio dos nossos clientes neste ano foi o percentual em ativos globais, inclusive com o impulso do otimismo por causa da vacinação no segundo semestre”, afirma.
Segundo ele, no início do ano, a maioria das projeções nacionais estavam otimistas, mas nada aconteceu, fazendo com que o destaque tenha sido ativos ligados a mercados externos.
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“Vale ressaltar que dentro de ativos internacionais, também há muito espaço para diversificação. Por exemplo, havíamos recomendado bastante os ativos ligados à China, mas o governo do país passou a intervir nos mercados como o imobiliário e o de tecnologia”, diz.
Concluindo, ele salienta que isso não significa que os investidores devem vender todos os ativos para aplicar nos que estão mais promissores. É necessário avaliar e respeitar o perfil de investimento e manter a diversificação em qualquer um dos cenários.
Marc Forster, head das operações da Western Asset no Brasil
Além do impacto do cenário de eleições presidenciais que deve marcar 2022, Marc Forster, head das operações da Western Asset no Brasil, pontua a preocupação com o futuro da inflação e do teto de gastos como outras variáveis que devem guiar os investimentos.
Olhando para o exterior, Foster aponta que a inflação foi uma surpresa para o mundo inteiro em 2021. “O Fed estava muito vocal sobre perseguir uma inflação média de torno de 2%, mas mesmo que isso acontecesse, o mercado não deveria ler que significa um potencial aumento de juros no curto prazo ou uma redução drástica nos estímulos”, explica.
No entanto, Foster indica que o aceleramento da inflação fez com que o mercado colocasse ainda mais dúvidas sobre o movimento do Fed. Para ele, um cenário de diminuição de inflação aconteceria com a regularização das cadeias globais tiraria ou diminuiria os riscos em 2022, mas não há indicação para isso.
O head da Western exemplifica que em dezembro de 2019, falava-se que 2020 seria um ano de crescimento sem preocupações com inflação, mas a pandemia mudou tudo. Já em dezembro de 2020, era avaliado que a inflação não seria uma preocupação porque o covid-19 deixou a economia para baixo.
“Isso eu falo como ilustração de que o cenário existe para errarmos. Por isso, não devemos fazer movimentos bruscos de investimento com base em panoramas. Devemos estar atentos aos riscos e entender como podemos fazer ajustes pontuais”, explica.
Para 2022, Foster ressalta que a perspectiva de aumento de juros até cerca de 11,5% no final do ciclo. Com esse pano de fundo, ele indica que a renda fixa deve ser mais atrativa. Ele ainda aponta as NTN-B, sigla para Notas do Tesouro Nacional de série B, como boas opções pensando em ganhos com juros reais.
Por outro lado, se o investidor não possui exposição diversificada e errar o cenário, como nos anos anteriores, os danos serão grandes. “O que a gente encoraja é que o investidor continue tendo em mente a importância de diversificar os investimentos tanto localmente, quanto internacionalmente. Em qualquer momento, o Brasil pode ter uma crise própria”, complementa.
Focando em exposição no exterior, Foster indica ativos como renda fixa e renda variável internacional, além de fundos cambiais.
Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset
Olhando para a renda variável, Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2, acredita que deve ser a classe mais polêmica para o ano. Segundo ele, a Bolsa brasileira está barata inclusive se comparada com outros países emergentes com perfil similar ao brasileiro.
Apesar disso, o baixo preço dos ativos pode ser traduzido como oportunidade. “Para quem deseja um horizonte de investimento a longo prazo e tem perfil adequado para exposição à renda variável, agora é uma hora muito boa para comprar Bolsa”, destaca.
Ele ressalta que o ‘problema’ é que, embora esteja barata, pode continuar com o preço baixo por muito mais tempo, possibilidade que o investidor não pode ignorar. O especialista aponta ainda que a Bolsa pode continuar barata se faltar algum gatilho que ajude a alavancar ao longo do ano.
Por outro lado, Orefice ressalta que a renda fixa está mais atrativa e deve continuar assim por cerca de três a cinco anos. Por conta disso, ele reforça a indicação do aumento de exposição na classe.
“Avaliando o que temos de cenário para 2022, com todas as incertezas eleitorais que devem ser aumentadas à medida que o tom de campanha tome conta do noticiário, a renda fixa ainda pode ser mais atrativa. Além disso, a taxa de juros já está alta e deve continuar aumentando”, indica.