- No mercado secundário de renda fixa, os investidores que não podem carregar os títulos adquiridos até a data de vencimento repassam seus investimentos para outros compradores
- Como não é vantajoso para uma corretora segurar um título de renda fixa, ela recoloca o ativo no mercado com taxas mais altas, para conseguir repassá-lo mais rápido
- A oportunidade do mercado secundário é comprar títulos de renda fixa, com prazos de vencimento mais curtos e uma possibilidade de retorno maior. Veja a diferença nos rendimentos
Imagine a seguinte situação: você comprou um carro novo, direto na concessionária, mas em seguida teve um problema financeiro e precisou colocar o veículo à venda. A concessionária não faz recompra de automóvel e, na pressa de recuperar o dinheiro, você se vê obrigado a abaixar o preço do carro, ainda seminovo, para vendê-lo o mais rápido possível para outro comprador. No mundo dos investimentos, essas transações também acontecem.
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O exemplo da venda de carros é bastante comum para explicar o funcionamento do mercado secundário de renda fixa. Nele, os investidores que não podem carregar os títulos adquiridos até a data de vencimento repassam seus investimentos para outros compradores.
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“O mercado secundário é uma consequência do primário, para atender a necessidade de investir e desinvestir dos agentes financeiros. Se alguém quiser se desfazer de um título antes do vencimento, ele precisa encontrar alguém que queira comprar; e esse encontro acontece no mercado secundário”, explica Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores.
A saída de um título de renda fixa antes do prazo estabelecido não é tão interessante para o investidor. Isso porque, ao antecipar o vencimento, o dono do papel sofre com o spread cobrado pela corretora, uma espécie de multa pelo não cumprimento do contrato. Esses valores são repassados pela corretora ao recolocar o título no mercado secundário.
“Para a corretora não faz sentido nenhum ficar com um CDB (Certificado de Depósito Bancário) que não é seu, por exemplo, em sua tesouraria. Por isso ela repassa o ativo com taxas mais altas, para conseguir fazer isso mais rápido”, pontua Jaqueline Benevides, analista de renda fixa do TC Matrix.
E é aí que mora a oportunidade do mercado secundário: comprar títulos de renda fixa, com prazos de vencimento mais curtos e uma possibilidade de retorno maior. Tudo isso com um grau de risco semelhante, visto que aqueles papéis são os mesmos do mercado primário, diz Benevides.
A pedido do E-Investidor, a analista do TC fez uma simulação comparando a rentabilidade de um investimento de R$ 1 mil no Tesouro Selic, em um título pós-fixado do mercado primário e no secundário, de acordo com as taxas disponibilizadas nas corretoras. Veja:
Tesouro Selic | Mercado Primário | Mercado Secundário | |
100% do CDI | 118% do CDI | 135% do CDI | |
Rentabilidade | 13,65% | 16,30% | 18,85% |
Final de 1 ano (252 dias) |
R$ 1.136,50 | R$ 1.162,97 | R$ 1.188,54 |
*Fonte: Jaqueline Benevides, analista de renda fixa do TC
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No mercado primário, o investidor encontra nas corretoras taxas de 118% do CDI com vencimento para 2026; no secundário, não só a rentabilidade é maior, mas os prazos de vencimento são menores.
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“Veja quanto tempo o investidor terá que prender seu dinheiro nesse título do mercado primário. Quando a Selic começar a baixar, esse título não será mais tão atrativo, e mesmo assim só vencerá em 2026”, destaca Benevides. “Já no mercado secundário, os investidores encontram taxas de 130% do CDI com vencimento em um ano. Como esse ativo já ficou na mão de outro investidor, seu vencimento é mais curto e, com isso, o risco de ficar preso no ativo por tanto tempo é menor”.
Quais são os riscos?
O investimento no mercado secundário é feito por meio das corretoras e os papéis são disponibilizados durante a abertura do mercado junto com os títulos do primário. A quantidade de opções pode variar de acordo com o tamanho e o números de cotistas da instituição financeira escolhida.
Os preços dos ativos funcionam por marcação a mercado, a depender da demanda e oferta dos títulos. Por isso, podem ter uma volatilidade maior do que os títulos comprados direto com o emissor.
“O mercado secundário funciona como um parâmetro para olhar que a que nível o investidor sairia, se quisesse ter liquidez hoje – e pode ser tão vantajoso quanto prejudicial. Em um movimento de estresse no mercado, o investidor pode olhar a posição dele e ver que está deixando de ganhar dinheiro ou até perdendo”, diz Lucas Visconti, operador de renda fixa da RB Investimentos.
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Os outros riscos principais dependem, assim como na renda fixa tradicional, do tipo de papel e emissor do título. Antes de investir ou disponibilizar seu ativo no mercado secundário, o investidor precisa se atentar à liquidez, que pode variar junto com a oferta e demanda por aquele investimento.
Já no caso das letras de crédito privadas, é importante ficar atento à capacidade de pagamento da instituição emissora.
“O Tesouro Direto tem um risco baixíssimo, tanto de liquidez quanto de crédito, porque caso o investidor decida se desfazer desse investimento o Tesouro Nacional garante a recompra do título. Falando de risco de crédito, quando o emissor é o governo, o investidor tem a garantia soberana”, explica Ricardo Jorge, da Quantzed.